No livro organizado por Paulo Ghirardelli Jr. (sem comentários) Infância, escola e modernidade, encontramos um precioso texto de autoria de José Carlos Libâneo, sob o título de Pedagogia e modernidade: presente e futuro da escola. Neste texto o autor apresenta as características da pós modernidade, com uma precisão de síntese maravilhosa. Publico estas características em virtude de um curso junto com um grupo que estuda a formação do pensamento ocidental. Vamos ao texto.
1). Do ponto de vista filosófico, o pós-moderno rejeita certas ideias mestras formuladas no âmbito do Iluminismo e da tradição filosófica ocidental: a existência de uma natureza humana essencial, a ideia de um destino humano global ou coletivo, a ideia de que os fatos, os acontecimentos, as opiniões, se juntam numa totalidade, a ideia de que se pode ter uma teoria condutora da nossa ação pessoal e coletiva. Em troca dessas categorias universais, haveria ações específicas de sujeitos individuais ou de grupos particulares, existências particulares e locais, diferenças culturais, étnicas, raciais. Não se contaria mais com sistemas teóricos de referência, sejam eles lastreados na ciência, na ideologia ou na religião. Por isso são rejeitadas as teorias totalizantes do marxismo, do hegelianismo, do cristianismo e de outras baseadas em noções de causalidade, em soluções totais que tudo englobam a respeito do destino humano. Os "pós-modernos" também criticam uma elite intelectual que se julga vanguarda dos movimentos sociais, como se fossem donos do destino da sociedade. Em vez desse vanguardismo, argumentam em favor de uma pluralidade de vozes e narrativas, em torno de demandas de novos atores sociais, contemplando suas diferenças culturais, a partir de configurações particulares de espaço, lugar, tempo e poder.
2). Do ponto de vista econômico, há uma desconcentração do capital, com a internacionalização dos mercados; ocorrem transformações técnico-científicas que afetam o processo produtivo e, em consequência, a organização do trabalho, o perfil da força de trabalho, levando à expansão da força de trabalho dedicada ao trabalho não-manual; há uma internacionalização do processo de produção à base de uso mais amplo do conhecimento, da informatização, dos sistemas de comunicação, demandando mão de obra mais qualificada.
3). Do ponto de vista político, reduz-se a crença moderna no Estado-Nação, à medida que as forças de produção que conduzem a economia global estão cada vez mais se dispersando através do multinacionalismo das empresas, inclusive fora do bloco das nações industrializadas ocidentais. Há além disso, uma redução do poder de atração e convicção dos ideais da modernidade relacionados à vida pública, levando a uma atitude de desconfiança à prática política convencional ou mesmo a uma despolitização. Por outro lado, tendem a crescer os movimentos particularistas, locais, setorizados, dando à política uma conotação diferenciada.
4). Do ponto de vista cultural, há mudanças nas formas de produção, circulação e consumo da cultura dentro de um remapeamento e uma contestação dos ideais modernistas da racionalidade, da totalidade, da verdade, do progresso, de uma razão razão universal sobre o lugar do indivíduo na história e na sociedade. Segundo a interpretação de Braudillard, citado por Giroux, os signos substituem a lógica da produção e do conflito de classe. Há uma proliferação de significados, gerando uma sociedade em que imperam as simulações, num mundo de imagens e fantasias eletrônicas. É uma sociedade saturada de mensagens da mídia que não tem correspondência com conteúdos modernos tais como valores humanos, dignidade, luta política, ação do sujeito, ideologia etc. Não há nada que se assemelhe a uma apreensão da essência do real, a uma leitura em profundidade do real. Nada que requeira uma epistemologia que assegure a validade da verdade. Ao contrário, a realidade está na superfície, no espetáculo, nos simulacros, providos por novas fontes de tecnologia e informação. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Modernidade: presente e futuro da escola. In: GHIRARDELLI JR. Paulo. Infância, escola e modernidade. São Paulo e Curitiba. Cortez e UFPR. 1996. Páginas 127-174.
A pós-modernidade é um grande DES - de desconstrução. Vejam no campo econômico: desestatização -desnacionalização; desregulamentação - desconstitucionalização; desuniversalização - desproteção.
O desumano e o pós-moderno:
Duas recomendações: Os dois livros acima.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo. Loyola. 1992.
JAMESON, Frederic. Pós-modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo. Ática. 1997.
1). Do ponto de vista filosófico, o pós-moderno rejeita certas ideias mestras formuladas no âmbito do Iluminismo e da tradição filosófica ocidental: a existência de uma natureza humana essencial, a ideia de um destino humano global ou coletivo, a ideia de que os fatos, os acontecimentos, as opiniões, se juntam numa totalidade, a ideia de que se pode ter uma teoria condutora da nossa ação pessoal e coletiva. Em troca dessas categorias universais, haveria ações específicas de sujeitos individuais ou de grupos particulares, existências particulares e locais, diferenças culturais, étnicas, raciais. Não se contaria mais com sistemas teóricos de referência, sejam eles lastreados na ciência, na ideologia ou na religião. Por isso são rejeitadas as teorias totalizantes do marxismo, do hegelianismo, do cristianismo e de outras baseadas em noções de causalidade, em soluções totais que tudo englobam a respeito do destino humano. Os "pós-modernos" também criticam uma elite intelectual que se julga vanguarda dos movimentos sociais, como se fossem donos do destino da sociedade. Em vez desse vanguardismo, argumentam em favor de uma pluralidade de vozes e narrativas, em torno de demandas de novos atores sociais, contemplando suas diferenças culturais, a partir de configurações particulares de espaço, lugar, tempo e poder.
2). Do ponto de vista econômico, há uma desconcentração do capital, com a internacionalização dos mercados; ocorrem transformações técnico-científicas que afetam o processo produtivo e, em consequência, a organização do trabalho, o perfil da força de trabalho, levando à expansão da força de trabalho dedicada ao trabalho não-manual; há uma internacionalização do processo de produção à base de uso mais amplo do conhecimento, da informatização, dos sistemas de comunicação, demandando mão de obra mais qualificada.
3). Do ponto de vista político, reduz-se a crença moderna no Estado-Nação, à medida que as forças de produção que conduzem a economia global estão cada vez mais se dispersando através do multinacionalismo das empresas, inclusive fora do bloco das nações industrializadas ocidentais. Há além disso, uma redução do poder de atração e convicção dos ideais da modernidade relacionados à vida pública, levando a uma atitude de desconfiança à prática política convencional ou mesmo a uma despolitização. Por outro lado, tendem a crescer os movimentos particularistas, locais, setorizados, dando à política uma conotação diferenciada.
4). Do ponto de vista cultural, há mudanças nas formas de produção, circulação e consumo da cultura dentro de um remapeamento e uma contestação dos ideais modernistas da racionalidade, da totalidade, da verdade, do progresso, de uma razão razão universal sobre o lugar do indivíduo na história e na sociedade. Segundo a interpretação de Braudillard, citado por Giroux, os signos substituem a lógica da produção e do conflito de classe. Há uma proliferação de significados, gerando uma sociedade em que imperam as simulações, num mundo de imagens e fantasias eletrônicas. É uma sociedade saturada de mensagens da mídia que não tem correspondência com conteúdos modernos tais como valores humanos, dignidade, luta política, ação do sujeito, ideologia etc. Não há nada que se assemelhe a uma apreensão da essência do real, a uma leitura em profundidade do real. Nada que requeira uma epistemologia que assegure a validade da verdade. Ao contrário, a realidade está na superfície, no espetáculo, nos simulacros, providos por novas fontes de tecnologia e informação. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Modernidade: presente e futuro da escola. In: GHIRARDELLI JR. Paulo. Infância, escola e modernidade. São Paulo e Curitiba. Cortez e UFPR. 1996. Páginas 127-174.
A pós-modernidade é um grande DES - de desconstrução. Vejam no campo econômico: desestatização -desnacionalização; desregulamentação - desconstitucionalização; desuniversalização - desproteção.
O desumano e o pós-moderno:
A idade do humanismo está acabando. Achille Mbembe.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2017/02/a-idade-do-humanismo-esta-acabando.htmlDuas recomendações: Os dois livros acima.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo. Loyola. 1992.
JAMESON, Frederic. Pós-modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo. Ática. 1997.
Como você vê tudo isto?
ResponderExcluirO louco! Isso é tema para muita conversa. O fato do pós moderno é inegável. O nihilismo triunfou. Continuo acreditando na razão mas a sua insuficiência também é uma realidade. Gosto deste texto do Boff. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2015/07/tres-tipos-de-razao-razao-intelectual.html - Agradeço o seu questionamento.
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