sexta-feira, 7 de abril de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 4. Joaquim Nabuco.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.
Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. Joaquim Nabuco.


O quarto trabalho é sobre o mais conhecido entre os abolicionistas, Joaquim Nabuco. A resenha na qual é apresentado é assinada por Ângela Alonso, professora do Departamento de Sociologia da USP. Joaquim Nabuco pertence a uma família de políticos ligados ao Império. Era portador de uma esmerada formação e extrema erudição. Vejamos alguns dados biográficos que acompanham o livro.

"Nasce no Recife, em 1849. Forma-se bacharel em artes no Colégio Pedro II em 1865. Em 1870, conclui o curso de direito na Faculdade de Recife. [...] Funda com André Rebouças a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e lança o Jornal O abolicionista. [...] Em 1888, propõe em regime de urgência a análise do projeto de abolição. Após a proclamação da República, publica o manifesto Por que continuo monarquista e exila-se em Londres. É embaixador do Brasil em Washington (1905), onde falece em 1910. Assina, entre outros, O abolicionismo (1883), Um estadista do Império (1899) e Minha formação (1900).

Ângela Alonso abre a sua resenha afirmando que existem dois tipos de livros: os que inspiram a paz e os que perturbam, para afirmar que os livros de Nabuco produzem, simultaneamente esses dois resultados. A resenha de Alonso se restringe praticamente a uma análise dos três principais livros do autor, já mencionados na pequena biografia. Cita também o exercício da atividade parlamentar de Nabuco, a sua não reeleição como reação à sua defesa da abolição e a sua retirada
do cenário político para, de Londres, escrever o grande libelo teórico contra a escravidão, O abolicionismo. Na volta ao Brasil, novamente se candidata ao Parlamento, vence a eleição e participa ativamente do processo da abolição.

O abolicionismo é um estudo dirigido às mentes e ao coração dos abolicionistas e também para os que insistiam na permanência dessa anacrônica e injustificável instituição. Visava dar subsídios argumentativos para os defensores da abolição.  Fala da sua ilegalidade e ilegitimidade, de sua incompatibilidade com a modernidade e da vergonhosa manutenção do trinômio vicioso da herança maldita do latifúndio, da monocultura e da escravidão. Afirmava ainda ser ela um impeditivo do progresso e da cidadania e que era corruptora de todas as instituições brasileiras. Afirmava ainda que a abolição exigiria uma refundação do país, a partir da pequena propriedade e da vinda de imigrantes. O livro se constitui numa grande conclamação a todos pelo fim de tão abominável instituição.

Um estadista do império é um dos melhores estudos sobre o Segundo Reinado, o reinado de Dom Pedro II. Quem o escreve é o Nabuco historiador. Muita documentação e muita legislação. A obra vai para muito além de sua finalidade primeira, que é a exaltação de seu pai, do exercício da atividade parlamentar e da formação da personalidade de uma grande geração de políticos, para ser o grande livro da bibliografia brasileira sobre este tema. Também apresenta a ausência de lideranças, já sob o regime republicano.

Em Minha formação quem nos escreve é o Nabuco memorialista. Em retrospectiva, volta à sua infância e exalta a sua formação europeia, seus estudos de política sobre as revoluções liberais e a gênese de suas convicções liberais e monárquicas. Esses estudos o levaram a ser o monarquista reformador que atuou no Parlamento do Império, a lutar pela abolição, a ser promovida em conjunto pelo Parlamento e pelo Império e acompanhada de uma série de reformas, nas quais a questão da terra estaria envolvida. É o seu belo livro de memórias.

Desse seu livro de memórias e já fora da resenha de Ângela Alonso, eu apresento o que considero como o "ato inaugural" que levou Nabuco abraçar a causa abolicionista. Vejamos: "Eu estava uma tarde sentado no patamar da escada exterior da casa, quando vejo precipitar-se para mim um jovem negro desconhecido, de cerca de dezoito anos, o qual se abraçava aos meus pés suplicando, pelo amor de Deus, que o fizesse comprar por minha madrinha, para me servir. Ele vinha das vizinhanças, procurando mudar de senhor, porque o dele, dizia-me, o castigava, e ele tinha fugido com risco de vida... Foi este o traço inesperado que me descobriu a natureza da instituição, com a qual eu vivera até então familiarmente, sem suspeitar a dor que ela ocultava". 

Deixo também um trabalho sobre O abolicionismo, a principal obra do autor.

E também o trabalho anterior, sobre outro abolicionista, André Rebouças.

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