Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.
Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.O quinto trabalho apresentado é de autoria do professor titular de literatura brasileira da USP., Antônio Dimas e versa sobre Sílvio Romero, o autor de História da literatura brasileira, uma obra do ano de 1888. Vejamos alguns dados biográficos seus, apresentados ao final do livro:
"Nasce em 1851, em Lagarto, Sergipe. Entre 1868 e 1873 forma-se bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, época em que colabora com diversos periódicos locais. Atua como promotor, deputado e juiz em cidades de Sergipe e Rio de Janeiro (1874-79), fixando-se, posteriormente, na capital do Império. Junto com a intensa atuação nos periódicos da cidade, ministra aulas no Imperial Colégio Pedro II (1880-1910) e fez parte do corpo docente da Faculdade de Direito e Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. É membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1897). [...] Morre no Rio de Janeiro em 1914".
A resenha de Antônio Dimas começa com uma auto definição do resenhado, numa entrevista concedida ao jornalista João do Rio: "Habituei-me cedo a ser paciente, sofredor, ao mesmo tempo desconfiado, suspicaz, talvez, e, ainda por cima, resistente, belicoso". Uma auto descrição sua, de suas características mais marcantes. Sílvio Romero é um personagem complicado. Ao mesmo tempo em que, em sua obra, História da literatura brasileira, publicada em 1898, em dois volumes exalta o sertanejo como o grande personagem brasileiro, confrontando-o com a elite, ele se tornou conhecido como um dos defensores das teorias da necessidade do branqueamento do povo brasileiro.
O seu livro, muito mais do que uma história de nossa literatura, traça um perfil de toda a formação cultural do povo brasileiro. Por ele, Romero faz uma regressão à formação da Península Ibérica e, apenas após 350 páginas de etnografia, antropologia, sociologia, psicologia, filosofia, história e folclore, ele começa a sua avaliação da literatura, que ele assim caracteriza:
"A história da literatura brasileira não passa, no fundo, da descrição dos esforços diversos do nosso povo para produzir e pensar por si; não é mais do que a narração das soluções diversas por ele dadas a esse estado emocional; não é mais, em uma palavra, do que a solução vasta do problema do nacionalismo. [...] Quer se queira, quer não, esse é o problema principal de nossas letras e dominará toda a sua história". Tece ásperas críticas à elite brasileira, mais voltada para a rua do Ouvidor, do que para Canudos. Por falar em Canudos, ele era grande amigo e admirador de Euclides da Cunha, a quem fez a saudação em seu ingresso na Academia Brasileira de Letras.
Sílvio Romero, com a sua História da literatura brasileira é apontado, junto com José Veríssimo e a sua obra homônima, como os autores que forneceram as bases para que Antônio Cândido escrevesse em 1959 a sua grande obra Formação da literatura brasileira - momentos decisivos. São marcantes as suas passagens sobre o romantismo de Gonçalves Dias e José de Alencar, mais de Gonçalves Dias do que de José de Alencar. Também é famosa a sua análise de Machado de Assis.
Mas, vejamos as conclusões de Dimas sobre Sílvio Romero, um dos maiores idealizadores da Academia Brasileira de Letras: "Impulsivo, contundente, malcriado e irreverente, Sílvio Romero devorou quantidade enorme de informação para desenhá-la brasileira.
Na sua gula, pode não ter sido seletivo o desejável. Que tinha o olho maior que a barriga, não se nega. Mas não se nega também que sua obra funciona, até hoje, como acervo geral, no qual muito de reserva técnica nos aguarda". Devo acrescentar que Sílvio Romero é um típico homem enfronhado nas contradições de seu tempo. Dele tenho um outro trabalho, desenvolvido no blog.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-27-historia-da.html
Também apresento o trabalho anterior dessa série, sobre Joaquim Nabuco.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/04/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_7.html
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