Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.
Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.O nono texto do presente trabalho é sobre o aristocrata paulista Paulo Prado. Ele é apresentado por Carlos Augusto Calil, professor da Escola de Comunicação da USP, num texto sob o título - Entre tradição e modernismo. Ao final do livro encontramos alguns dados biográficos seus:
"Nasce em São Paulo em 1869. Em 1887, participa da criação da Sociedade Promotora de Imigração e da empresa Casa Prado-Chaves & Cia., exercendo o cargo de presidente a partir de 1897. Gradua-se na Faculdade de Direito de São Paulo (1889). Representa seu estado na Comissão de Valorização do Café (1913-6). Incentiva o meio artístico paulista, promovendo, inclusive, a Semana de Arte Moderna de 1922. Comanda a Revista do Brasil (1923-5) com Monteiro Lobato e a Revista Nova (1931-2) com Mário de Andrade e Alcântara Machado. Com o último, funda a revista Terra Roxa e Outras Terras (1926). Publica: Paulística (1925) e Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira (1928). Falece no Rio de Janeiro em 1943".
"O fautor verdadeiro da Semana da Arte Moderna foi Paulo Prado". A afirmação é de Mário de Andrade. Essa é uma das primeiras referências que Carlos Augusto Calil faz sobre o seu resenhado. É uma referência ao modernismo, em seu título. Já a tradição o relaciona a uma das mais tradicionais famílias da aristocracia paulista, que ele tanto busca descrever. Um de seus tios era Eduardo Prado, autor de A ilusão americana. Também merece um destaque inicial a sua amizade com Capistrano de Abreu, autor de Capítulos de história colonial, que o influenciou profundamente.
Em 1922, Paulo Prado escreve O caminho do mar. Nele, ele afirma que o relativo isolamento de São Paulo lhe foi muito benéfico, uma que o afastou das nefastas influências da corte. Esse isolamento também tornou o seu povo mais insubmisso. Exalta o "paulista", uma mistura de branco e índio e, herdeiro das virtudes das duas raças. De Capistrano de Abreu herdou o esquema de suas obras futuras. Um roteiro paulista das etapas, da sua ascensão e clímax, da decadência e regeneração. A ascensão teria sido o resultado de seu isolamento, o clímax pela ação dos bandeirantes, a decadência, pela presença dos portugueses em Minas Gerais (Guerra dos Emboabas) e a regeneração com a lavoura cafeeira.
Em 1925 ele reúne uma série de ensaios no livro Paulística, que obedece ao esquema acima exposto. Com relação aos bandeirantes, aos quais ele era bastante simpático, ele questiona se a expansão territorial que veio com eles, teria compensado toda a matança das populações indígenas. Considerava o "paulista" mais destro do que os bichos. Existe efetivamente uma raça paulista? A resposta, ele a persegue ao longo de toda a sua obra. Ele lhe aponta valores, como a independência, mas o considera desprovido de coesão e movido pelo afã dos ganhos materiais. O acúmulo de riqueza constituía a sua única preocupação.
Paulística não teve uma boa recepção por parte do público, em parte, devido a crise que envolveu a editora de Monteiro Lobato, A Companhia Editora Nacional. Já por parte da crítica contou com a percepção favorável de Mário e Oswald de Andrade. Depois de Paulística surge a sua obra mais famosa, Retrato do Brasil (1928). Observemos o seu subtítulo: Ensaio sobre a tristeza brasileira.
Retrato do Brasil se divide em duas partes. A primeira versa sobre a tristeza, apontada no subtítulo e a segunda é um post scriptum. Nos primeiros capítulos, de acordo com Calil, ele fixa comportamentos, descreve paisagens e associa fatos. Denuncia ainda o romantismo. Já no Post scriptum ele fustiga a incompetência brasileira e ataca o primado da política sobre o interesse público. O livro, rapidamente se transformou em sucesso de público, alcançando várias edições. Ele chegou a prever os movimentos de 1930, bem como o fato de que ela não superaria os vícios herdados em nossa formação.
A sua última escrita está no prefácio para a segunda edição de Paulística. Nele, o seu pessimismo se transformou em algo pior, o desencanto. Chegou a perguntar até quando duraria a unidade nacional. Calil chega a apontar uma tendência moralizante nesse seu escrito. "Quem nele aparece é a voz do moralista, afirma". Vejamos ainda a parte final da resenha de Calil:
"Lívio Xavier, intelectual trotskista, numa rara resenha da segunda edição, aponta as contradições do autor percebidas a partir da comparação entre os prefácios das duas edições e sua tendência irrefreável à moralização. Tem razão o crítico, em ambos os livros de Paulo Prado predomina a palavra do moralista.
Por ocasião de sua morte, a obra submergira, com a colaboração do próprio autor, que não autorizou a reedição de seus livros. Reapareceram em volume único em 1972, no âmbito da celebração do cinquentenário da Semana de Arte Moderna, sob os cuidados do amigo Geraldo Ferraz. As reedições promovidas recentemente recolocaram a obra de Paulo Prado na estante dos leitores contemporâneos. E o interesse de Retrato do Brasil voltou a se repetir".
Em Um banquete no trópico, já me tinha deparado com o autor e com o seu Retrato do Brasil.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-9-retrato-do.html
E também o trabalho anterior, dessa série, sobre Manoel Bomfim.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/04/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_19.html
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