terça-feira, 14 de outubro de 2014

Memórias do Governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

"O remédio, então, era claro: manter um estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com o bem-estar, e a restauração da taxa "natural" de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para incentivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava reduções de impostos  sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Desta forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, então às voltas com uma estaglafação, resultado direto dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, a intervenção anticíclica e a redistribuição social, as quais haviam  tão desastrosamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais houvessem sido restituídos". Este texto é de Perry Anderson e se tornou um clássico.
Neste livro, organizado pelo Pablo Gentili e pelo Emir Sader, Perry Anderson faz um balanço geral do neoliberalismo. Um texto clássico.
Felizmente não esperamos esta "retomada do crescimento" e mudamos de rumos com a eleição do Lula em 2002. Mesmo sabendo dos problemas da governabilidade, de Duda Mendonça ter sido o marqueteiro da campanha, as alianças com os liberais, a eleição mexeu com a auto-estima do povo brasileiro e, em particular, com a minha, para melhor, obviamente.

O ano de 1999 era para ter sido um dos anos mais felizes da minha vida. Defendi a minha dissertação de mestrado na PUC/SP., reiniciei a minha atividade acadêmica, como professor na universidade Positivo e vi que a questão econômica não mais seria barreira para dar a formação superior para os meus filhos, mesmo sem nenhum programa de políticas públicas em favor da expansão do ensino superior. Mas nem tudo era um mar de rosas. 

O desemprego atingia taxas tão elevadas que os brasileiros procuravam empregos clandestinos em qualquer país do mundo. Lembram da cidade de Governador Valadares? Ela quase esvaziou, tal era a quantidade de gente que a abandonou. Havia serviços de vigilância nos principais aeroportos do mundo criados para deportar brasileiros, que chegavam em massa. Voltavam endividados, eles e a  família junto, que havia se cotizado, somando as últimas economias e torcendo para que essa solução extrema desse certo. Nas escolas a ideologia do empreendedorismo substituiu o ensino técnico profissional, gerando um apagão de força de trabalho qualificada.
Para mim este é o livro que melhor mostra, mundo afora, o furacão de destruição social que foi o neoliberalismo. O mundo ficou mais pobre, enquanto o capital se acumulou.

Nas universidades públicas deste país o ensino se comprimia. Afinal, para privatizar o ensino público, o caminho mais tranquilo, com menor visibilidade e na tentativa de evitar protestos, seria a sua não expansão. Nestes anos 1990 e início dos anos 2000, nada de novas universidades publicas. Os professores contavam os dias para se aposentarem, outros entraram em programas de demissão voluntária. Estes programas de demissão também eram a tônica dos nossos bancos públicos federais. Dos estaduais, acho que sobrou apenas o Banrisul. Aqui no Paraná, a venda do Banestado gerou uma dívida quase impagável, além do maior escândalo de corrupção em toda a nossa história.

Como professor da rede pública do Paraná, eu particularmente fiquei sete anos sem, nem sequer um único centavo de reposição das perdas da inflação, numa desumanidade jamais vista por parte de um governante. O governador neoliberal era Jaime Lerner, parceiro de FHC. Desemprego acima dos dois dígitos, inflação acima dos dois dígitos, a macro economia totalmente desalinhada, que levou o país se ajoelhar diante do FMI por três oportunidades. Além disso juros estratosféricos, rondando os 50%, e, ainda mais, várias maxi-desvalorizações do real. Um caos que abalava objetivamente as nossas vidas mas também a nossa esfera subjetiva, com impactos de tristeza profunda, pela auto-estima em baixa.
Um belo cartaz contra o neoliberalismo, produzido pela APP-Sindicato, dentro da conjuntura paranaense.

Escrevo este post para deixar para a memória. Eu odeio corrupção e adoro mudanças. Mas o que estão tentando fazer é confundir mudança com retrocesso. Também sei o quanto o PSDB, tem em seus altos quadros a corrupção instituída. Espero que você não goste de retrocessos.  Também poderia aqui retratar a questão do ódio que está se implantando no país. O único projeto que o Aécio tem, junto com a Marina Silva, é o Fora PT. Farei isso num outro post. Enquanto isso eu deixo um link do Janine Ribeiro, neste sentido. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2014/10/o-odio-democracia-janine-ribeiro-e-as.html .Também prefiro, e como prefiro, que a esperança suplante o ódio. A esperança nos faz feliz. O ódio corroi e destroi. Sugiro também a volta da leitura do primeiro parágrafo, o texto do Perry Anderson.


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