sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Da contestação à conformação. A formação sindical da CUT e a reestruturação capitalista.

No último parágrafo do livro Da contestação à conformação - A formação sindical da CUT e a reestruturação capitalista se lê: "Por enquanto, o que efetivamente existe é a constatação segundo a qual, no contexto do novo padrão de acumulação de capital, a CUT e, por desdobramento, sua política de formação, caminharam de uma perspectiva combativa, classista e anticapitalista para uma conformação adequada à ordem capitalista, o que, na minha opinião, tem significado uma vitória do capital e, consequentemente, uma derrota para a classe trabalhadora". É mais ou menos o enunciado do próprio título.
O livro de Paulo Sérgio Tumolo, Da contestação à conformação - A formação sindical da CUT e a reestruturação capitalista. 

O livro de Paulo Sérgio Tumolo é o resultado de seus estudos de doutoramento, desenvolvidos na PUC/SP, no famoso Programa de História e Filosofia da Educação, desenvolvidos ao longo dos anos 1995-1999. O livro, editado pela Unicamp, é datado de 2002. O tema é desenvolvido ao longo de uma introdução e de cinco capítulos, sendo que o capítulo 4 chega ao âmago da questão da formação. Vamos situar rapidamente estes capítulos. I. O novo padrão de acumulação de capital e os decorrentes processos de trabalho; 2. As transformações no mundo do trabalho e o movimento sindical; 3. O percurso da Central Única dos Trabalhadores; 4. A formação sindical da CUT: Da formação político-sindical à formação profissional; 5. Transformação social, consciência de classe e educação dos trabalhadores.

No primeiro capítulo, passando pelos mais abalizados referenciais teóricos, é mostrada a passagem do modelo fordista/taylorista para o toyotismo, que terá como característica uma maior exploração dos trabalhadores e uma, ainda maior, acumulação de capital. No segundo capítulo são mostradas as consequências desta reestruturação produtiva, a intimidação dos movimentos sindicais pelo mundo afora, gerando enorme crise nos seus movimentos.

No terceiro capítulo começa a maior especificidade de seu tema, abordando a fundação da CUT, em 1983 sob os princípios de um sindicalismo classista, anticapitalista e extremamente combativo, para depois, aos poucos, entornar o seu movimento para a acomodação, através das negociações das câmara setoriais em comissões tripartite. Passa a ser um sindicato propositivo, um sindicato do sim, atuando no interior do sistema capitalista, que já não quer mais destruir. Democracia e cidadania são as novas palavras de ordem. É também o momento da aproximação da central com as centrais social democratas mundo afora, com a filiação à CIOSL. A tendência interna Articulação se torna amplamente majoritária.

O capítulo quarto é o mais denso e volumoso dos capítulos e a espinha dorsal do livro. Mostra os trabalhos de formação desenvolvidos pela CUT. Estes trabalhos acompanham a lógica da trajetória política da central. Estes trabalhos são divididos em três diferentes períodos: o primeiro vai da fundação até o ano de 1987. Sobre este período o autor aponta dificuldades até em encontrar material, enfatizando uma tendência ao esquecimento. É o período em que havia trabalho militante e espontâneo e a luta política ainda não estava tão demarcada. A secretaria de formação era ocupada por Ana Lúcia da Silva, de uma tendência trotskista. A partir de 1987, por oito anos consecutivos e por três mandatos, a secretaria foi ocupada por Jorge Lorenzetti, da Articulação. O período é marcado pela passagem das escolas conveniadas para as escolas orgânicas. Na orientação da formação desaparecem as perspectivas classista e socialista e as novas palavras chave serão as da negociação, proposição, democracia e cidadania. A partir de 1994 a secretaria estará nas mãos de Mônica Valente. É o período em que começam os núcleos temáticos e a disputa com o sistema S pela formação profissional, entrando na disputa de verbas públicas e ajudando, inclusive, a deslocar a formação profissional da educação pública, no ensino regular. Combater o desemprego era a justificativa. Este período chega ao apogeu quando a CUT passa a ter a sua Escola/Empresa, a Escola Sul, sediada em Florianópolis. Tudo isso é longamente trabalhado e documentado.

No quinto capítulo volta a questão da formação sob a perspectiva de como ela deveria ser na perspectiva classista, de não conformação ao sistema capitalista em troca do usufruto das benesses burguesas, como ele demonstra ter ocorrido. Elas jamais serão para todos. Marx, Engels, Rosa de Luxemburgo, Gramsci serão sempre as referências. A formação deve ser uma elevação, uma saída do senso comum com os trabalhos que possibilitem a consciência de classe e as transformações que serão fruto de uma consciência revolucionária.

Uma triste trajetória. No exato momento em que os avanços do capitalismo se dão e a sua exploração é aprofundada, a maior central sindical acompanha este movimento com a sua acomodação, sob o comando de uma tendência que fez de tudo para se afirmar majoritária. A central se verticalizou e se tornou uma instituição burocrática e, em seus congressos de deliberação, o número de participantes da base se tornou cada vez menor. O livro é uma grande referência para a retomada de princípios que estejam em sintonia com os ditames de fundação da própria central sindical. Um retorno aos princípios originários. Livro necessário para a reflexão e para dar os próximos passos. Esta acomodação tem sujeitos.

6 comentários:





  1. Caro amigo Pedro Eloi, estou em pleno acordo com Tumolo. Reconheço a CUT de origem classista, em defesa dos trabalhadores - daqueles que vivem do trabalho - e com uma pauta social e de ruptura com o capital. A CUT, em grande medida, com o passar dos anos, assim como o PT, adotou a tese da colaboração de classes. Todos sabemos quem perde com isso...

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    1. Eu acompanhei esta trajetória a partir de 1993. Participei ativamente do processo de filiação da APP-Sindicato à CUT. Foi um belo trabalho em que muitos professores (as) afirmaram a sua identidade como trabalhadores e assumiram a prática de que a escola pública é o local onde os filhos da classe trabalhadora estudam. Um compromisso de solidariedade de classe. Foram belos momentos na vida. Mas... Agradeço o seu comentário.

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  2. Penso que podemos convidar Tumulo para nosso curso de formação sindical. Abraços

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    1. Plenamente de acordo. Adoraria ouvi-lo e com ele estabelecer diálogos.

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