sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A Quarta Internacional. Trotski.

Recorro a monumental biografia de Trotski, volume 3, escrita por Isaac Deutscher, Trotski - o profeta banido - 1929 - 1940, para apresentar os dados referentes à Quarta Internacional. Antes quero apresentar a obra de Deutscher, que escreveu a biografia do revolucionário, em três volumes, com os seguintes títulos: Trotski - o profeta armado - 1879 - 1921. Trotski - o profeta desarmado - 1921 - 1929 e o já citado Trotski - o profeta banido - 1929 - 1940. A edição é da Civilização Brasileira. São mais de 1.800 páginas de pura história.
Deste terceiro volume da biografia de Trotski buscamos os dados sobre a Quarta Internacional.

Trotski organiza a Quarta Internacional, a partir de seu exílio no México. O profeta teve perseguição implacável, tanto pelo stalinismo soviético, quanto pelo mundo ocidental capitalista. Do stalinismo recebeu a expulsão do país e dos países capitalistas, a negação de asilo político. Foi um verdadeiro peregrino, mundo afora, terminando os seus dias no México, sob um abrigo conturbado, oferecido pelo casal Diego Rivera e Frida Kahlo.  Deutscher assim descreve a fundação da nova Internacional.

"Durante o verão de 1938, Trotski manteve-se ocupado no preparo do programa e das resoluções para o 'Congresso de fundação' da Internacional. Na verdade, esse congresso era uma pequena conferência de trotskistas, realizada na casa de Alfred Rosmer em Périgny, aldeia perto de Paris, em três de novembro de 1938. Estavam presentes 21 delegados, pretendendo representar  as organizações de onze países. A conferência foi instalada ainda sob o impacto dos recentes assassinatos e raptos. Elegeu três jovens mártires, Liova, Klement e Erwin Wolf, como seus presidentes honorários. Juntamente com Klement, que era o secretário de organização da conferência, desapareceram relatórios dos trabalhos dos trotskistas em vários países, o esboço dos estatutos da Quarta internacional e outros documentos. A fim de impedir outro golpe pela GPU (polícia secreta soviética), a conferência realizou apenas uma sessão plenária, que durou todo o dia, sem qualquer interrupção, e recusou-se a admitir observadores do POUM catalão e do Parti Socialiste Ouvrier et Paysan francês". [...] A conferência foi mais ou menos secreta. Um dado interessante, porém:
Os três volumes da biografia de Trotski, escritos por Isaac Deutscher.

"Na conferência, porém, Étienne 'representou' a 'seção russa' da Internacional. Dois 'convidados' estavam também presentes: um deles era uma certa Sílvia Agelof, trotskista de Nova York, que serviu de intérprete. Chegara algum tempo antes aos Estados Unidos e em Paris conhecera um homem que se dizia chamar Jacques Monard, de quem se tornou amante. Ele permaneceu do lado de fora da sala de conferências, mostrando-se desinteressado da reunião altamente secreta e esperando apenas  a saída de Sílvia" [...]

Trotski, por motivos óbvios de segurança, não participou da Conferência e um de seus participantes chegou a dizer que ela "pouco mais era do que uma ficção: nenhum de seus chamados Bureaux Executivo e Internacional fora capaz de qualquer atuação nos últimos anos". Mas, na votação desta Conferência houve a proclamação da Quarta Internacional. Ela tem devotados seguidores até hoje. De maneira geral estão organizados em pequenos partidos, extremamente aguerridos, ou então se abrigam dentro de partidos maiores, figurando como tendências. Assim temos no Brasil correntes trotskistas dentro do PT e os pequenos partidos como o PSTU e o PCO.
Jorge Amado foi implacável na caracterização dos trotskistas, em seus três volumes de os subterrâneos da liberdade.

Mas vamos a mais uma descrição, não mais sobre a Quarta Internacional, mas sobre o personagem desinteressado na conferência de Paris, o tal namorado de Sílvia Agelof. Sílvia era também a secretária de Trotski. "Atrás dos hóspedes tão queridos, os Rosmer, se infiltraria uma sombra pressaga, a sombra de Ramon Mercader", que se preparava para uma missão sinistra, que seria a de assassinar o próprio Trotski, em seu refúgio mexicano. Ele namorou Sílvia com a finalidade de se aproximar de Trotski e assim assassiná-lo, cumprindo um mandato do PC soviético. Sugiro duas leituras interessantes a respeito do assassinato "espetacular" do profeta banido. A própria biografia de Deutscher e o extraordinário livro do escritor cubano Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros.
Para ler este maravilhoso livro é fundamental saber algo sobre as Internacionais. Tem resenha no blog. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2014/05/o-homem-que-amava-os-cachorros-leonardo.html

Sugiro ainda a leitura dos três volumes dos Subterrâneos da Liberdade, de Jorge Amado, para se ter uma noção do tratamento que os partidos comunistas oficiais davam aos militantes trotskistas. Estas referências também dão um interessante panorama das divisões internas que sempre acompanham os partidos de esquerda.

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