sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A Sociedade 20 por 80. Uma nova civilização?

Trago comigo um livro particularmente valioso. Ele foi lançado na Alemanha em 1996 e no Brasil, pela Editora Globo, em 1998. Este também foi o ano em que eu o adquiri. Trata-se de A Armadilha da Globalização - O assalto à democracia e ao bem-estar social, dos social democratas alemães  Hans Peter Martin e Harald Schumann. A partir daí, o primeiro capítulo deste livro sempre fez parte do currículo que eu preparava, para as aulas de Teoria Política.
 Um livro que me acompanha. Não apenas o primeiro capítulo.

Este primeiro capítulo tem por título A sociedade 20 por 80. Dirigentes mundiais rumo a uma nova civilização. Nele os autores relatam um encontro da elite mundial no Fairmont, um dos mais luxuosos hotéis do mundo, situado em São Francisco da Califórnia. Com este título pré anunciam uma realidade absolutamente trágica. Nós, aqui no Brasil, não sentimos tanto esta tragédia, porque em 2002 foi eleito um governo contrário às políticas postas em prática por estes globalplayers. Como hoje, a partir do golpe 2016, sentimos os efeitos perversos de um sistema alinhado com estas políticas é que eu retomo este texto.

Os cerca de 500 globalplayers foram comandados por Mikhail Gorbachev e eram constituídos pelos políticos mais influentes do mundo, pelos donos do planeta do mundo industrial da alta tecnologia, pelos magnatas da comunicação e pelos economistas (de notório saber - só para ajudar a banalizar o termo) das grandes universidades estadosunidenses, Harward, Stanford e Oxford, em particular. A presença feminina ficou restrita a belas moças, munidas de placas para o controle do tempo e curtas saias. Eram as sereias, cujos (en)cantos não podiam ser usufruídos, pois o conclave tinha como fim precípuo, ou como escopo, usando outra palavra da moda, anunciar as bases para uma nova civilização.

Um dos painéis mais concorridos era o que vaticinava sobre o futuro do trabalho. O dono de uma grande corporação, com mais de 16.000 trabalhadores diz que apenas 7 ou 8 seriam absolutamente necessários. Os outros não resistiriam a qualquer racionalização que a empresa quisesse efetivar. Todos poderão ser contratados ou demitidos por computador. As inimagináveis massas de desempregados são vistas com a maior naturalidade. O que fazer? E uma constatação: No futuro não serão mais criados novos empregos decentes nas sociedades tecnologicamente avançadas.

Duas novas expressões ganharam força nestes três dias de seminário. A primeira é a do título: 20 por 80. Isto, é, apenas 20% da população será necessária para fazer a roda da economia girar. Isto tanto no trabalho como  no consumo. Os outros 80% simplesmente ficam fora de qualquer perspectiva.  Para cuidar deles, os 80% de sobrantes, outro notório ofereceu a sua contribuição. Zbigniew Brzezinski ex assessor de Jimmy Carter e especialista em geoestratégias, trouxe ao debate a expressão tittytainement, um acoplamento das palavras entertainemt (diversão) e tittys (seios ou tetas na gíria estadosunidense). Mas, mesmo somando a palavra seios e diversão, o sisudo homem não pensou em sexo. Por seios, ele entendia leite, alimento.

Por tittytainement ele entendia diversão anestesiante e alimento. Nada de novo. Apenas uma re verbalização da velha expressão romana do pão e do circo. Assim 4/5 da humanidade viverão às custas de 1/5 dos privilegiados. E estes 1/5, ou os 20% ainda poderão ser felizes também no outro mundo. Pois, facilmente ganharão a vida eterna, pois com a sua caridade (que poderá ser fartamente praticada com a existência de tantos pobres) e com a sua intransigente defesa da vida (pela criminalização do aborto para o mundo dos pobres) garantirão os melhores camarotes celestiais, eternizando assim o seu mundo de privilégios pelos séculos dos séculos. E que assim não seja. Amém.

Recentemente, ao ler O Cortiço, vi na imagem descrita em 1890, o futuro do Brasil. No livro A Luta contiunua crônicas da resistência, escrevi um texto sob o título 50 em 5. Para trás, enfatizando o desmonte da democracia e da cidadania em tempo recorde e agora mostro a visão de dois cientistas políticos sobre o futuro da humanidade. Apenas apliquei um pouco desta realidade ao Brasil. Uma pátria, uma nação que quer se transformar em "mercado emergente",conforme expressão de FHC, como uma mera plataforma de uma livre zona de exportação.

2 comentários:

  1. Li esse livro em 1999 na "Livraria Siciliano" em Vitória/ES, enquanto esperava minha filha pequena voltar do cinema. Li até a página 80, larguei de lado e nunca mais... estava tendo náuseas, ficando tonto, quase vomitando... Nunca deixei de falar dele com as pessoas. Agora, passados quase 20 anos, mais maduro e preparado, tentarei comprá-lo para ler... os tempos estão maduros... toda a miséria prevista nele está acontecendo... pobre ser humano! Não há esperança num mundo onde "aqui não tem nenhuma bom, nem mesmo um", continua a dizer o Homem de Nazaré...

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  2. Uma triste realidade, Wilson. Agradeço o seu comentário. À medida que nos afastamos de Auschwitz passamos a ignorar as suas causas e, assim este fato tende a se repetir. Triste.

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