segunda-feira, 7 de julho de 2014

Circuito Mineiro. 6. Coronel Xavier Chaves. A Cachaça Século XVIII.

Em junho de 2013 publiquei dois rankings de cachaça, um da universidade da cachaça e outra da revista Playboy. Recebei o seguinte comentário, que aqui publico:
 Vista do bucólico Engenho da Boa Vista, onde se produz a cachaça Século XVIII.

"Faltou falar da única cachaça do ranking branca, a verdadeira e mais antiga do país, a Santo Grau sex 18 ou a melhor, a Sec 18 direta do alambique". Gostei do comentário. Ele mostrou uma pessoa antenada no mercado, que não perde nenhuma oportunidade para divulgar o seu produto. Coisas do marketing. Este século XVIII - e a mais antiga do país me chamaram a atenção. Falei para mim mesmo: "um dia vou atrás", e fiz uma primeira busca no Google.
No Engenho Boa Vista, o meu guia, o Alemão, junto com o sr. Chaves, da família Chaves, da sétima geração no trato da cachaça.

Como há muito tempo eu tinha vontade de conhecer as cidades históricas de Minas Gerais, a de São João Del Rei e Tiradentes, vi que Coronel Xavier Chaves ficava ali, bem pertinho. Contei do meu blog para o Alemão, o meu guia, sobre a publicação do ranking e sobre o comentário publicado, enquanto visitávamos as igrejas de São João Del Rei e Tiradentes e quando pedi para tirar uma foto com ele junto a uma das igrejas, ele me anunciou um bônus em seu tour, mas que seria uma surpresa. Imediatamente eu imaginei que seria uma visita ao alambique que fabrica a Século XVIII. Coronel Xavier Chaves é uma pequena e simpática cidade com menos de três mil habitantes.
Depois da evaporação, é por aí que as gotas pingam. É por isso que a cachaça também recebe o nome de pinga.

Dito e feito. Depois de andar um pouco, bastante para um bônus, chegamos ao Engenho Boa Vista. Fomos mineiramente recebidos por um senhor de meia idade, o proprietário do engenho. Depois de comprar algumas, para a minha coleção, li a etiqueta que acompanha a garrafa de um lote antigo, de 2002. Diz o seguinte: "Aguardente de cana Século XVIII. Sabor de um segredo guardado a sete chaves. Esta aguardente é preparada artesanalmente. Os procedimentos que vêm sendo utilizados desde o século XVIII garantem qualidade peculiar. Buquê buscado pelos apreciadores mais exigentes".
Eis aí uma das cachaças mais famosas e, com mais história, do Brasil. Estas já integram a minha coleção.
Na pequena etiqueta, em letra bem miúda ainda se lê:
 "Não se sabe quando começou.
Entre as pedras de uma demolição
havia uma datada de 1717.
Foram paulistas ou emboabas? Não se sabe.
Da família Tiradentes sabemos.
Pedras e telhas cobertas de pátina
evocam um tempo de ritmo lento
e marcam a ampla construção bicentenária
de arquitetura e engenho.
Respeitosas da queda do terreno.
É o fazer artesanal integrado à natureza.
A roda d'água oxigena o resíduo do mosto,
que assim alimenta pequenos peixes.
Begônias e avencas crescem
sob o grande rodízio de sete mestres.
A caldeira sem pressa
queima o bagaço num processo ecológico
indispensável à fabricação das bebidas
que exigem paladares refinados.
Há sete gerações estamos destilando a garapa.
Os antigos nos legaram segredos
que os laboratórios
aos poucos, buscam desvendar.
O legado maior, além da instalação bucólica
e da terra propícia ao cultivo da cana de açúcar, 
é a certeza de que o tempo
pede paciência e humildade.
Poucos litros a cada fornada
para a qualidade acima de tudo.
Isto faz a diferença.
Século XVIII, Alferes e Jacuba. As cachaças produzidas na histórica região de São João Del Rei.

Belo texto para uma letrinha tão miúda. Num outro folheto promocional temos um texto de um visitante. Como ele também é bonito e ilustrativo, o publico na íntegra: "Ao beber da cachaça SÉCULO XVIII, está se bebendo um pouco de História do Brasil. Trata-se de uma aguardente produzida na cidade de Coronel Xavier Chaves, da mesma maneira que o era há 250 anos, em um engenho do século XVIII (o mais antigo do Brasil em funcionamento, segundo informações da EMBRATUR), perfeitamente preservado.

O engenho BOA VISTA pertenceu a Domingos da Silva Xavier, o irmão mais velho de Tiradentes, que o recebeu de sua tia Josefa Maria da Conceição Xavier e seu marido Lourenço Coutinho, 'para efeito de se tornar sacerdote'. O segredo de sua produção é guardado há sete chaves (7 gerações de Chaves). hoje, Rubens R. Chaves é quem administra o engenho.

Na cachaça SÉCULO XVIII percebe-se a pureza e a qualidade inigualáveis da bebida de produção limitadíssima, destilada em alambique de cobre e envelhecida debaixo do solo em tanques de cimento revestido de parafina. Os séculos de tradição e a artesania garantem a especialidade da bebida, que agrada  não somente aos consumidores de aguardente, mas também aos apreciadores dos mais variados destilados e fermentados, o que justifica a frequente visitação de estrangeiros e brasileiros oriundos das mais diversas regiões do país. É a História do Brasil que desce redondo".

Já tinham imaginado que atrás da cachaça tinha tanta história e tanta cultura. Quem nos atendeu foi o proprietário, que nos contou muita história, inclusive a de que eles só produzem para o consumo próprio e só vendem as sobras. Por que é que eu iria duvidar? Então? Será que Tiradentes também gostava de uma cachacinha? O lugar realmente é bucólico e cheio de misticismo.No Engenho Boa Vista também é produzida a cachaça de nome Santo Grau.
Jacuba significa água quente. É a outra cachaça produzida em Coronel Xavier Chaves.

Mas na terra do berço da cachaça existe uma outra que também é bem conhecida, a Jacuba. Ela também é envolta em misticismo, começando pelo seu nome, que significa água quente. Jacuba também é o nome de uma espécie de ápeiron, onde se mistura cachaça, mel, açúcar e farinha de mandioca. A esta mistura é atribuído um caráter revigorante, com forças sobrehumanas, para enfrentar toda a espécie de agruras, especialmente as do desbravamento das matas. Ela é envelhecida em tonéis de carvalho e também é tomada como um digestivo. Não tem tanta história como a Século XVIII, sendo produzida num dos alambiques mais modernos do Brasil.
Alferes é a cachaça produzida na histórica cidade de São João Del Rei

São João Del Rei também tem cachaça, e de nome pomposo. Alferes. Se você não dispuser de meios para visitar os alambiques, não se preocupe. No mercado municipal de São João Del Rei você encontra todas elas. O Engenho Boa Vista promove, aos sábados, degustações de cachaça, com acompanhamento de aperitivos, para a festa dos visitantes.



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