quarta-feira, 24 de junho de 2020

Cyrano de Bergerac. Edmond de Rostand.

Cheguei a Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, por várias citações encontradas no livro do ítalo argentino José Ingenieros, O homem medícre. Pelo mesmo livro também cheguei a Tartufo de Molière, que ainda não li. Cyrano de Bergerac é uma obra do romantismo francês, já em tempos de realismo, mas que trouxe grande consagração ao seu autor. Cyrano é um personagem real, retratado pelo olhar de Rostand. Vejamos então primeiramente quem foi o Cyrano.


Ele nasceu em 1619 e morreu em 1655. Foi escritor e soldado, constantemente envolvido em duelos, mais de mil, nos contam as más línguas. Por se envolver nesses duelos perdeu a mesada que lhe era dada pelo seu pai. Era contemporâneo de Molière (1622-1673). Cyrano se tornou famoso pelo seu nariz, que era enorme. Esse fato desarticulou a sua vida amorosa e é peça fundamental para a compreensão da obra de Rostand.

 Já o autor, Edmond Rostand nasceu em 1868 e morreu em 1918 e, como já vimos, pertenceu à escola do romantismo. A peça estreou em Paris, em dezembro de 1897, com enorme sucesso de público. Ela pode ser vista como uma comédia heroica, meio trágica. A peça se desenvolve em cinco atos. O seu sucesso no teatro também a levou ao cinema.

A síntese da peça está na contracapa do livro da edição da Martin Claret, que tem tradução de Regina Célia de Oliveira. Lemos o seguinte: "Cyrano de Bergerac, a imortal criação de Rostand, é a história do herói romântico, de nobres sentimentos, mas complexado por sua feia figura, que por isso renuncia ao amor da bela Roxane, e ajuda um amigo, Christian, a conquistá-la por meio das palavras, ensinando-lhe poesia, frases de espírito, e até falando por este, escondido na escuridão".

A peça se desenvolve em cinco atos: No primeiro temos a representação do Palácio de Bourgogne, no segundo, a rotisseria dos poetas (do cozinheiro e confeiteiro Ragueneau), no terceiro, o beijo de Roxane (conseguido ou arrancado através de doces palavras que Cyrano produziu para o seu amigo Christian), o quarto, os cadetes da Gasconha (Christian era um deles) e o quinto, A Gazeta de Cyrano, onde se desenha o final da peça, dando o destino aos diferentes personagens.

Do quinto ato selecionei três passagens, que nos dão uma bela ideia da peça. A primeira é um réplica de Cyrano, a Roxane quando ela se diz culpada pela sua infelicidade.

"Tu? ... não digas isso!
Eu desconhecia a doçura feminina. Minha mãe
Não me achou bonito. Irmã, não tive.
Mais tarde, o olhar de escárnio de uma amante temi.
Devo-te, no mínimo, por ter tido uma amiga.
Graças a ti, um vestido passou em minha vida (Página 262).

O escárnio de uma amante era em função da sua feiura, do tamanho do seu nariz. O segunda passagem está na página anterior quando Roxane já sabe que os versos e as cartas não eram de Christian mas de Cyrano e em que um outro personagem lhe diz que até Molière o havia plagiado. A estes elogios de brilhantismo ele reage:

"Sim, minha vida
Foi ser aquele que sopra - e que olvidam!
A Roxane:
Lembras da noite em que Christian te falava
Sob o balcão? Pois então, toda minha vida é aquilo:
Enquanto oculto pelo escuro eu permanecia,
o beijo da glória era o outro que colhia!
Justiça seja feita e, às portas de minha morte, reconheço:
Tem inteligência, Molière, e Christian era belo"! (Página 261).

A terceira passagem é o delírio final de Cyrano:

"Acho que ela repara...
Em meu nariz essa perversa ousa reparar!
Ele ergue a espada
O que dizes?... Que é inútil?... Sei disso!
Mas não se luta na esperança do êxito!
Não! não! quando é inútil é ainda mais belo!
- Quem são todos esses? São quase mil?
Ah! eu os reconheço, meus velhos inimigos!
A mentira,
Golpeia o ar com a espada
Que eu faça um pacto?
Jamais, jamais! - Ah! Ignorância, aí estás!
- Sei muito bem que no fim hão de vencer-me;
Pouco importa: lutarei! lutarei! lutarei!" (Página 265). 

Com certeza, um tributo à sensibilidade, ao poder da comunicação e da expressão dos sentimentos. Da vitória da sensibilidade sobre a beleza física. Faz jus à coleção "A obra prima de cada autor".






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.