sábado, 17 de setembro de 2016

31 de agosto de 2016. É golpe!

Este texto constará apenas de frases marcantes sobre o golpe, que afastou Dilma Rousseff da Presidência da República, retiradas das minhas leituras, especialmente as mais recentes. Lembrando antes, que ela ascendeu ao cargo, eleita por 54,5 milhões de votos. Para retirá-la do poder bastaram 61 votos de obscuros senadores, a maioria sob suspeita de corrupção. Um golpe brando, como estão dizendo, mas de consequência de violências sociais inimagináveis. Creio que podemos dizer que a cidadania brasileira estava assentada sob três pilares básicos. Uma legislação trabalhista, já antiga e as conquistas do SUS e da Seguridade Social com a Constituição de 1988. O golpe, como já podemos perceber, fulmina exatamente estas conquistas. Como as frases são extremamente significativas, não necessitam comentários.
Livro de análise. Jessé Souza presidia o IPEA.

Sobre Sérgio Moro: "A juventude do homem de olhar sempre focado no horizonte distante, de rosto quadrado, cabelo bem-cortado, de terno e camisas escuras e poucos sorrisos no rosto sério montam a estética perfeita para o discurso 'doa a quem doer' e do estamos 'refundando o Brasil'. Sérgio Moro foi a figura perfeita para a estratégia do golpe funcionar, seja para a classe média nas ruas que o via como um dos seus, seja para os membros do aparelho jurídico-policial que o percebiam como a encarnação perfeita do partido corporativo que se traveste de partido do bem-comum. Jessé Souza. A radiografia do golpe. Pág. 119-20.

Sobre o poder judiciário: "Existe uma correspondência perfeita entre a classe média alta que saiu às ruas com o perfil do novo tipo de operador jurídico que se instala no Estado. Com os mais altos salários do setor público e privilégios de todo tipo - que se juntam ao salário de modo permanente -, com os quais os cidadãos mortais jamais sonham, esses operadores se percebem como empresários de si mesmos e sonham com níveis de vida dos grandes advogados das bancas privadas. Eles buscam combinar a segurança e a estabilidade do setor público, cuja contraparte são salários moderados, com os altos salários e vantagens das bancas privadas sem o risco e a insegurança que permeiam o mercado".  Jessé Souza. A radiografia do golpe. Pág. 120.

Sobre a popularidade de Moro e Lula: "... A essa altura, o engodo e a fraude atingiam seu clímax. Sérgio Moro, homem do ano da revista Isto é e personalidade do ano do jornal O Globo, foi blindado pela mídia e se tornou, na prática, a única figura de direita desde a ascensão de Lula em 2002 a rivalizar com ele em prestígio. Contra o 'campeão do combate à desigualdade', criava-se o 'campeão da luta pela moralidade' [...] 'dos moralistas de ocasião'". Jessé Souza. A radiografia do golpe. Pág. 125-6.

Sobre os envolvidos na articulação do golpe: "É a articulação desses três elementos principais - mídia venal, congresso reacionário e comprado e a fração mais corporativa e mais moralista de ocasião da casta jurídica - que municiou e municia constantemente o golpe. Esses três atores trocam vazamentos ilegais e todo tipo de ilegalidade antidemocrática com tanta habilidade como o time do Barcelona troca passes". Jessé Souza. A radiografia do golpe. Pág. 131.
Um livro com abordagem por áreas, feitas por especialistas.

Sobre os três pulsos que articularam o golpe: "O primeiro foi da banda podre da nossa política, que deseja obstruir a justiça barrando a operação Lava Jato, operação essa que revela as entranhas da corrupção no Brasil. O segundo se destina a reter todos os recursos destinados aos direitos sociais para colocá-los a serviço do pagamento dos juros da dívida pública. Neste caso estão, por exemplo, o tabelamento dos gastos com saúde e educação, que evidentemente afetarão a vida da grande massa da população brasileira, em favor de 10 mil famílias que vivem do capital especulativo. E, por fim, está o terceiro pulso, que é motivado pela tentativa de destruir o esforço de afirmação da soberania nacional entregando petróleo e outras riquezas para o capital estrangeiro". Ciro Gomes em Por que gritamos golpe? Pág. 40

Sobre a movimentação de classes durante os governos do PT. "Por esse critério (divisão mercadológica das classes sociais), chegou-se à conclusão de que, entre 2003 e 2011, as classes D e E diminuíram consideravelmente, passando de 96,2 milhões de pessoas para 63,5 milhões. No topo da pirâmide houve crescimento das classes A e B, que passaram de 13,3 milhões de pessoas para 22,5 milhões. Mas a expansão verdadeiramente espetacular ocorreu na classe C, que passou de 65,8 milhões de pessoas para 105,8 milhões". Marilena Chauí em Por que gritamos golpe? Pág. 15-6, com dados fornecidos pelo IPEA.

Sobre a corrupção: "Ao mesmo tempo, seja por inexperiência, seja pela permanência de um compromisso moral, os governos petistas não foram capazes de sustar as investigações, como faziam seus antecessores; ao contrário, reforçaram os aparatos de controle do Estado. Com a ascensão de um grupo altamente adestrado e ideologizado de promotores e juízes, em parceria deliberada com a grande mídia, estava montado o cenário para a criminalização do petismo (e da esquerda)". Luis Felipe Miguel, em Por que gritamos golpe? Pág. 33.

Sobre o ódio à democracia que promove mudanças na base da pirâmide social: "Nos últimos anos, o Brasil se tornou um exemplo de inclusão social, com dezenas de milhões de pessoas saindo da pobreza e da miséria para terem uma vida melhor. [...] Entretanto, um número expressivo de membros da classe média os desqualifica, alegando diversos pretextos. Para eles, o Brasil era bom quando pertencia a poucos. Assim quando os polloi - a multidão - ocupam os espaços antes reservados às pessoas de 'boa aparência', uma gritaria se alastra em sinal de protesto. O que é isso, senão o enorme mal-estar dos privilegiados quando se expande a democracia"? Renato Janine Ribeiro, na orelha do livro O ódio à democracia, de Jacques Rancière.
Crônicas de resistentes e indignados.

Sobre a semelhança com o golpe de 1964: "A democracia que eles tentam impingir-nos é a democracia antipovo, do antissindicato, da antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício". João Goulart, citado por João Alexandre Goulart, neto do ex presidente, em Crônicas da Resistência 2016. Pág. 34.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.