sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Narrativas de uma viagem 5. City tour em Buenos Aires.

Sobrevoar os Andes dá um frio na barriga. Nunca tinha visto tão de perto, e de cima, uma cadeia montanhosa. Quanto ao voo, tudo normal e dentro do horário. Desembarque, imigração e alfândega tudo dentro do previsto. Todos muito gentis. O transfer, mais uma vez com serviço perfeito. Quanto ao hotel, um tanto velho, mas também muito bem localizado. Três quadras da 9 de julho, duas da Caje Florida e umas dez da Casa Rosada e catedral.
Uma das primeiras fotos tiradas em Buenos Aires. A beleza da florada do jacarandá.

Um excelente almoço, um breve descanso e um primeiro reconhecimento da cidade. Tudo me era bastante familiar. Me reconheci nos mais diferentes lugares. Estive aí em meados dos anos 1980. Suipacha, Lavalle, Corrientes, o Obelisco e o teatro Colon. Quanto a cerveja, a Patagônia, uma das minhas preferidas. Custo de vida em Buenos Aires, bem alto. Para janta, logo descobri um lugarzinho bem agradável. Pizza em pedaços e a Patagônia. Mais descanso, que no domingo cedo teríamos o city tour.
Reconhecimento básico em Buenos Aires. O Obelisco.

Mesmo estilo de Santiago. Recolhemos os turistas em seus hotéis. Por ser domingo, sem problemas no trânsito. Buenos Aires é uma cidade enorme. A grande Buenos Aires tem mais de 17 milhões de habitantes, de um total de algo em torno de 45 milhões de argentinos. A cidade teve duas fundações, uma que não vingou, em 1536 e outra sim, para valer, em 1580. Problemas de insalubridade e a ferocidade dos indígenas. Isso eu já fiquei sabendo quando estudei sobre as missões.
A Floralis Generica e a Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.

Bem, o nosso tour começou pela parte nobre da cidade, a que se situa mais ao norte. Recoleta e Palermo, com a primeira parada em frente a Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e na Floralis Generica, uma enorme flor em metal, que abre e fecha de conformidade com a luz solar. Foi desenhada pelo arquiteto argentino Eduardo Catalano e construída pela Lockheed, a famosa fabricante de aviões de guerra. É um dos orgulhos da cidade. Outra maravilha de Buenos Aires são os jacarandás floridos. Um azul esplendoroso. Tão abundantes quanto os nossos ipês amarelos.
No caminho, a suntuosa embaixada brasileira.


Palermo, Recoleta, o túmulo de Evita, as embaixadas, a monumental embaixada do Brasil e a 9 de julho, de ponta a ponta, com o teatro Colón, o Obelisco, O Ministério da Assistência Social, com Evita discursando. A 9 de julho é a mais importante avenida de Buenos Aires e tida como a mais larga do mundo, com 140 metros. Na esquina com a Corrientes encontra-se o Obelisco, com 67,5 metros de altura. Foi inaugurado em 1936, por ocasião do quarto centenário da primeira fundação da cidade. A 9 de julho começou a ser construída em 1912 e terminada em 1930. Sofreu, depois disso, constantes modernizações. Orgulho dos argentinos.
Ao longo da 9 de julho. Teatro Colón e o Ministério de Assistência Social. Lembrando Evita.


Enquanto isso já chegamos a Plaza de Mayo, com a Casa Rosada, catedral e o antigo cabildo. Uma parada para fotos. A Plaza de Mayo é a antiga Plaza de Armas da cidade. Ela homenageia as revoluções iniciadas em 25 de maio de 1810, que culminaram com a independência em 9 de julho de 1816. A maior fama da Praça lhe foi dada pelas mães, las locas de la plaza, como a elas se referia a cruel ditadura implantada no país em 1976. Elas ganharam notoriedade mundial. Choravam os filhos desaparecidos. A praça está passando por muitas reformas. É o principal centro da vida política da cidade.
 No meio do povão. La Boca. La Bombonera  e o Caminito.

Fomos adiante. San Telmo e sua famosa feirinha e passagem pela Boca, passando em frente ao estádio do Boca Juniors, La Bocanera, no rumo do Caminito. Era dia de jogo e os preparativos já estavam começando. O Boca é o mais popular dos clubes argentinos, fundado em 1905 por imigrantes italianos, a maioria de genoveses. Foram trabalhar de porto a porto, trocando Gênova por Buenos Aires. São os bairros originários de Buenos Aires. Hoje uma região bastante empobrecida, para dizer pouco. Ali começou o tango, uma dança absolutamente profana que foi se elitizando e lhe retirando o caráter original de uma dança pecaminosa. Muito colorido no El Caminito. O papa Francisco lá está, junto com os muitos dançarinos, sempre dispostos a uma fotografia. Lógico que fizemos uma parada.
Lateral da Casa Rosada e as torres residenciais do Puerto Madero, ao fundo.


O nosso passeio se encerraria no Puerto Madero, a nova zona nobre da cidade. Uma recuperação fantástica da área portuária. Os armazéns se transformaram em restaurantes e as áreas livres em torres residenciais, do metro quadrado mais caro da cidade. O Puerto Madero se situa aos fundos da Casa Rosada. O tour estava acabando. Quem quisesse ficar foi deixado na feira de San Telmo e o encerramento estava marcado para a 9 de julho com a Paraguay, bem pertinho do hotel. A estas alturas eu já estava com o mapa da cidade bem delineado. Pelos meus cálculos eu teria dois dias para revisitar tudo, a pé. Mas isso eu conto em outro post.

Um bom almoço e um bom descanso que a noite teríamos o show de tango, no Señor Tango. Este show é realmente um espetáculo imperdível. Hollywood é pouco, altamente profissional. Circo de Soleil em meio ao espetáculo com as bailarinas voando. Velhos músicos no bandoneón e outros nos violinos. Grandes cantores e cantoras. E um gran finale. O Não chores por mim Argentina, a música do filme sobre Evita. O show vem precedido de um maravilhoso jantar com direito a uma meia garrafa de vinho.
Show de tango. Simplesmente imperdível.


No Gran Finale fui acometido de bons sentimentos, sentimentos de grandeza e de nobreza para com Evita, pelo bem que ela fez. Como estes sentimentos só podem ser sentidos no contraste, me lembrei também dos sanguinários ditadores da Argentina e para completar, de todos os que hoje aplicam as políticas neoliberais e, para eles dediquei uma lembrança na passagem do Inferno de Dante onde, no pior dos infernos, as pessoas ficam isoladas dentro de enormes blocos de gelo. Neste isolamento, da não lembrança e da não comunicação, da não relação, da não possibilidade da alteridade, coloquei o nosso golpista presidente e o seu assecla governador do Paraná. Como viram, por eles tenho enorme apreço. Mas, cada um é o responsável pela construção de sua imagem.


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