segunda-feira, 14 de julho de 2014

Prudentópolis. A mais ucraniana das cidades brasileiras.

No sábado passado, dia 4 de julho, trabalhei em Prudentópolis com um pequeno grupo de professoras (es), nos trabalhos de formação continuada, promovidos pela APP-Sindicato. Fui a convite do núcleo sindical de Irati. O tema que me foi proposto foi "Teoria e práxis na Educação". Começamos definindo o conceito de cultura, enveredando em seguida para conceito de práxis, a partir do livro de Marx e Engels A Ideologia Alemã. Para mostrar como funciona a filosofia da práxis na prática, trabalhamos um pequeno texto do livro de Paulo Freire, Educação como Prática da Liberdade. Trabalhamos o sábado inteiro, mas faltou tempo.  Esta é a força da escola pública. Em um pleno sábado, após jogo do Brasil, pessoas dedicam o seu tempo livre, à sua formação. Aliás, a categoria tempo livre também chegou a ser trabalhada.
Igreja de São Josafat, a igreja tipicamente ucraniana de Prudentópolis. Belíssima.
Mas não é disso que eu quero falar. Hoje eu vou me dedicar ao encantamento que a cidade me provocou. Em virtude do jogo, tomei um ônibus bem cedo, chegando à cidade por volta do meio dia. A minha curiosidade imediatamente me moveu pela cidade. A tarde não seria plena, pois às 17:00 horas haveria o jogo. Fui ao posto de informações turísticas e peguei um folheto com roteiros detalhados. A cidade é conhecida pelas suas cachoeiras e pela forte presença da tradição ucraniana, não necessariamente nessa ordem.
A maravilha da cúpula interna da igreja de São Josafat.
Visitei as três igrejas da cidade. A matriz, a igreja de Nossa Senhora das Graças e a inigualável igreja ucraniana de São Josafat, que apesar de todo o meu conhecimento hagiográfico, herdado dos tempos de seminário, eu não conhecia. É um santo tipicamente ucraniano. Tive a sorte de encontrar esta igreja aberta, em virtude da forte religiosidade do povo, que ali estava reunido para a adoração do Santíssimo Sacramento. Isto me permitiu várias fotografias muito bonitas. O entorno da igreja, com gruta e campanário também merecem destaque. Também me impressionou bastante o Colégio São José, pela beleza de sua construção e especialmente pela sua impecável conservação.

Junto à igreja de São Josafat se situa o Museu do Milênio. As datas referentes ao milênio são as de 988 e 1988. O ano de 988 se refere aos fundamentos da constituição da Ucrânia como Nação e, na outra ponta, 1988, uma referência às comemorações do milênio da existência da Ucrânia, realizadas na cidade A Ucrânia, tal como a Polônia, nunca tiveram vida fácil, uma vez que, geograficamente, ficam exprimidas entre as grandes potências europeias. Vejam o exemplo dos dias de hoje. Talvez esta dor e sofrimento torne este povo tão unido e tão religioso, ao menos, os que por aqui vivem.
Nave principal e altar mor da igreja de São Josafat.
No museu fui recebido pela dona Terezinha.  Poucas vezes em minha vida tive uma aula tão completa. A aula teve dois componentes fundamentais. O amplo conhecimento de dona Terezinha, conhecimento originário da vivência da cultura ucraniana, vivida com muita paixão e dedicação ao cultivo da tradição, mais o rico acervo do museu. Devo confessar que fiquei muito encantado com a riqueza do museu. Existem mapas da colonização, da distribuição dos lotes, da indumentária típica dos imigrantes, os paramentos das autoridades religiosas, dos seus instrumentos de trabalho e do mobiliário caseiro, bem como dos utensílios domésticos, além dos principais documentos históricos da colonização e imigração.

Museu do Milênio e o busto do poeta ucraniano Taras Chewtchenko. Um rico museu da cultura ucraniana e de sua imigração em Prudentópolis.

 O museu também mantém um rico intercâmbio com a Ucrânia. Visitantes ucranianos trazem lembranças que enriquecem o seu acervo, da mesma forma o fazem os descendentes, quando saudosos, visitam os seus ancestrais. O atendimento recebido no museu é algo a ser mencionado. Ele é feito, ao menos pelo que eu pude constatar, de trabalho voluntário. O atendimento se dá nos expedientes normais e pode ser agendado nos finais de semana. Isto é raro. O acervo é tão rico que o espaço para preservá-lo já está pequeno. Fiquei sabendo que o deputado federal Ângelo Vanhoni, sempre ligado à cultura, tem algum envolvimento ou preocupação com o museu e o seu acervo, mas existem problemas. A comunidade da igreja de São Josafat praticamente torna possível a viabilidade desta joia. O poeta ucraniano Taras Chewtchenko é muito reverenciado no museu e possui um busto na sua cobertura.
Manifestação da religiosidade do povo de Prudentópolis. Fé, esperança e caridade. Junto da igreja de Nossa Senhora das Graças.

O meu giro praticamente se encerrou com a compra de pêssankas, os tradicionais ovos coloridos, tão cheios de significados e tão típicos da cultura ucraniana. Dona Terezinha me deu material referente ao museu, sobre as novidades referentes à igreja católica ucraniana, com a elevação da cidade à eparquia e a construção da futura catedral da Imaculada Conceição, na vila Iguaçu. As designações são próprias da igreja ucraniana, algo semelhante à diocese, não definida por critérios geográficos, mas étnicos. Comprei ainda, numa livraria próxima, o livrinho A utilização do tempo pelos imigrantes ucranianos de Prudentópolis. 1940-1960. O livrinho é de autoria de Nelson Gilmar Zaroski e é uma monografia, um trabalho acadêmico do curso de história da universidade federal do Paraná. Existem livros sobre a colonização, mas suas edições encontram-se esgotadas.
Pêssankas. A da caixinha é do artesanato de Prudentópolis, legítima, pintura na casca do ovo e a outra é importada da Ucrânia, em madeira e simulando um ovo.

Ainda nas proximidades do museu existe uma bela e bem sortida loja do artesanato local, a Machula. Pêssankas e bordados são o essencial do rico artesanato ucraniano. Em torno de 70% da população  de 50.000 habitantes são descendentes de ucranianos. No cultivo à tradição, o grupo Irmandade dos Cossacos se destaca. A sua grande tarefa é guardar o santo sudário, nas comemorações da semana santa, especialmente na sexta feira santa. O grupo se apresenta regularmente e tem em seu currículo, inclusive apresentações no exterior. Cossacos são homens livres e armados, sempre dispostos à luta. Associem isto à história da Ucrânia para perceberem a sua importância e o seu significado.
Olhem aí a dona Terezinha, a minha cicerone no Museu do Milênio, segurando um tablet. Uma pequena lousa sobre a qual se escrevia. Eu cheguei a usar. Nós a chamávamos de Tafel, em alemão.

A festa mais típica da cidade é a festa do feijão preto, o produto de maior destaque da economia da cidade. Na primeira festa foi servida uma feijoada para mais de trinta mil pessoas. Na economia ainda merece destaque a produção da erva mate e o mel. A erva mate foi a sua primeira grande riqueza. Hoje o turismo também impulsiona a economia da cidade. As grandes cascatas são o grande atrativo natural que se soma aos atrativos culturais. Como não conheci as cachoeiras e nem mesmo o portal de entrada da cidade fiz uma promessa para mim mesmo e irei cumpri-la. Voltar à cidade. Para conhecer os seus atrativos e conviver um pouco com a sua cultura, são necessários, no mínimo dois ou três dias. A distância de Curitiba é de apenas 200 quilômetros.

2 comentários:

  1. Pra quem tiver uma boa didática e facilidade em ensinar Ucraniano online, tem muitas vagas de emprego para professor online. Quem estiver interessado: https://preply.com/pt/skype/vagas-professor-de-ucraniana

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  2. Olha aí pessoal, eis uma oportunidade. Obrigado Melissa.

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