Cheguei a este livro pela leitura de A Pátria Educadora em Colapso, de Renato Janine Ribeiro. Pode até parecer estranho, mas não é. Eu explico. Como Ministro da Educação ele pretendia abrir os arquivos da Guerra do Paraguai e priorizar bolsas de estudo que investigassem a fundo os horrores da maior guerra que envolveu a América do Sul. Em conversa com a presidente Dilma, esta lhe fez referências a este livro. Isso despertou a minha curiosidade.
O livro Calúnia - Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai.
O livro Calúnia - Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai.
Calúnia - Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai é de autoria de dois pesquisadores irlandeses, conterrâneos, portanto, de Elisa Lynch, a toda poderosa "rainha" irlandesa do Paraguai. Era a companheira de Francisco Solano López, com quem teve sete filhos, sem nunca ter sido casada com ele. Se conheceram em Paris e ela o acompanhou antes e durante todo o período da longa guerra (1864-1870). Além de companheira preferida, era também a sua grande confidente e responsabilizada por muitos detratores e de modo todo especial, pelas damas da sociedade de Assunção, como responsável pelas atrocidades cometidas pelo ditador, que aumentavam na exata medida em que o final da grande guerra se aproximava.
A curiosidade se aguçou e encontrei o livro com relativa facilidade. A narrativa vem num crescendo, que te envolve por completo, ao longo de seus treze capítulos. Dou os títulos: Em busca de Elisa Lynch; Monsieur e Mrs. Quatrefages; Seria uma cortesã?; Entra Panchito; Paraguai - o Paraíso de Maomé; A rainha do Paraguai; Triunfo; Desastre; Inferno; Cerro Corá; Nos tribunais de Edimburgo; A última traição: A volta a Assunção e, por último, Um coração tornou-se frio. Além disso, há um prólogo sobre os passos da pesquisa e um apêndice com uma declaração pública de Elisa.
Estes títulos permitem uma viagem do imaginário, linearmente estabelecida. O encontro de Francisco Solano López com Elisa, numa viagem diplomática do filho do presidente paraguaio e o encontro com Elisa em Paris. Elisa, que era irlandesa, casara-se com um militar francês Guatrefages, mas tudo indica que não viviam bem. Elisa devia ser de uma beleza estonteante e suspeitava-se, ser ela uma cortesã. Panchito é o tratamento que Elisa reservava para o futuro presidente e ditador paraguaio. Panchito e Elisa entram em cálida lua de mel e ela engravida, já neste primeiro relacionamento. Entraves burocráticos de seu casamento com Quatrefages, para posteriores desresponsabilizações, retardam o casal em Paris.
O Paraíso de Maomé é um interessante capítulo sobre os costumes paraguaios, especialmente, no que diz respeito aos casamentos, do afrouxamento moral e dos "bons costumes". Os filhos eram de responsabilidade de suas mães, deixando os maridos livres para novas aventuras. O fato de os filhos serem criados essencialmente por suas mães é tido como um dos fatores responsáveis pela fala do guarani, como a língua do cotidiano paraguaio. A esta altura o livro entra na questão da geopolítica da Bacia do Prata e das difíceis relações entre os países a ela pertencentes. As ambições de Solano López, sem dúvida, em muito contribuíram para a deflagração e continuidade do conflito.
No início, o Paraguai leva vantagens. Ele havia se preparado para a guerra. Mas, do triunfo parte-se rapidamente para o desastre, quando a guerra sai do distante e ermo Mato Grosso e se estende para a região sul. As forças da Tríplice Aliança logo se impõem aos paraguaios, mas Solano López não se intimida. Além da guerra ele precisa controlar as cisões internas, o que ele faz com extrema violência. Cerro Corá será o palco da tragédia final da triste guerra. O ditador morre mas não se rende. Junto com ele morre o filho mais velho de López e de Elisa. Elisa, ao longo de sua permanência no Paraguai, acumulara uma fortuna sem proporções. A narrativa daqui em diante, se ocupa da defesa destes seus bens, inclusive, a traz de volta a Assunção, depois de uma estada na Europa, cuidando de seus bens nos tribunais ingleses. O convite para voltar a Assunção, veio do presidente Gil, que, ao que tudo indica, fazia parte de um plano de seu assassinato, mas a proteção inglesa não permitiu que isso ocorresse.
Em suma, um livre muito interessante, profundamente ilustrativo sobre o conflito, para além de sua especificidade, que é a de contar a história de Elisa Lynch. Ela era odiada pela elite paraguaia e amada pelos mais simples. Era muito elegante e a sua beleza só fazia crescer o ódio das senhoras "de bem" de Assunção. Ela foi tema de farta literatura difamatória que se transformou em best sellers editoriais. Quero ainda destacar a inacreditável longevidade da guerra (1864-1870), a retirada de Caxias da mesma, o espírito sanguinário do Conde D'Eu e o ódio visceral do Imperador brasileiro ao ditador paraguaio. E uma curiosidade final. O livro é dedicado pelos autores irlandeses ao comandante Rolim Amaro, da TAM, morto em acidente de helicóptero na região de Ponta Porã - Cerro Corá, quando ia ao encontro destes pesquisadores. O comandante era apaixonado pelo tema da Guerra do Paraguai e por esta história mais especificamente.
A curiosidade se aguçou e encontrei o livro com relativa facilidade. A narrativa vem num crescendo, que te envolve por completo, ao longo de seus treze capítulos. Dou os títulos: Em busca de Elisa Lynch; Monsieur e Mrs. Quatrefages; Seria uma cortesã?; Entra Panchito; Paraguai - o Paraíso de Maomé; A rainha do Paraguai; Triunfo; Desastre; Inferno; Cerro Corá; Nos tribunais de Edimburgo; A última traição: A volta a Assunção e, por último, Um coração tornou-se frio. Além disso, há um prólogo sobre os passos da pesquisa e um apêndice com uma declaração pública de Elisa.
Estes títulos permitem uma viagem do imaginário, linearmente estabelecida. O encontro de Francisco Solano López com Elisa, numa viagem diplomática do filho do presidente paraguaio e o encontro com Elisa em Paris. Elisa, que era irlandesa, casara-se com um militar francês Guatrefages, mas tudo indica que não viviam bem. Elisa devia ser de uma beleza estonteante e suspeitava-se, ser ela uma cortesã. Panchito é o tratamento que Elisa reservava para o futuro presidente e ditador paraguaio. Panchito e Elisa entram em cálida lua de mel e ela engravida, já neste primeiro relacionamento. Entraves burocráticos de seu casamento com Quatrefages, para posteriores desresponsabilizações, retardam o casal em Paris.
O Paraíso de Maomé é um interessante capítulo sobre os costumes paraguaios, especialmente, no que diz respeito aos casamentos, do afrouxamento moral e dos "bons costumes". Os filhos eram de responsabilidade de suas mães, deixando os maridos livres para novas aventuras. O fato de os filhos serem criados essencialmente por suas mães é tido como um dos fatores responsáveis pela fala do guarani, como a língua do cotidiano paraguaio. A esta altura o livro entra na questão da geopolítica da Bacia do Prata e das difíceis relações entre os países a ela pertencentes. As ambições de Solano López, sem dúvida, em muito contribuíram para a deflagração e continuidade do conflito.
No início, o Paraguai leva vantagens. Ele havia se preparado para a guerra. Mas, do triunfo parte-se rapidamente para o desastre, quando a guerra sai do distante e ermo Mato Grosso e se estende para a região sul. As forças da Tríplice Aliança logo se impõem aos paraguaios, mas Solano López não se intimida. Além da guerra ele precisa controlar as cisões internas, o que ele faz com extrema violência. Cerro Corá será o palco da tragédia final da triste guerra. O ditador morre mas não se rende. Junto com ele morre o filho mais velho de López e de Elisa. Elisa, ao longo de sua permanência no Paraguai, acumulara uma fortuna sem proporções. A narrativa daqui em diante, se ocupa da defesa destes seus bens, inclusive, a traz de volta a Assunção, depois de uma estada na Europa, cuidando de seus bens nos tribunais ingleses. O convite para voltar a Assunção, veio do presidente Gil, que, ao que tudo indica, fazia parte de um plano de seu assassinato, mas a proteção inglesa não permitiu que isso ocorresse.
Em suma, um livre muito interessante, profundamente ilustrativo sobre o conflito, para além de sua especificidade, que é a de contar a história de Elisa Lynch. Ela era odiada pela elite paraguaia e amada pelos mais simples. Era muito elegante e a sua beleza só fazia crescer o ódio das senhoras "de bem" de Assunção. Ela foi tema de farta literatura difamatória que se transformou em best sellers editoriais. Quero ainda destacar a inacreditável longevidade da guerra (1864-1870), a retirada de Caxias da mesma, o espírito sanguinário do Conde D'Eu e o ódio visceral do Imperador brasileiro ao ditador paraguaio. E uma curiosidade final. O livro é dedicado pelos autores irlandeses ao comandante Rolim Amaro, da TAM, morto em acidente de helicóptero na região de Ponta Porã - Cerro Corá, quando ia ao encontro destes pesquisadores. O comandante era apaixonado pelo tema da Guerra do Paraguai e por esta história mais especificamente.
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