Hoje (22 de setembro) foi um dia de grande indignação. Neste Brasil pós golpe não existe mais o mínimo respeito ao ser humano, nenhuma consideração com a dor alheia, em momentos em que o próprio momento impõem uma dor suprema e insuportável. Me refiro ao fato da prisão do ex ministro Guido Mântega e as circunstâncias em que ela foi feita.
Foi preso dentro do hospital, onde se encontrava acompanhando uma cirurgia de Câncer da esposa. Quem viveu próximo a uma cena dessas sabe da dor desses momentos. São momentos em que até acompanhamento psicológico se torna necessário. É um momento em que acima de tudo o conforto da presença passa a ser um importante elemento de cura. Mas a sanha é tamanha! É inacreditável. Me veio imediatamente à memória o livro de Primo Levy É isso um homem?, onde ele relata o ocorrido como prisioneiro em Auschwitz.
Também me lembrei de Maquiavel, da seguinte frase: "Não inflige dor um porco a outro - um cervo a outro: somente o homem outro homem mata, crucifica e despoja". A sua soltura não se deu pelo motivo humanitário, mas porque as provas já haviam sido coletadas e ele não poderia mais interferir com relação às provas.
Agora vi o Juca Kfoury citando Brecht. Achei oportuno reproduzir. O momento exige.
Primeiro levaram os negros
Mas eu não me importei com isso
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários
Não me importei com isso
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram alguns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
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