quarta-feira, 29 de junho de 2022

Um banquete no trópico. 2. André João Antonil. Cultura e opulência do Brasil.

 O segundo trabalho apresentado no livro Introdução ao Brasil - Um banquete no trópico, livro organizado por Lourenço Dantas Mota, é Cultura e opulência do Brasil, de André João Antonil, ou João Antônio Antonioni S.J. Assim como no primeiro trabalho, em que nos são apresentados os sermões do padre Antônio Vieira, Antonil também era um padre jesuíta e, de alguma forma, mais ou menos da mesma época. Antonil nasceu  na Itália, em 1649 e morreu em Salvador, no ano de 1716. A obra em análise data do ano de 1711. Antonil era formado em Direito pela Universidade de Perugia. Chegou ao Brasil como visitador e provincial dos padres jesuítas, com 32 anos de idade. Deixo aqui a resenha da apresentação do presente projeto: http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/introducao-ao-brasil-um-banquete-no.html

A segunda resenha é a da padre Antonil. 

Antonil e a sua obra tem apresentação de Janice Theodoro da Silva, professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo. Fundamentalmente a obra nos dá detalhes sobre os homens que aqui viviam e sobre as riquezas com que trabalhavam. O meu primeiro contato com o autor foi em janeiro de 1971, quando prestei concurso para o quadro próprio do magistério do Estado do Paraná, na disciplina de História. Nunca havia ouvido falar dele. Se acertei a questão, foi no chute. Eu era formado em Filosofia, que, na época também habilitava para a disciplina de História. O texto da professora ocupa as páginas 55 a 73.

Na primeira parte de seu texto a professora nos apresenta o autor e o contextualiza em seu tempo histórico, bem como nos dá uma síntese de seus trabalhos realizados. A obra de 1711 foi, em parte, destruída e vetada pelo governo português, não por censura, mas para ocultar as riquezas da colônia do apetite e dos saques de franceses, holandeses e ingleses. A obra retrata 25 anos de suas perspicazes observações e as riquezas descritas são a cana de açúcar, o tabaco, a mineração e a criação de gado. O nome completo do livro é: Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e
minas. 
Cada  uma das riquezas merece uma parte de seu livro. 

Antes de apresentar cada uma dessas partes, lembro a advertência da autora sobre alguns cuidados que devemos ter com a leitura, uma vez que o teor do livro transcende em muito a mera descrição das riquezas, para buscar nelas o homem que nelas trabalha, emitindo juízos de valor moral nas relações que se estabeleceram. É um padre jesuíta que está escrevendo. Os juízos que o padre Vieira emitia em seus sermões, Antonil os emite em sua escrita. E é isso que tornou o livro um grande clássico. Ele nos faz retroceder na história, até os séculos XVII e XVIII (O livro é de 1711) para vermos o "engenho" dos homens em sua relação com o trato das riquezas, por isso, um livro superior. Por óbvio, o tema da escravidão, nunca contestada, permeia toda a análise. Ele ressalta a necessidade do equilíbrio para uma eficiente gestão econômica. Ao ler o texto, imaginei Antonil, tanto um administrador quanto um gestor de relações em todo o complexo da economia açucareira e das relações de produção estabelecidas.

Depois dessa observação a professora apresenta as quatro partes do livro, usando os títulos das mesmas, para então fazer a descrição. Então vamos: Primeira parte. Cultura e opulência do Brasil na lavra do açúcar - engenho real moente e corrente. Segunda parte: Cultura e opulência do Brasil na lavra do tabaco. Terceira parte: Cultura e opulência do Brasil pelas minas de ouro. Quarta parte: Cultura e opulência do Brasil pela abundância do gado e courama e outros contratos reais que se rematam nesta conquista.

A primeira parte é a mais longa e se estende, por aquilo que ele denomina, três livros (capítulos). Creio que, dando os subtítulos já deixo mais ou menos claro o teor das minuciosas descrições que são feitas, a partir da qualificação desta atividade como bastante complexa. Vejamos: O feitor-mor e outros feitores; O mestre do açúcar, o purgador e o caixeiro; o senhor de engenho e os escravos; governo da família e hospitalidade; do corte da cana ao engenho; do engenho ou casa de moer a cana e a moenda d'água; do modo de limpar e purificar o caldo. No terceiro livro ele apresenta dados quantitativos e qualitativos sobre o açúcar. Número e tipos de engenho, a repartição de seus resultados, os impostos e o dízimo e a ocupação territorial da cultura, entre tantas outras observações. Para mim, por ter tido uma infância na roça, esta cultura me é bastante familiar. Em casa fazíamos Schmier, uma espécie de geleia para passar no pão. Dá uma boa ideia do processo.

A parte dedicada ao tabaco é bem interessante. Nos fala dos meses de plantio, da limpa, da colheita, do beneficiamento, da cura e do enrolamento. Fala da comercialização, da distribuição dos resultados e da sua repartição, além dos cuidados necessários no seu fabrico, como a secagem à sombra, da retirada dos talos, da cura e do enrolamento. Fala também dos diferentes usos, cachimbo, pó, com aromas ou sem aromas e de sua denominação de "erva santa". Fala também dos controles e dos castigos para os que se envolviam no seu contrabando. Era uma cultura muito lucrativa. Essa leitura também me foi bastante familiar, uma vez que na minha infância também cultivávamos fumo. Meu pai falava que era para pagar as dívidas da terra comprada. Era, portanto, uma cultura bem lucrativa. Era um trabalho nojento de fazer, muito gosmento.

A parte dedicada às minas, ainda estava mais no horizonte, com as primeiras notícias de descobertas das jazidas. Mas já era o suficiente para mostrar uma verdadeira revolução em tudo, especialmente, pelo deslocamento das populações (mais de trinta mil) na troca de atividades econômicas em função das descobertas. Fala da descoberta de minas de ferro, de prata e de ouro, da repartição das "datas" auríferas, do fator sorte, da qualidade das terras, da profundidade em que o ouro era encontrado, ou então, nos veios dos cursos dos rios. Era encontrado em terras montanhosas e provocava toda a sorte de males. A cobiça havia gerado homens arrogantes, violentos, vadios e criminosos. Faz também a perspicaz observação de que o ouro não enriquecia a metrópole, mas que ele se aninhava em outros países. Também alimentava "mulatas do mau viver". 

A quarta parte dedicada ao gado e ao couro recebe a primeira observação relativa às enormes extensões de terra que ocupava, as fazendas e os currais da Bahia e de Pernambuco, geralmente situados ao longo dos rios. Me chamou atenção o uso do couro como embalagem. Todo o tabaco era encourado para ser vendido na Europa. Também trata das lides com o gado. Gostei da forma como faziam a travessia dos rios. Os homens usavam cabeças de gado em suas cabeças para servirem como guias.

Deixo ainda, para uma melhor compreensão, o inteiro teor da conclusão da professora: "Concluindo o seu estudo sobre a opulência da economia brasileira, Antonil defende a proposta de que é justo, tanto para a Fazenda real quanto para o bem público, favorecer a conquista e o desenvolvimento econômico do Brasil. 

O lucro que a colônia gerava para Portugal, proveniente das lavouras de açúcar e tabaco, da mineração e do gado era grande, sendo, portanto, justo que os requerimentos e demandas elaborados na colônia fossem expedidos rapidamente para Portugal, o que nos leva a pensar que a máquina administrativa da colônia era muito morosa. Da mesma forma Antonil estimava a multiplicação de igrejas, para que todos tivessem mais perto remédio para suas almas.

A organização da economia colonial brasileira e o aprimoramento da vida religiosa sem dúvida garantiriam a expansão do processo produtivo e da comercialização do açúcar, tabaco, ouro e gado, mediante práticas econômicas baseadas no mercantilismo.

É admirável neste livro não apenas a lucidez de Antonil quanto à importância da colônia nos quadros do sistema colonial português, como também o fabuloso custo humano necessário para a produção do açúcar, tabaco e ouro. Trata-se de um homem com uma profunda visão não só do presente como do futuro; não apenas das riquezas como do custo para produzi-las; não apenas dos senhores como, principalmente, dos escravos, mãos e pés do senhor". 

Deixo ainda o link do primeiro trabalho que versou sobre os Sermões do padre Antônio Vieira,   http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/um-banquete-no-tropico-1-padre-antonio.html


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