terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Novo sindicalismo no Brasil. Histórico de uma desconstrução. Teones França.

Ao longo de minha vida sempre participei da vida sindical e política. Fui por três vezes presidente do Núcleo Sindical da APP-Sindicato em Umuarama e, em 1993, participei da eleição pela chapa OPA, que vitoriosa, me fez integrar a direção estadual do referido sindicato. Uma das principais bandeiras eleitorais foi a filiação à Central Única dos Trabalhadores, fato que ocorreu efetivamente em 1995, em memorável assembleia, na cidade de Ponta Grossa. Muito se discutiu a condição de trabalhador por parte do professor, conceito que não estava claro entre a categoria. Trabalhador usava macacão e engraxava as mãos em seu trabalho. Vivia-se uma crise de identidade.

Por uma série de razões me afastei da luta sindical para dar continuidade a minhas atividades acadêmicas. Em 1997, após conseguir a aposentadoria como professor da rede pública, fui para o mestrado em História e Filosofia da Educação na PUC de São Paulo. Após o término ingressei na Universidade Positivo, onde permaneci até o ano de 2012, quando abracei a minha profissão derradeira: administrador de tempo livre. Trabalhos de formação me aproximaram do grupo APP-Independente, um grupo de oposição à atual direção sindical, controlada pela Articulação Sindical e pela Democracia Socialista, antiga CUT pela base.

Como fiquei relativamente distante, voltei a estudar mais especificamente o movimento sindical, especialmente, para entender uma derrota eleitoral no ano de 2017, para um grupo extremamente desgastado junto à base e visto, por grande parte desta base como "administradores de perdas" e  "burocratas sindicais". No entanto, estavam amparados por uma poderosa máquina e fartos recursos financeiros.
O livro de Teones França. Novo sindicalismo no Brasil - histórico de uma desconstrução.


Por meio de colegas cheguei ao livro de Teones França, Novo Sindicalismo no Brasil - histórico de uma desconstrução. Pretendo apresentar alguns dados dessa desconstrução. O novo sindicalismo é aquele que emergiu do período da ditadura militar e que era extremamente combativo, nada colaborativo e claramente classista. Aos poucos ele foi desconstruído ao se adaptar ao mundo capitalista e à sua reestruturação produtiva. passando a ser propositivo e colaboracionista.Os principais passos nesta direção foram o "sindicato cidadão", o "sindicato orgânico", cujo passo derradeiro foi o da apropriação de verbas do FAT, em programas de requalificação profissional, em detrimento de um ensino profissionalizante dentro do sistema de educação pública. 

Tudo isso é detalhado ao longo das duas partes do livro de Teones, livro que é fruto de uma tese de doutorado junto à Universidade Federal Fluminense, e editado pela Cortez Editora no ano de 2013. Vejamos a trajetória da desconstrução: Parte 1. O sindicalismo brasileiro nos anos 1990 e as recentes transformações capitalistas. Parte 2. Sindicalismo e Estado no Brasil após 1988. Uma crescente adesão à institucionalidade.

A primeira parte é formada por três capítulos, a saber: capítulo 1. Aspectos da reestruturação produtiva no Brasil; capítulo 2. Como o sindicalismo brasileiro reagiu às atuais transformações capitalistas. Este capítulo tem três sub títulos: 2.1. Sindicalismo e reestruturação produtiva no Brasil; 2.2. Câmaras setoriais do complexo automotivo: exemplo de pragmatismo e propositivismo cutista frente às atuais transformações na produção; 2.3. O sindicalismo bem-feitor cutista - um retorno ao assistencialismo. Capítulo 3. O "Sindicato cidadão": a face do novo sindicalismo nos anos 1990. Dois sub títulos: 3.1. A nova cidadania no final do século XX; 3.2. Nova cidadania e sindicalismo cutista.

A segunda parte é formada por dois capítulos. Capítulo 4. Sindicalismo e estrutura sindical no Brasil, com três sub títulos: 4.1. Um pequeno histórico da estrutura sindical brasileira; 4.2. Novo sindicalismo e estrutura sindical e 4.3. A polêmica em torno do sindicato orgânico. Capítulo 5. Sindicalismo no Brasil e institucionalidade: outros aspectos: 5.1. Movimento sindical brasileiro e a Constituição de 1988; 5.2. Movimento sindical e pactos sociais após 1985 no Brasil; 5.3. CUT, governo FHC e a Reforma da Previdência; 5.4. Sindicalismo brasileiro e relações internacionais e 5.5. A utilização das verbas do FAT - a adesão total à institucionalidade.

O autor também deixa bem claro que a corrente majoritária da direção da CUT, a Articulação Sindical foi a grande responsável por essa desconstrução, mostrando também a atuação das demais correntes, as maiores, dentro deste quadro. O parâmetro de comparação sempre é a Força Sindical, declaradamente um sindicato de resultados, dentro da estrutura capitalista, que não pretende alterar. Um Gramsci deformado serviu de base teórica para esta desconstrução, especialmente, as categorias de hegemonia e de organicidade. Os pontos altos do livro são os comportamentos dos dirigentes frente as Câmara setoriais, na Reforma da Previdência e nas propostas do Sindicato Cidadão e Orgânico e a capitulação total com a apropriação das verbas do FAT, para a requalificação profissional.

Vejamos ainda uma parte da apresentação do livro em sua orelha: "Aqueles que como eu conheceram o sindicalismo brasileiro nos anos 1980 acostumaram-se a ver um polo mais combativo, com um discurso fortemente marcado pela defesa da autonomia de classe perante o Estado e os interesses patronais. Aquele polo, responsável por milhares de greves, tinha uma direção claramente identificada na CUT. Isso deve ser difícil de acreditar para um observador que só tenha sido apresentado ao sindicalismo cutista, nestes nossos tempos de comportamento colaborativo com o governo e os patrões". Termos como "sindicato cidadão" "comissões tripartite" "celebração de parcerias" evidencia esta guinada de desconstrução.

Nas considerações finais o autor apresenta as referências e os limites do sindicalismo em Marx, Engels, Lênin e Trotski. O sindicalismo pod ser um impeditivo para as transformações revolucionárias, na construção de uma sociedade socialista.


4 comentários:

  1. Gratificante ler seus textos e suas analises Professor. Às vezes não conseguimos compreender o Pôr que de estarmos tão perdidos enquanto sindicato e suas contribuições vem como um alento para nossa alma já meio que despedaçada diante de tantas frustrações. Obrigada professor...

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  2. Odete, tudo tem as suas causas. Como diz um amigo meu, eles pensam que conseguem domar o sistema capitalista. Agradeço o seu generoso comentário.

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