quinta-feira, 11 de junho de 2020

Auschwitz vista pelo livro "A bibliotecária de Auschwitz" de Antonio Iturbe..

A bibliotecária de Auschwitz, de Antonio G. Iturbe, apesar do tema trágico, é um livro maravilhoso. Em nenhum momento, por um minuto sequer, os personagens envolvidos perdem a esperança e, a ela, somam a força de vontade e a determinação. Dessa forma, sobraram alguns raros sobreviventes para contar essa história de horrores. Na leitura do livro não tem como não se apaixonar pela menina Dita, a zelosa bibliotecária, encarregada de cuidar dos apenas oito livros que a compunham. Havia ainda uma meia dúzia de livros vivos. Ela era prisioneira do bloco 31, o bloco das crianças de Auschwitz-Birkenau, o bloco familiar. Dou o link da resenha do livro. Deixo a resenha do livro.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/06/a-bibliotecaria-de-auschwitz-antonio-g.html
A bibliotecária de Auschwitz. Uma rara história de humanidade, de amor e zelo pela leitura e pelos livros.

Trago comigo, também, desde que o li em 2008, o livro de Primo Levi, Os afogados e os sobreviventes.  Um livro profundamente introspectivo, de reflexões profundas. Nesse post quero apenas  mostrar que os alemães nem sequer  se preocupavam com a questão de que os fatos ocorridos no campo viessem a público. Para isso tinham um dupla convicção: primeiro porque ninguém sobreviveria e, segundo - se contassem, ninguém acreditaria. Vejamos o relato, já no prefácio do livro: "Seja qual for o fim desta guerra, a guerra contra vocês nós já ganhamos; ninguém restará para dar testemunho, mas, mesmo que alguém escape, o mundo não lhe dará crédito. Talvez haja suspeitas, discussões, investigações de historiadores, mas não haverá certezas, porque destruiremos as provas junto com vocês. E ainda que fiquem algumas provas e sobreviva alguém, as pessoas dirão que os fatos narrados são tão monstruosos que não merecem confiança: dirão que são exageros da propaganda aliada e acreditarão em nós, que negaremos tudo, e não em vocês. Nós é que ditaremos a história dos Lager". 

As "concessões" ocorridas no Bloco 31, o das crianças, de Auschwitz-Birkenau, o bloco familiar, foram devidas ao temor de uma fiscalização por parte da Cruz Vermelha e a divulgação de seu relatório junto ao mundo ocidental. O mundo passou a conhecer Auschwitz em função dos relatos de fugitivos e de alguns raros sobreviventes. Muitos ali se "afogaram". Numa rápida consulta, creio que o número mais confiável é o de que ali morreram entre 1,3 e 1,5 milhão de pessoas, entre execuções, fome, exaustão por trabalho e doenças. O objetivo desse post não é o de dar um relato amplo sobre o campo, mas vê-lo a partir do livro de Iturbe. O faço a partir  de dois apêndices: Etapa final e que fim levaram. Eis o relato:

"Auschwitz I tem um estacionamento para ônibus interurbanos e uma entrada como a de um museu. Fora um antigo quartel do exército polonês, e suas agradáveis construções retangulares de ladrilho, separadas por amplas avenidas pavimentadas em que os passarinhos ciscam, não mostram à primeira vista os sinais do horror. Há, porém, vários pavilhões em que se pode entrar. Um deles foi preparado como se fosse um aquário: atravessa-se um corredor escuro e de um lado e de outro há imensos aquários iluminados. Lá dentro há sapatos gastos, montões, milhares deles. Duas toneladas de cabelo humano que formam um mar tenebroso. Milhares de óculos quebrados, quase todos redondos, como os do professor Morgenstern.

Em Auschwitz II-Birkenau, a três quilômetros de distância, ficava o campo familiar BIIb. Hoje em dia, resta a fantasmagórica torre de vigilância da entrada do Lager, com um túnel na base, para que, a partir de 1944, a ferrovia fosse até lá. Os barracões originais foram queimados depois da guerra. Há alguns barracões reconstruídos em que se pode entrar. São estábulos de cavalos que até limpos e ventilados se mostram sombrios. Depois dessa primeira linha de barracões no que seria o campo de quarentena, abre-se um imenso descampado que era ocupado pelo resto dos campos. Para ver o lugar ocupado na época pelo BIIb, é preciso deixar a rota das visitas guiadas, que não passa das réplicas dos barracões da primeira fileira, e margear todo o perímetro. É preciso ficar sozinho. Caminhar sozinho por Auschwitz-Birkenau significa suportar um vento muito frio que traz os ecos das vozes dos que ficaram ali para sempre e fazem parte do barro que pisamos. Do BIIb, resta apenas a porta metálica de acesso ao campo e uma imensa solidão onde mal cresce o mato. Restam apenas cascalhos, vento e silêncio. Um lugar agradável ou espectral, dependendo dos olhos que o veem". Vale lembrar que no Bloco 31 ficavam as crianças, filhos dos judeus de Praga. Os pais ocupavam outros blocos, separados em masculinos e femininos. Encontros eram permitidos. Antes de virem para Auscwitz-Birkenau, já haviam sido confinados no gueto de Terezín, para onde foram levados, depois de serem expulsos de Praga. É sobre eles que versa o livro.

Da parte "que fim levaram", vou dar apenas os nomes dos personagens nazistas. Ou eram chefes ou personagens do romance/ficção: Elisabeth Volkenrath: Foi da SS. Ela trabalhou em Auschwitz e depois exerceu cargos de chefia em Bergen-Belsen. Rudol Höss: Foi o comandante do campo. Os poloneses o enforcaram em Auschwitz I, onde o patíbulo de seu enforcamento pode ser visitado. Adolf Eichman: Foi um dos ideólogos da chamada "Solução Final", a da execução dos judeus. Sua história é conhecida pelo livro de Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém. Hans Schwarzhuber: Foi o comandante do bloco masculino de Auschwitz-Birkenau. Depois de julgado, morreu enforcado. Joseph Mengele: O famoso doutor morte, cuja história também é mais conhecida. O livro também dá o destino dos sobreviventes do Bloco familiar de Auschwitz-Birkenau.

Os rápidos olhares sobre Auschwitz também falam de Auschwitz III.  Todo o complexo de Auschwitz, seguramente é um dos lugares mais sombrios do mundo, símbolo maior da barbárie, da imbecilidade e insensatez humana. Se localiza ao sul da Polônia, em Oswiecim, nas proximidades de Cracóvia.



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