Retomo hoje o tema dos "intérpretes do Brasil". O livro que tomo como referência é Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados, um livro organizado por Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco e publicado pela Boitempo Editorial. O ano da publicação é 2014. Ao todo são trabalhados 25 autores - intérpretes, em ensaios ou resenhas apresentados por especialistas. O foco do livro são os autores que resultaram das transformações brasileiras dos anos 1920 (tenentismo, semana da arte moderna, PCB), quando se inicia no Brasil a denominada modernização conservadora. São apresentados a primeira e a segunda geração desses intérpretes.
Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados. Boitempo Editorial. 2014.
O primeiro deles é OCTÁVIO BRANDÃO, que é apresentado por João Quartim de Moraes. A sua apresentação ocupa as páginas 13 a 25. Octávio Brandão nasceu no interior de Alagoas, em Viçosa, no ano de 1896 e veio a falecer em 1980, na cidade do Rio de Janeiro. A sua história de vida é toda ela dedicada ao PCB, o chamado Partidão.
Octávio Brandão, como já apontamos, nasceu em Viçosa - AL (hoje 26.249 habitantes). A família era proprietária de uma farmácia, fato que o encaminhou para esses estudos em Recife. Nasceu, segundo afirmação sua, em meio a latifúndios e, obviamente, a todas as suas consequências. Do pai, afirma também, que a maior herança recebida. foi a sua coragem moral. Os seus estudos o levaram ao gosto pelas ciências da natureza, mas, ele se destacou mesmo, foi como agitador social. Os fatos o levaram para esse lado. Já no Rio de Janeiro, na qualidade de pacifista, assina manifesto contra a primeira guerra mundial. O fato de ser pacifista e de se preocupar com a justiça social, o torna uma presença incômoda na sociedade carioca e um pensador marcado.
No Rio de Janeiro, os primeiros contatos serão com os pensadores anarquistas, mas deles, logo derivará para o comunismo. Pela não consideração do Estado, julgou o anarquismo como uma doutrina sem futuro. Os contatos com o pensamento de Marx o levaram à fundação do PCB, o partidão, em 1922. Os seus primeiros estudos o fizeram prever os conflitos brasileiros entre o setor agrário e a industrialização. Dedicou-se também aos estudos do imperialismo. Chegou a eleger-se vereador no Rio de Janeiro. A perseguição de Vargas aos comunistas o levou ao exílio na URSS. Em 1957 faz uma autocrítica de seus estudos sobre o agrarismo X industrialismo, numa questão complicada, interna às questões de hierarquia partidária centralizada. Da URSS, faz também o seu observatório sobre a segunda guerra. Antes já se envolvera em outra complicada questão que envolveu a (NÃO) libertação de Olga Benário.
Também continuou com a sua obra teórica, analisando quatro séculos de colonialismo, envolvendo a matança das populações indígenas e a escravidão. Não é nem um pouco conivente com a "hipocrisia" religiosa desse período, entrando em conflito, especialmente, com os padres jesuítas. Em 1947, o encontramos de volta ao Rio de Janeiro, mais uma vez como vereador da cidade.
O seu pensamento, segundo o resenhista, foi recuperado dentro da história, a partir dos anos 1980, a partir das obras de Edgar Carone sobre a República Velha e de John Foster Dulles, sobre os anarquistas e comunistas no Brasil. O autor da resenha também é participante das pesquisas que resultaram na publicação dos seis volumes da História do marxismo no Brasil, dos quais João Quartim de Moraes é um dos autores e organizadores. Creio que podemos afirmar que Octávio Brandão se enquadra bem dentro dos autores do subtítulo do livro: clássicos, rebeldes e renegados, especialmente como rebelde e renegado.
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