domingo, 7 de agosto de 2016

Viagem a Cuba. 9. Também há coxinhas em Cuba.

Em Cuba procuramos conversar com muita gente. Perguntamos muito. A pergunta sempre é o grande método para aprender. Conversamos com as pessoas da hospedagem, com os taxistas, com estudantes, enfim com quem cruzou conosco em nossa viagem. Encontramos as mais diferentes opiniões com relação ao sistema político, econômico e social de Cuba. A maioria se mostra favorável ao sistema, outros são bem moderados em suas falas e, um taxista, de modo todo particular, nos chamou muito a atenção. Era absolutamente um coxinha.
Conversamos com muitos taxistas. Não fotografei o coxinha. Os táxis são um espetáculo muito particular em Cuba.


Foi logo falando que ele odeia o governo cubano e que ama os Estados Unidos e que, na primeira oportunidade que tiver, se manda para Miami, onde já moram muitos de seus familiares. Ele é engenheiro mecânico por formação, formado pelo gratuito sistema de educação cubano. Quais eram os seus argumentos? Fiquei estarrecido. Parecia um coxinha brasileiro falando. Existe uma total uniformidade nos argumentos e nas acusações. Cito os principais.

Em primeiro lugar vem a acusação de que o governo é corrupto, que a placa na entrada de Varadero, que diz que todo o dinheiro ali arrecadado é investido em favor do povo cubano, é mentirosa. Que os Castro são os donos de todas as grandes indústrias do país, como a fábrica de charutos da Cohiba e a do Ron Havana Club. Só faltava dizer que também era da Friboi, da Havan e outras mais, como ocorre com o Lula aqui no Brasil.
Não é este o taxista coxinha. Este é o companheiro Marco Aurélio de São João do Triunfo. Um Ford 1928, com motor Volkswagen.
Outra acusação, feita com muita expressão de ódio, foi contra a situação da moral sexual no país. Afirmou que o governo cubano emporcalhou a moral do país ao permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que por isso sente profunda vergonha em ser cubano. Por fim, levantou a sua camiseta mostrando o corpo tatuado com a bandeira dos Estados Unidos e reafirmando que ama os Estados Unidos. O que mais impressionou, volto a frisar, é uniformidade do discurso. Ele é universal.

Fiquei pensando. Será que existe um intelectual orgânico que padroniza este discurso ou seria o reflexo da personalidade autoritária embutido na cultura ocidental, cristã e capitalista, estudada por Adorno? Eu particularmente acredito mais nesta segunda versão. Tenho esta convicção em função de tantos acontecimentos recentes, mundo afora, que apontam todos nesta mesma direção. Estão por acontecer coisas no mundo, em que talvez chamarão o ocorrido em Auschwitz de um nazismo brando, pegando carona da ditabranda, referência que a Folha de S.Paulo fez com relação a ditadura civil militar brasileira. A serpente está bem delineada dentro do ovo.
O táxi mais bonito que pegamos.


Devo dizer que este episódio foi isolado, mas não deixa de ser uma constatação. O taxista também evidencia que ele pode falar. Certamente não fomos nós os únicos a quem ele falou. O esquema de fuga para Miami continua a existir. Se a pessoa consegue por os pés na terra dos Estados Unidos, ele é acolhido. Deixo ainda com vocês uma definição de coxinha, que eu recebi de um ex aluno meu. Ela é bem humorada e profundamente irônica. Fiz um Ctrl C e um Ctrl V, para mostrar aqui. Não interferi na definição.
E... para os coxinhas, uma homenagem.

"Me perguntaram o que é um Coxinha. Fui no dicionário e lá estava:
Coxinha : Pessoa nascida no Brasil,altamente influenciável, anti-PT, anti-tudo,odeia tudo que se faz no seu país,apartidário,odeia Cuba ou qualquer outro país latino-americano, ama os EUA (principalmente Miami), leitor de Veja(?),acredita na Globo(?),odeia a Rússia (ou qualquer outro país que conteste os EUA),odeia muçulmanos, acredita em um golpe comunista iminente. Acha que todas as ditaduras assassinas do mundo foram comunistas, desconhece a existência de ditaduras capitalistas (inclusive é simpático à ditadura brasileira, de 1964 a 1985). Defende o Estado mínimo na hora de cobrar impostos e Estado máximo na hora que precisa de seus serviços, é fã de Jair Messias Bolsonaro, odeia Lula, acredita em super-heróis (Joaquim Barbosa de capa) e não em partidos, simpatiza com o PSDB(?) e no DEM(?). Agora vai votar na Marina Silva porque a revista Veja está fazendo propaganda para ela. Não tem ideologia , não confia em nenhum político(principalmente no Lula) , não gosta de direitos iguais,gosta do Status Quo, acredita somente no dinheiro e na meritocracia(?), odeia o comunismo,socialismo ou qualquer coisa parecida, desconhece que os países com maior IDH no mundo tem a carga tributária próxima a 50% do PIB (Suécia, Suíça, Dinamarca), o que é muito superior à brasileira (36% do PIB). Apesar disso, sempre fala que "o Brasil tem a maior carga tributária do mundo". Também desconhece o fato de que os países com menor IDH no mundo tem a cargas tributárias baixas, por volta de 10% do PIB (Somália, Uganda, Índia). Acredita cegamente que o capitalismo é o sistema mais justo do mundo, ignora a Crise de 2008 (em que o Estado socorreu o "livre mercado" com dinheiro público e evitou uma tragédia), idolatra as grandes empresas que aparece na Exame, seus ídolos são George Soros e Warren Buffet, odeia o Bolsa Família,as Cotas em universidades,o Minha Casa,Minha Vida,o Pronatec,o Enem,o Mais Médicos ou qualquer outra coisa petista.
Se você se identificou com algumas características do Coxinha,não se preocupe......tem cura!"

O fato em comum é que detestam políticas públicas de inclusão social e defendem abertamente as políticas que promovem a exclusão social. Como pode? E atualizando no tempo. Sérgio Moro substitui Joaquim Barbosa como o novo ídolo.

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