quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Como vota a classe média? Isso ocorre em ciclos.








Com este post tenho por finalidade apresentar algumas características de nossa evolução histórica. Como país moderno e, entendendo-se por país moderno aquele se urbanizou e industrializou, o Brasil existe nestas condições, apenas, a partir de 1930. A principal marca do capitalismo brasileiro é ser um capitalismo tardio e que, por isso mesmo, ele terá características muito próprias e peculiares. Ele jamais, por seu atraso histórico, poderá adotar as regras do livre mercado se não quiser ficar no fim da fila do processo competitivo. Por esta razão as políticas públicas sempre fizeram muito sentido neste país.

Medidas de indução ao desenvolvimento, favorecimento aos pequenos competidores e um forte espírito nacionalista sempre acompanharam a nossa história. Cada momento histórico terá as suas peculiaridades. No campo social também sempre tivemos medidas protecionistas aos mais fracos. Desde cedo, a partir da industrialização, o trabalhador foi protegido e não submetido a auto-regulação do mercado. 
Este quadro mostra o atual momento da classe média brasileira.  Por ignorar as causas de sua ascensão, pode voltar-se contra si próprio.

Com a modernização dos aparelhos burocráticos do Estado e com a industrialização massiva foi se formando uma sociedade plural e as diversas categorias de trabalhadores foram se estabelecendo, formando assim uma incipiente classe média. Não fossem as medidas explícitas em favor da acumulação e restritivas aos ganhos do trabalhador ao longo da ditadura militar, teríamos avançado muito mais. Teríamos formado um mercado interno, alicerce e fundamento das economias dos países desenvolvidos. Os nossos atrasos históricos e a preservação de uma mentalidade escravocrata formou uma cultura anti mercado interno, com prejuízos enormes à nossa modernização pela via do fortalecimento do mercado interno. Que o diga Joaquim Nabuco.

O Brasil, quando dominaram as políticas de indução econômica por parte do Estado, progrediu rapidamente. De 1930 a 1980, a cada dez anos, dobramos a nossa riqueza. Quando, ao contrário, adotamos as regras do livre mercado, colhemos desemprego, aumentamos a fome e a miséria, encolhemos a nossa economia interna e fomos vítimas de uma brutal dependência externa. Os anos 1990 foram drasticamente marcados pela hegemonia neoliberal. O capital financeiro dominava soberano. O país fora concebido para 30% dos brasileiros, aqueles que cabiam no mercado. O guarda chuva protetor do Estado se fechava para os filhos da Pátria Nação. Éramos, na arrogância habitual do ex-presidente Cardoso "um mercado emergente". Os valores do mercado são são a competição, a seleção e a consequente exclusão. Não existe espaço para a solidariedade.

Em 2002, com a eleição de Lula e a ascensão do PT ao governo, voltou - menos a concepção do Estado indutor de políticas desenvolvimentistas, mas a do Estado promotor de cidadania. Criou-se um modelo que vem sendo caracterizado como de crescimento econômico com distribuição de renda. Os instrumentos desta política foram as de aumentos reais do salário mínimo, os ganhos salariais nas negociações da data base, as políticas de estímulo à pequena e média empresa e de formalização da economia, além das políticas de proteção social cidadã pelos programas de distribuição de renda. Também o tradicional caminho de ascensão social pela educação foi extremamente facilitado. Silenciosamente mexeu-se na base da estrutura social brasileira.

A exemplo dos Estados Unidos, que após a aplicação das políticas afirmativas, seguidas pelo movimento ultra conservador do Tea Party formou-se, também aqui, uma rede de ódio sem precedentes e com imprevisíveis consequências. A democracia foi contaminada pela sociedade democrática e os alicerces da premiação ao mérito competitivo teriam sido contaminados pela "indolência" provocada pelas medidas de proteção por parte do Estado, reagiram os nossos conservadores.

Como todo este movimento ascensional foi promovido sob a ideologia do empreendedorismo, absolutamente individualista, não foi permitido ao beneficiado  ver as origens e raízes de sua ascensão. Atribui todo esse caminho ao seu espírito empreendedor. Mérito do esforço próprio. E diante da primeira crise no sistema e, o capitalismo é um sistema especializado na criação de crises, estas classes em ascensão se voltam contra os instrumentos que as alçaram para uma melhor condição econômica e social. Num breve futuro amargarão novamente a situação de penúria na qual estavam mergulhados, quando da aplicação das políticas neoliberais, do mercado competitivo, que em nome da eficiência, promovia a exclusão de competidores menos competitivos, que por sinal, em nossa história já chegou a ser afirmada como uma política humanitária.

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