terça-feira, 6 de maio de 2014

A prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Dezembro de 1968.

Caetano Veloso e Gilberto Gil eram os líderes de um movimento cultural chamado Tropicalismo, nos idos de 1967. Sem nenhuma acusação formal, foram presos em São Paulo, em 27 de dezembro de 1968, após o AI-5, portanto. Foram avisados de que seriam levados para a Polícia Federal, mas o destino verdadeiro os levou para o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. As coisas começaram a engrossar mesmo, quando foram parar no quartel da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, um dos centros de tortura mais afamados, no período.
Entre os muitos fatos do ano de 1968, narrados neste livro, está a prisão de Gilberto Gil e de Caetano Veloso.
 
No quartel da Polícia do Exército foram jogados em pequenas celas, fétidas e imundas, nas piores condições que se possa imaginar. Ali ficaram por uma semana, alimentando-se basicamente de pão. Num raro banho de sol, o editor da Civilização Brasileira, Ênio Silveira, passou-lhes dois livros, que os ajudaram a passar o tempo. Os livros eram O Estrangeiro de Albert Camus e O Bebê de Rosemary, de Ira Levin. Dali foram para uma sela coletiva, na sede da Vila Militar em Deodoro, um subúrbio do Rio de Janeiro. Lá ficaram, entre outros, em companhia de Ferreira Gullar, Antônio Callado e Paulo Francis. Lá tiveram as suas cabeças raspadas, vivendo a dor e a angústia dos gritos de dor, dos presos torturados nas celas vizinhas.

Em meados de janeiro foram para quarteis separados, na mesma vila militar e, finalmente, depois de presos por mais de um mês, começaram a ser interrogados. Contra eles formulou-se uma acusação, feita por um jornalista, vinculado à repressão policial. Haviam desrespeitado dois símbolos nacionais, num show na boate Sucata, em outubro. Testemunhas desmistificaram a acusação. Ali ficaram, até que na semana santa foram levados para Salvador, onde ficaram em prisão domiciliar, sem poderem fazer shows, sem dar entrevistas e participar de atos públicos.
Uma das frases pichadas nos muros em 1968 e que inspirou muita gente, especialmente Caetano Veloso.

Finalmente conseguiram dos militares a permissão para deixarem o país. Estes ainda lhes fizeram uma concessão. Puderam realizar dois shows para arrecadar fundos para custearem a viagem. Os shows foram realizados no teatro Castro Alves nos dias 20 e 21 de  julho. Finalmente viajaram para a Europa em 27 de julho. Fazendo as contas percebe-se que ficaram sob o olhar e a severa vigilância dos militares por longos seis meses. Foi a penalização para a poesia e a música, o que, diga-se de passagem, não é nenhuma novidade, em períodos autoritários.

Entre outros artistas que também tiveram que se refugiar estava Geraldo Vandré, aquele da Marselhesa brasileira, "Caminhando", que foi para o Chile e Chico Buarque de Holanda, que foi para a Itália. Os dados para este post foram retirados do livro: 1968 - Eles só queriam mudar o mundo, de Regina Zappa e Ernesto Soto, da Zahar. Este é um dos livros mais ilustrativos que já li.

4 comentários:

  1. eles ficaran presos no antigo regimento santos dumont paraquedista por uma semana,ali foran bem tratados.eu estava lá.

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  2. Mesmo sob anonimato, agradeço o comentário. Eles passaram por vários lugares e, ao que consta, não sofreram torturas.

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  3. Presos, sem processo formal, privados da liberdade...

    "Bem tratados?"
    "Não sofreram tortura?"

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  4. Assim é que funcionam as ditaduras. Só a ideia da ditadura já é uma tortura. A referência é a torturas físicas. Agradeço o seu comentário, Eduardo.

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