sábado, 13 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 21. Gilda de Mello e Souza.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.



A vigésima primeira resenha do livro em foco é sobre a professora e pesquisadora Gilda de Mello e Souza, numa resenha de Heloísa Pontes, professora do departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sob o título Entre a arte e a ciência. Vamos começar por alguns dados biográficos seus:

"Nasceu em São Paulo em 1919. No ano de 1940, gradua-se em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). É uma das fundadoras da revista Clima (1941). Em 1943, torna-se assistente da cadeira de Sociologia I da USP, cujo titular era Roger Bastide. Doutora-se em ciências sociais (1950). Em 1954 começa a lecionar a disciplina de Estética no Departamento de Filosofia na mesma universidade, tornando-se chefe em 1969. Em seu mandato funda a revista Discurso. Ganha o título de professora emérita da USP em 1999. Publica, entre outros, O tupi e o alaúde: uma interpretação de Macunaíma (1979), Exercícios de leitura (1980), O espírito das roupas: a moda no século XIX (1987) e A ideia e o figurado (2005). falece em sua cidade natal em 2005".

Heloísa Pontes inicia sua resenha apresentando Gilda como uma mulher elegante e intelectual brilhante. Por sua beleza, era uma mulher de cinema. Pertenceu a uma geração de intelectuais, aglutinados em torno da revista Clima. Entre eles figuravam Antônio Cândido, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes, entre outros. Seu primeiro trabalho de fôlego foi o seu doutoramento sobre a moda no século XIX (1950), publicado sob forma de livro, apenas em 1987. A moda, as roupas sempre foram o grande tema de seus ensaios. Olhava as roupas, a moda com seus olhares de lince. O seu campo de atividades é assim apresentado pela resenhista:

"Descortinou dimensões variadas da literatura, artes plásticas, tetro, cinema e estética; expandiu a compreensão da pintura acadêmica e do modernismo brasileiro; adensou o olhar sobre o cinema europeu; refinou a percepção crítica, a meio caminho entre ciência e arte". Sua receptividade foi discreta e nem sempre bem vista.  Os temas abordados soavam estranhos. Vejamos: "Concebido como um ensaio de sociologia estética, à boca pequena o tema foi considerado fútil. Coisa de mulher. Na hierarquia acadêmica e científica da época, que presidia tanto a escolha dos objetos de estudo quanto a forma de exposição e explicação dos mesmos, a tese constituiu, nas palavras da autora, 'uma espécie de desvio em relação às normas predominantes'. 'Profana' e 'plebeia', a moda, na escala de valor e legitimidade atribuídos por esse sistema classificatório...".

Depois ganhou legitimidade com a expansão dos temas das ciências humanas, como a antropologia, sociologia da cultura e pela história das mentalidades, nos conta Heloísa Pontes. A mulher burguesa começa a ocupar espaços públicos, novos espaços de sociabilidade. É o que não escapa ao olhar de Gilda Mello e Souza. Ela vê uma nova situação para esta mulher. Vejamos, pelas palavras da resenhista:

"Restrita aos interesses domésticos, ela se aplicou com esmero no trato com as roupas. Pois sabia que a graça, o encanto, a elegância e o frescor eram um dos poucos recursos de que dispunha para a conquista de um lugar ao sol. Se o casamento era a meta, contraído, longe de atenuar, ampliava o interesse pelas artimanhas da vestimenta. Uma vez que a 'graça de trazer o vestido, de exibir no baile os braços e os ombros, fazendo-os melhores por meio de atitudes e gestos escolhidos, era simétrica ao talento e à ambição, exigidos pela carreira do marido'". A resenha continua:

"Desse viver nos olhos dos outros é que as roupas, os adornos, os cosméticos retiravam força e significação. Nesse mostrar-se recusando-se, as mulheres eram especialistas, tentando tirar o máximo partido do mínimo a que estavam confinadas em decorrência dos imperativos implacáveis da dupla moralidade vigente na interação entre os sexos". Muitas dessas situações ela retira da literatura, especialmente da de Machado de Assis.

De sua convivência com a intelectualidade merecem destaque a de Mário de Andrade, com quem tinha parentesco e com Antônio Cândido, com quem viria a se casar. A resenhista conclui o seu trabalho mostrando a importância de seu trabalho na busca por espaços de afirmação da mulher:

 "A formação intelectual recebida na Faculdade de Filosofia e a sociabilidade ancorada na vida universitária tornaram possível a reorientação do papel social para o qual tinham sido educadas: mães e donas de casa. O impacto dessa experiência foi enorme, sobretudo para aquelas que efetivamente tentaram inventar para si um novo destino. Mas isso se deu à custa de conflitos, inseguranças e dilemas específicos, decorrentes tanto da sensação de estarem, senão na contramão, a léguas de distância do destino socialmente esperado, quanto do dilaceramento produzido pelo ir e vir entre dois estilos de vida, um tradicional e outro mais arrojado, que não lhes conferia ainda as insígnias públicas de aprovação e reconhecimento".

Que temas! Quanta ousadia! São os avanços da história. No meu primeiro contato, muita admiração. E, junto com Antônio Cândido, o compartilhamento de uma vida de dois dos grandes intelectuais brasileiros.

Como de hábito, o trabalho anterior sobre Maria Isaura Pereira de Queiroz:

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_12.html

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 20. Maria Isaura Pereira de Queiroz.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado  Brasil - 29 intérpretes e um país.

Esta é a vigésima resenha do livro que estamos analisando. Trata-se de expor a obra e o pensamento da socióloga  Maria Isaura Pereira de Queiroz. Ela é resenhada por Glaucia Villas Bôas, professora de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o título A tradição renovada na obra de Maria Isaura Pereira de Queiroz. Primeiramente vamos ver alguns dados biográficos, contidos ao final do livro.

"Nasce na cidade de São Paulo, em 1918. Licencia-se em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (1949) e conclui doutorado em sociologia pela École Pratique de Hautes Études em 1959. Na Universidade de São Paulo, torna-se professora de sociologia em 1951, livre-docente em 1963 e professora adjunta em em 1978. É fundadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (1964). Leciona em universidades do Brasil, França, Canadá, Senegal, Suíça, Itália e Bélgica. É agraciada pelo Prêmio Jabuti em 1966. Desde 1990 é professora emérita da Universidade de São Paulo. Assina, dentre outros, O mandonismo local na vida política do Brasil (1970), O messianismo no Brasil e no mundo (1976) e Carnaval brasileiro: o vivido e o mito (1902)".

Mais uma vez, neste livro, um primeiro contato com a pesquisadora e professora. Ela se tornou conhecida por nos mostrar o Brasil interiorano, nos conta a resenhista. Por ela conhecemos coronéis, beatos, cabos eleitorais, cangaceiros, benzedeiras... . Muitos de seus personagens foram transpostos para o cinema por Glauber Rocha. Da vida urbana, nos mostrou um homem de uma conduta racional e padronizada. O seu foco de estudos era a origem das mudanças sociais, saber se eram de raiz conservadora, reformadora ou revolucionária.

No mundo da pobreza estudou, entre as camadas pobres os fenômenos do cangaço e do messianismo, bem como o mandonismo local e a sua preservação pelos grupos de parentela e de interesses. Procurava estudar a complexidade dos fatos, evitando as visões apenas dualistas. Evitava generalizações. Em seus estudos, evitava a análise pela luta de classes, pois ainda não a constituíamos. Analisava então as estratificações sociais. Vejamos uma parte da resenha a respeito:

"A centralidade do conceito de parentela na obra de Maria Isaura relaciona-se à defesa enfática de que a sociedade brasileira não poderia ser analisada exclusivamente da perspectiva das classes sociais, devendo o pesquisador observar a especificidade de casos concretos no tempo e no espaço. A autora preferia usar o conceito de estratificação social ao de classe social devido à falta de uma definição consensual e de intenso debate sobre o conceito de classe social em sua época. Para a pesquisadora, o Brasil ainda não era uma sociedade de classes. Contudo, aproximava-se dela uma vez que os indivíduos passaram a ser identificados em estratos a partir de sua renda, profissão e instrução, havendo mobilidade tanto vertical como horizontal. Segundo a autora, a mobilidade vertical era rara".

Os fundamentos de seus estudos de sociologia partiam da visão de que a sociedade brasileira ainda não se constituía como um modelo de sociedade moderna. Ela a estudava, oferecia diagnósticos e soluções, além de identificar as resistências. Na sociedade brasileira ela identificava como características "sua incivilidade, autoritarismo e sentimentalismo", ao contrário de "ingleses, franceses e norte-americanos". Ela também atribuía causas para o subdesenvolvimento brasileiro. Vejamos, nas palavras da resenhista: "Causas diversas do atraso e do subdesenvolvimento foram enumeradas em livros e pesquisas: o ethos brasileiro, a mistura das raças, a geografia, a irracionalidade do poder político, o tradicionalismo e a postura conservadora das elites".

Ela também considerava que as transformações brasileiras tinham a sua peculiaridade. Vejamos, mais uma vez nas palavras da resenhista: "Na sua acepção, os processos de industrialização, racionalização e padronização não anulavam as diferenças  históricas e culturais". Outra peculiaridade sua é o rigor analítico em sua obra. Ela seguia  a tradição europeia do saber, privilegiando o teórico e o conceitual. Glaucia assim termina a sua resenha: 

"Se havia uma intransigência quanto à análise rigorosa dos temas de sua escolha e demonstração de suas hipóteses, aquela atitude jamais impediu que concluísse suas pesquisas com perguntas e indagações, como se o mundo humano que tentava compreender fosse antes de tudo um problema infinito e o saber adquirido sempre incompleto".

E, como de hábito, o trabalho anterior sobre Antônio Cândido. 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_11.html

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 19. Antônio Cândido.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

A décima nona resenha do livro sob análise nos põe em contato com o pensamento e a obra de Antônio Cândido. Ele nos é apresentado por Luiz Carlos Jackson, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Pulo (USP), num trabalho sob o título Antônio Cândido: crítica e sociologia da literatura. Inicialmente vamos à pequena biografia, contida ao final do livro:

"Nasce no Rio de Janeiro em 1918. Gradua-se em ciências sociais (1941), torna-se livre-docente em literatura brasileira (1945) e doutor em ciências (1954) pela Universidade de São Paulo (USP). É um dos fundadores e redator-chefe da revista Clima (1941). Torna-se assistente da cátedra de Sociologia II da USP (1942-58). Leciona na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (1958-61), na Universidade de Paris (1964-6) e na Universidade de Yale (1968). É nomeado professor da área de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP (1960). Em 1974, torna-se professor titular. Coordena o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (1976-8). É um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (1980). Assina, entre outros, Formação da literatura brasileira (1959) e Os parceiros do Rio Bonito (1964)".

Jackson inicia a resenha, falando do autor e dos múltiplos temas abordados para, posteriormente, se concentrar nos dois universos presentes em seus dois principais livros: a sociologia em Os parceiros do Rio Bonito (1964) e a Literatura em Formação da literatura brasileira - momentos decisivos (1959). Como outros sociólogos, também se distanciou da teoria para, da sociologia, obter fins práticos. Queria a transformação da sociedade. No primeiro livro fala do pequeno proprietário de terras, o nosso caboclo, para ver sua realidade e a vê com um certo pessimismo. O livro resultou de seu doutoramento. 

Formação da Literatura brasileira tem uma outra história. Ele é a reação a uma não aprovação para uma cátedra na USP e uma encomenda do editor. A segunda parte do título dá a essência do livro, os momentos decisivos: o início com o arcadismo, no século XVIII, no período do ouro em Minas Gerais e a sua transição para o romantismo. O grande foco é a constituição de uma literatura que se distancia do colonialismo para adquirir autonomia, voos próprios. Isso ocorre com o romantismo, movimento que se atem a temas nacionais muito próprios. A autonomia vem, de fato, com Machado de Assis, que marca outro movimento fundamental, a passagem dos temas nacionais para a abordagem do universal. 

Outro fator notável presente em seu livro é a dimensão histórica e social de nossa literatura. Vejamos uma parte da resenha: "A literatura é definida nesse momento como 'um sistema de obras ligadas a denominadores comuns'. A configuração progressiva do sistema dependeria ainda da existência de uma tradição intelectual lentamente constituída e continuamente alterada. Em seu esquema, as obras figuram em primeiro plano, completando os vértices do triângulo, os 'denominadores comuns', autores e público".

À sua entrada na USP, como professor de Teoria Literária e Literatura Comparada, em 1961, se deve um aprimoramento intelectual intenso, pelo contato mantido com os professores franceses que ainda atuavam na Universidade. Fez da Universidade um dos locais de encontro da intelectualidade paulista. É desse período o início de uma militância política maior e o seu casamento com Gilda de Mello e Souza, que irá unir dois intelectuais de primeira grandeza. Em 1956 ele cria o Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo.

A literatura brasileira ganhou um impacto positivo com os estímulos do mercado editorial, que tanto promoveu a literatura do romance, quanto o do ensaio político. O romance, que crescia em nível mundial, com autores como Dumas, Balzac, Stendhal, entre outros, também aqui teve grande desenvolvimento com a publicação de uma literatura mais acessível. As transformações do século XIX passaram a ser o cenário onde os autores e seus personagens atuavam. Entre os grandes nomes nossos são citados, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e Machado de Assis.

Vejamos, na palavra do resenhista, o teor da parte final de seu livro: "O último capítulo da Formação avalia o desenvolvimento da crítica literária no romantismo, tanto para explicitar a direção assumida pela literatura brasileira do século XIX, como para examinar mais uma direção aberta pelo processo de diferenciação de nossa vida intelectual. Não por acaso, os dois parágrafos finais do livro citam e comentam o artigo 'Instinto de nacionalidade', de Machado de Assis, deixando entrever duas convicções de Antônio Cândido, ambas relacionadas a esse autor. O escritor e também a sua superação. Em outros termos, seria o melhor argumento contra o nacionalismo literário que o construíra, aproximando-se de uma visão universalista a respeito da literatura".

Antônio Cândido mantém intensa atividade intelectual e militância política, até o final de sua longa vida. Em 1980 participa da fundação do Partido dos Trabalhadores e jamais irá abdicar de suas convicções em torno do socialismo democrático. Veio a falecer, em São Paulo, no ano de 2017. Noventa e nove anos de uma vida extremamente intensa. Devo confessar a minha grande admiração a ele devotada.

Deixo um trabalho anterior, a partir de Um banquete no trópico.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico17-formacao-da.html

E como de hábito, o trabalho anterior, sobre Oracy Nogueira.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_10.html


quarta-feira, 10 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 18. Oracy Nogueira.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

O décimo oitavo trabalho presente neste livro é sobre Oracy Nogueira, numa resenha de Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, professora do Departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o título Estigma e relações raciais na obra de Oracy Nogueira. Como de hábito, vamos ao final do livro, colher alguns dados biográficos seus:

"Nasce na cidade de Cunha, São Paulo, em 1917. Em 1942, conclui a graduação na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), onde foi aluno de Radcliffe-Brown e orientando de Donald Pierson. Em 1945, defende mestrado na mesma instituição. Na Universidade de Chicago, entre 1945 e 1947, realiza estudo comparativo sobre as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos. De volta a São Paulo, reinicia as atividades de pesquisas da UNESCO sobre as relações raciais no Brasil. É integrado à Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas  da Universidade de São Paulo em 1968 e, dois anos depois, ao Departamento de Ciências Sociais. É autor de Tanto preto quanto branco (1985) e Preconceito de marca (1997, póstumo). Morreu em sua cidade natal em 1996".

Serei muito breve nestas minhas considerações, pois desconhecia por completo este autor. Eu teria a destacar a sua origem, como filho de professores, seus contatos com as ciências sociais e com os pesquisadores dos Estados Unidos na ELSP, país onde fez o seu doutorado, na cidade de Chicago. Andou por diversas cidades do interior de São Paulo, até fixar-se na capital.

São dois os seus grandes temas de estudo. Os preconceitos nos sistemas de saúde, relativos aos doentes e a questão da presença de estigmas nas relações raciais. Chegou ao primeiro tema por uma questão pessoal. Acometido de tuberculose, foi tratar-se na cidade de Campos de Jordão. Do tratamento e dos estudos realizados surgiu o livro Vozes de Campos de Jordão, em que relata "atitudes, estereótipos e representações da doença". Um tema que ficou para os registros da história, com a superação da doença. 

Quanto ao tema das relações raciais, chegou a ele pela convivência com os pesquisadores dos Estados Unidos na ELSP. Observou as mais diferentes formas e origens do preconceito, com destaque para a observação dos fenótipos. Acentos na cor, forma do nariz e dos lábios, os olhos, o cabelo, tudo era pretexto para a discriminação. Nos Estados Unidos fez as mesmas observações e, depois, estabeleceu as comparações. Lembrando que nos Estados Unidos havia a segregação racial oficializada até a chagada da década de 1960, quando uma série de direitos civis foram incorporados à legislação. De volta ao Brasil estuda a questão das relações raciais na cidade de Itapetinga. 

Lembrando ainda, que em 1957 deixou a ELSP e, depois de trabalhar com Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro, leciona em faculdades do interior de São Paulo, até fixar-se na USP, na Faculdade de Economia e Administração e também na de Ciências Sociais. As suas pesquisas em Itapetininga foram publicadas sob o título Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. A resenhista informa que este livro  teve uma nova publicação em 1998, pela EDUSP, com notas introdutórias da própria.

Vejamos as palavras finais de sua resenha: "Essa vivência íntima da discriminação alimentou sua empatia pelos grupos expostos à discriminação racial. Suas formulações lúcidas e penetrantes permanecem um convite e uma inspiração para abordagens compreensivas das diversas formas de preconceito produzidas pela distância social".

E, como de hábito, a última publicação desse trabalho sobre Guerreiro Ramos.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_9.html

terça-feira, 9 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 17. Guerreiro Ramos.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.


Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

A décima sétima resenha do presente trabalho é sobre Guerreiro Ramos. Ele nos é apresentado por uma resenha de Lúcia Lippi Oliveira, professora e pesquisadora do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, sob o título - A sociologia de Guerreiro Ramos e seu tempo. Vejamos, inicialmente, alguns dados biográficos seus:

"Nasce em 1915 na cidade de Santo Amaro da Purificação, Bahia. Forma-se em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro (1942) e bacharel pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (1943). Em 1944, participa do Teatro Experimental do Negro com Abdias do Nascimento. [...] Atua no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) na década de 1950. Elege-se deputado federal suplente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (1963). Publica, dentre outros, Introdução crítica à sociologia brasileira (1957) e Administração e contexto brasileiro (1983). Morre em Los Angeles, Estados Unidos, em 1982".

Antes de mais nada devo dizer que é o meu primeiro contato mais sistemático com o autor. O conhecia apenas como um membro do ISEB. Nas considerações a fazer, começo com o título da resenhista, A sociologia de Guerreiro Ramos e seu tempo. Este título demonstra uma visão toda peculiar que ele tinha da sociologia e dos fins que ela deveria ter dentro da realidade brasileira. Seria, se assim podemos dizer, uma sociologia menos teórica e mais prática. É por esses dados que Lúcia Lippi Oliveira começa a sua análise. A sociologia brasileira deveria contribuir para a formação de uma consciência brasileira. Deveria contribuir com a modernização do Estado brasileiro.

Por isso mesmo, a recepção de sua obra contou com altos e baixos, nos indica a resenha. Ele brigou, discordou e polemizou com a intelectualidade de seu tempo. Por se afastar dos padrões estritamente acadêmicos caiu num certo ostracismo, sendo, inclusive, mais considerado na parte de sua obra referente à administração. A questão racial perpassa toda a sua obra. De Santo Amaro traz a forte presença do catolicismo em sua vida. Em Salvador participa, junto com Abdias Nascimento do Teatro Experimental do Negro (1944), com a finalidade de exaltar os valores da cultura afro. Desse movimento surge a famosa atriz Ruth de Souza.

Em Salvador atua na Secretaria de Educação e ajuda na fundação da Faculdade de Filosofia da Bahia. Depois vem ao Rio de Janeiro para cursar Ciências Sociais na Universidade do Brasil. Ao lhe ser recusada a cátedra de sociologia, ingressa no serviço público, no Departamento de Administração do Setor Público (DASP), para logo depois, trabalhar no Gabinete da Casa Civil, junto com Rômulo Almeida, no novo Governo Vargas. É nesse momento que irá ao encontro de um maior conhecimento da realidade brasileira, defendendo uma "sociologia em mangas de camisa", posicionando-se contra os transplantes culturais, contra a cópia dos estrangeirismos. Continua na sua defesa do negro, como força do povo brasileiro e na defesa de seus valores culturais. A industrialização fará agora, também parte de suas análises. Enuncia sete teses, que fundamentariam a sua sociologia "em mangas de camisa", uma sociologia brasileira. Vejamos parte da resenha;

"Segundo Guerreiro Ramos, a sociologia é consciência, é perspectiva, e seu ensinamento deve permitir a criação do espírito, da atitude sociológica. Tal atitude envolve o compromisso com a nação, compromisso este que está presente em todos os momentos do processo do 'fazer sociológico'. Esse valor que, para os que propugnam uma 'sociologia científica', é exógeno, se apresenta antes e após o 'fazer sociológico', para Guerreiro está presente em todas as etapas. A sociologia engajada de Guerreiro o faz trabalhar com um padrão mais normativo, em que o dever ser deve agir sobre a consciência e sobre a realidade. Daí mencionar sempre os perigos do academicismo e fazer a defesa do engajamento". A resenhista continua:

"Para ele, a ciência estrangeira é subsidiária. Cada produto sociológico (sistema, teoria, método, técnica) tem sentido para o contexto em que foi elaborado. Assim, o equipamento sociológico e a compreensão objetiva de uma sociedade nacional são sempre resultado de um processo histórico". E, mais adiante:

"É com esse arcabouço que vai dedicar-se à 'redução sociológica', título de sua obra maior. A ideia da 'redução sociológica' é apresentada como necessidade de por entre 'parênteses', ou seja, de suspender as análises resultantes da ciência social oficial". A resenhista ainda o mostra envolvido com o ISEB, onde se formulou a perspectiva nacionalista de uma terceira via, fora da visão bi polarizada do mundo. Era o Terceiro Mundo. Foi por este aspecto que eu conhecia o autor. 

Lúcia Oliveira assim termina a sua resenha: "Analisar a trajetória e estudar a obra de Guerreiro Ramos é tratar o campo intelectual e político do Brasil dos anos 1930 aos anos 1980, ou seja, os cinquenta anos que criaram o Brasil contemporâneo".

Como de hábito, o trabalho anterior. Sobre Caio Prado Júnior.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_7.html



domingo, 7 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 16. Caio Prado Júnior.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

A décima sexta resenha do presente trabalho versa sobre o pensamento de Caio Prado Júnior. A resenha é assinada por Bernardo Ricúpero, professor de Ciência Política na USP. A sua resenha leva por título - Caio Prado Júnior e o lugar do Brasil no mundo. Vejamos inicialmente alguns dados biográficos seus:

"Nasce em 1907 na cidade de São Paulo. Titula-se bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1928. Milita no Partido Democrático (1928-31) e ingressa no Partido Comunista do Brasil em 1931, permanecendo até sua morte.  É membro fundador da União Democrática Nacional (1945) e, como deputado estadual eleito em 1947, integra os trabalhos da Assembleia Constituinte. A Editora Brasiliense (1943) e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (1934) são por ele fundadas. Cria e colabora com diversos periódicos. Em 1954 obtém a livre docência na cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito da USP. Publica, dentre outros, Evolução política do Brasil (1933), Formação do Brasil contemporâneo (1942) e História econômica do Brasil (1945). Morre em sua cidade natal em 1990".

Caio Prado nasce em meio a uma família da mais alta oligarquia cafeeira paulista e irá ser educado como tal. Em casa, será educado por governanta estrangeira. Forma-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em 1928, ano em que inicia também a sua longa militância política. Primeiramente no Partido Democrático, um partido liberal e moralizante, em torno do qual se organizava parte da burguesia paulista. O entusiasmo com a Revolução de 1930 dura pouco e a decepção o leva à radicalização, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Os seus estudos de concentram na perspectiva de estudar o Brasil para a sua transformação. Conheceu prisões e exílios.

Como foi um marxista original, sempre esteve à margem das teses oficiais do Partido, sob orientação da Internacional Comunista. Sua principal discordância era relativa ao pretenso passado feudal brasileiro, que segundo ele, não existiu, embora o Partido o pregasse.  Ele relativizava o materialismo histórico universal de Marx, que, segundo ele, não se aplicava ao Brasil. Rompeu assim com a tese do "etapismo", da evolução pelo feudalismo - capitalismo - socialismo. Aqui não foi como na Europa.

Sobre a colonização brasileira, sempre a colocou dentro do plano da expansão europeia e atendendo a seus interesses. Esses interesses desconsideravam, por absoluto, quem aqui permanecesse e aqui trabalhasse. Três eram as características principais dessa colonização, tida por ele como - a grande exploração -, assim sintetizada pelo resenhista: "1. a produção de bens de alto valor no mercado externo; 2. em grandes unidades produtivas (latifúndio); 3. trabalhadas pelo braço escravo". 

Ele considerava haver dois tipos de colonização. A de regiões temperadas, de povoamento e a de regiões tropicais, colônias de exploração. As primeiras simplesmente copiaram os modelos europeus, como aconteceu na parte norte dos EUA. Nas de exploração é que ocorreriam fenômenos novos. Só a exploração tinha sentido, só ela tinha vida. Havia apenas senhores e escravos. Mas houve também os que não eram nem senhores nem escravos. Estava aí o foco para a transformação. Como um país nessa situação poderia sair da sua condição de colônia para se transformar numa nação? Essa seria a grande questão.

No caso brasileiro, a passagem de colônia à nação não acarretou nenhuma transformação, apenas continuidade. E houve uma grande contradição: Havia uma estrutura jurídica e política nacional, enquanto que a organização econômica e social permanecia dependente do exterior. A economia não se voltou para atender as necessidades do povo. Continuou dependente do exterior. A produção era estranha às necessidades do povo. Economia e sociedade não convergiam, diz o resenhista. A ruptura seria fundamental para a constituição efetiva da nação. Houve a cópia das instituições liberais existentes em outros países, sem romper com a dependência e a exploração. 

O resenhista critica a abordagem do autor, quanto a industrialização. Ele a teria subestimado, colocando-a na perspectiva da continuidade do colonialismo. Sobre essa subestimação, vejamos Ricúpero, o resenhista: "O mais importante deles é a industrialização, que não é suficientemente valorizada pelo historiador. Em razão de boa parte da produção industrial estar destinada à satisfação da demanda por bens de luxo de setores reduzidos da população, de a indústria depender de saldos positivos da balança comercial, garantidos pela exportação dos mesmos produtos primários de sempre, além da parcela significativa das firmas instaladas no Brasil serem subsidiárias de empresas transnacionais, não vê maior importância no fenômeno. Em outras palavras, avalia que a industrialização não muda o que é mais significativo da vida brasileira, que continuaria a ser plasmada pelo sentimento da colonização". Ele continua a sua análise:

"É verdade que as recentes dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira sugeririam que as reticências do autor são menos descabidas do que já foi imaginado. No entanto, é também inegável que o Brasil se transformou profundamente com a industrialização, mudança à qual Caio Prado Júnior não confere a devida importância". O resenhista, nas suas considerações finais, assim se refere a Caio Prado:

"Em poucas palavras, se, desde a independência, a questão fundamental para o Brasil e as demais nações latino-americanas era afirmar sua individualidade, a partir da crise de 1929 e do segundo pós-guerra não se pode mais subestimar a importância da relação dos países da região com o resto do mundo".

Deixo ainda a resenha de uma biografia sua, escrita por Bernardo Pericás, uma biografia política.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2018/03/caio-prado-junior-uma-biografia-politica.html

Também deixo uma resenha - com foco no seu maior livro.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-12-formacao-do.html

E, como de hábito, o trabalho anterior do presente projeto. Sérgio Buarque de Holanda.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_5.html


sexta-feira, 5 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 15. Sérgio Buarque de Holanda.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

A décima quinta resenha é sobre Sérgio Buarque de Holanda, trabalhada por Roger Wegner, professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, num texto sob o título - Caminhos de Sérgio Buarque de Holanda. Vejamos inicialmente alguns dados biográficos seus:

"Nasce em São Paulo em 1902. Ingressa na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (1921). Em 1958 torna-se mestre em ciências sociais pela escola livre de Sociologia e Política (ELSP). Participa do movimento modernista de 1922.  [...] Leciona na Universidade do Distrito Federal (1936-9). Dirige o Museu Paulista (1946-56) e, na mesma época, ensina na ELSP. Assume a cátedra de História da Civilização Brasileira na Universidade de São Paulo, em 1956. Ministra aulas e conferências em universidades da Itália, Chile, França e Estados Unidos. Funda e dirige o Instituto de Estudos Brasileiros da USP (1962). Membro fundador do Partido dos Trabalhadores (1980). Assina, dentre outros, Raízes do Brasil (1936) e Visão do paraíso (1959). Falece na cidade natal em 1982".

O resenhista começa destacando que ele não vingou no Direito. Depois de viajar por seis horas em lombo de burro, no Espírito Santo, para fazer um júri, na qualidade de promotor, desistiu do Direito e da profissão. Morava, nessa ocasião, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim. Depois anda por São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo conhece Mário de Andrade e no Rio de Janeiro Prudente de Morais Neto, Graça Aranha e Manuel Bandeira. Fora desse círculo, mantém contato com Gilberto Freyre e com Drummond. Faz parte de toda uma geração modernista.

O resenhista destaca que Sérgio Buarque era influenciado pelas duas grandes tendências que havia no movimento. A liderada por Mário de Andrade, de atualização da tradição, à moda europeia e a do "Pau-Brasil", de Oswald de Andrade, voltada ao espontaneísmo brasileiro, sem seguir a modelos. Depois de sua volta do Espírito Santo, trabalha no Rio de Janeiro como tradutor e articulista e em 1929, irá para a Alemanha, como correspondente dos Diários Associados. Dali observa a república de Weimar e a ascensão do nazismo. E, muito importante, conhece Max Weber. Com a ascensão de Vargas, volta ao Brasil e observa o fenômeno da aceleração da industrialização e da urbanização. Em sua mente começa o desenho de Raízes do Brasil.

Em Raízes do Brasil apresenta o dilema da modernização brasileira e o legado da colonização ibérica. Aparece a famosa figura do Homem cordial. Nele, o coração será o filtro da racionalidade, que privilegia amizades na esfera de suas relações. Se distancia dos princípios abstratos e universais das normas e da sua aplicação. Essa cordialidade  é inadequada para o funcionamento da democracia. Como é um conceito chave, vejamos, em outras palavras. O homem brasileiro é cordial. Se guia pelo coração e não pela razão e pela burocracia dela decorrente. O homem cordial é um impedimento para a democracia e para o desenvolvimento. É uma característica do homem rural. Como o Brasil está envolvido num processo de modernização, de urbanização e de industrialização, o homem cordial está em processo de substituição pelo homem racional.

Ao analisar este processo de modernização, ele o faz a partir das seguintes datas: 1808 (Corte) 1850 (abolição do tráfico) 1888 (abolição da escravidão) e 1930 (Vargas). Essas datas representam a corrosão do rural, a fonte do homem cordial. Este está em processo de dissolução. Vejamos o resenhista: "As mudanças se dão na direção da urbanização, imigração de europeus e industrialização, e significam a corrosão gradual do rural, que, na verdade, seria a fonte alimentadora da cordialidade". E continua:

"Desse modo, ao mesmo tempo que concentra no 'homem cordial' a marca da cultura brasileira, Sérgio Buarque afirma que essa característica está em franco processo de diluição. Contudo, o resultado final desse processo não é claro, pois a modernização não traz por si só uma racionalidade que filtre os sentimentos que transbordam do coração e transforme os brasileiros em homens de civilidade".

Em 1936, o mesmo ano da publicação de Raízes do Brasil, ele ingressa na Universidade do Distrito Federal (UDF), criada por Anísio Teixeira e assim como a USP contrata professores franceses. Sérgio Buarque será professor assistente nas disciplinas de Literatura Comparada e História Moderna e Econômica. A Universidade teve vida breve. Foi extinta em 1939. Ele irá então, trabalhar no Instituto Nacional do Livro e na Biblioteca Nacional. Vargas, ao longo do Estado Novo, incorpora muitos intelectuais nos quadros do Estado.

Depois de 1946, em sua volta para São Paulo, seus estudos se voltam para a interiorização, para a nossa marcha para o oeste. Monções e Caminhos e fronteiras são as obras desse período. Este período representa a passagem da cordialidade para a civilidade, ou para a racionalidade do mundo dos negócios.

O seu ingresso na USP é duplo. Como aluno busca o seu doutoramento e como professor, assume a cátedra de História da Civilização Brasileira. É desse período o seu Visão do paraíso. Portugueses e espanhóis sonhavam em encontrar o Eden terrestre. Já os colonizadores ingleses o construiriam com o trabalho árduo. É óbvio que isso repercute na formação. Em 1969 se afasta da USP, em solidariedade aos colegas vitimados pelo AI-5, da repressão da ditadura militar. Em 1980 está presente na fundação do Partido dos Trabalhadores e veio a falecer em 1982. 

Entre os intérpretes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda ocupa uma posição de protagonista. Figura entre os maiores. O que ele percebeu foi fundamental para uma perspectiva de futuro para o país. Este país estava se modernizando. Ele estava entrando no mundo da democracia, da racionalidade, da legalidade, com o rompimento dos vínculos da cordialidade, com a adoção de medidas universais e abstratas da chamada "burocracia". Isso é herança weberiana.

Deixo o link de um trabalho anterior sobre Raízes do Brasil.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-11-raizes-do.html

E o trabalho anterior, sobre Gilberto Freyre.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_3.html

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 14. Gilberto Freyre.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

 Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

A décima quarta análise do presente trabalho remete ao sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. Ele é estudado por Ricardo Benzaquen de Araújo, num trabalho intitulado de Chuvas de verão. "Antagonismos em equilíbrio" em Casa-Grande & Senzala em Gilberto Freyre. Antagonismos em equilíbrio, por óbvio, é uma referência ao encontro e a fusão das culturas e raças em nossa formação. Araújo é professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - (Iuperj/Ucam) e da PUC/Rio de Janeiro. Vejamos alguns dados biográficos.

"Nasce em 1900 no Recife, Pernambuco. Conclui estudo secundário no Colégio Americano Gilreath. Nos Estados Unidos, gradua-se na Universidade Baylor (1920) e defende mestrado pela Universidade de Colúmbia (1922). [...] Em 1949, representa o Brasil na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em diversos países, faz conferências, recebe prêmios e homenagens, como a de Doutor Honoris Causa de Columbia (1954) e a da Sorbonne (1965). É autor, dentre outros, de Casa-Grande & Senzala (1933), Sobrados e mucambos (1936) e Nordeste (1937). Morre em sua cidade natal em 1987".

A resenha tem foco em Casa-Grande & Senzala, com destaque para a sua importância até os dias de hoje. Em seu tempo se discutia muito a questão da mestiçagem, nem sempre vista como positiva, mas sim, como um problema. Vejamos o resenhista: "Ora implicava esterilidade - biológica e cultural -, inviabilizando assim o desenvolvimento nacional, ora retardava o completo domínio da raça branca, dificultando o acesso do Brasil aos valores da civilização ocidental". Que tempos!

Em favor da mestiçagem já se haviam levantado vozes como as de Lima Barreto e Manoel Bomfim. A presença indígena e negra em nossa formação passou a ser valorizada. Essa visão, em Freyre, só se tornou possível pela influência que recebeu de Franz Boas, em seus estudos nos Estados Unidos. Era o tempo em que as influências culturais começaram a se sobrepor às de raça na formação das identidades nacionais. E assim, a ideia da mestiçagem passou por uma redefinição. 

Em favor da mestiçagem, Freyre lembra a própria origem do português, um produto híbrido. A costa portuguesa era uma passagem natural entre a África e a Europa. Por ali passavam árabes, judeus e romanos. Formou-se um sincretismo, que ele considerou como um "luxo de antagonismos". Já seriam os "antagonismos em equilíbrio"? Considera esta noção como fundamental para se estudar a nossa história colonial. Eram antagonismos em que não havia adversários, nem eliminações. Assim, inclusive se formou a língua portuguesa, um doce idioma. Vejamos uma ilustração: Temos "no Brasil dois modos de colocar pronomes, enquanto o português só admite um - 'o modo duro e imperativo': diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezar o modo português, criamos um novo, [...] caracteristicamente brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido".

Esse hibridismo, da fusão cultural, é o primeiro destaque de Casa-Grande & Senzala. O segundo é o trato dado à questão da sexualidade, de relações forjadas na convivência. Embora condene os excessos, também não os reprova. Aprova o resultado - o da miscigenação. A condenação vem da relação com a escravidão. A tratou como um "erotismo patriarcal". Também condenava os abusos decorrentes, como a bestialidade, o estupro das mucamas, a relação com jovens, animais, sodomia e incestos. A considerava como a obscenidade luso brasileira, como um rude naturalismo, havendo nele o vulgar e o sublime, o pecado e a virtude, a morte e a ressurreição. O que degrada também regenera, considerava ele. Vejamos o resenhista:

"Dotado de um duplo sentido, acentuando - até com requintes de perversidade - as diferenças, mas também promovendo alguma fecundidade e confraternização, o domínio das paixões vai por conseguinte permitir que a afirmação daqueles polos opostos conviva perfeitamente com um grau quase inusitado de proximidade, recobrindo de um ethos a experiência da casa-grande. Antagonismos em equilíbrio, mais uma vez".

Esse também é um momento em que o Brasil passa por um processo de ocidentalização que irá perpassar todas as esferas de influência. São os valores da modernidade, da razão e da ciência. Esse modelo chega por imposições, inflexível e excludente. Freyre se posiciona contrariamente a essa forma. Ele busca preservar o passado, ao menos em partes, temperando-a com elementos da modernidade. Isso pode ser visto pela forma oral de sua escrita, muito mais uma conversa informal do que um tratado científico. Além disso, discute ao longo de 517 páginas (edição original) sem estabelecer uma conclusão. Há grande força em seu primeiro capítulo, sempre presente nos outros quatro, com a tese fundamental dos "antagonismos em equilíbrio". A oralidade e a informalidade são apontadas como as grandes virtudes que asseguram a permanência da obra.

Vejamos ainda o resenhista, já na parte conclusiva da resenha: "Autor e livro demonstram, portanto, a mais perfeita sintonia, ambos autenticando a validade do que um escreve no outro. É precisamente por essa razão, aliás, que a postura de Gilberto em Casa-grande & Senzala, sempre à beira de assumir um tom de celebração ou de lamento nostálgico - ou melhor, sentimental -, acaba por se aproximar do que podemos chamar de uma segunda ingenuidade. É como se ele experimentasse com toda naturalidade, ao escrever, sensações idênticas ou ao menos prefiguradas pelos seus antepassados coloniais, sensações que não precisam ser obrigatoriamente preservadas em uma tradição contínua, ininterrupta, mas que se conservem como uma alternativa cultural".

A minha experiência com a leitura do autor me indica que ele é, entre os autores brasileiros, um dos mais agradáveis de ser lido. Que forma bonita de escrever! Também sempre tive muitos cuidados ao me referir a ele, em sala de aula, em virtude das inúmeras críticas que ele recebe por ser a sua visão da escravidão, uma visão extremamente branda. Mas é preciso destacar que ele reverteu as teorias que apontavam, na questão racial brasileira, uma impossibilidade para o nosso desenvolvimento. 

Apresento também um trabalho sobre Casa-grande & Senzala, do livro Um banquete no trópico.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-10-casa-grande.html

E também o último texto do presente trabalho sobre Roger Bastide.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes.html


segunda-feira, 1 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 13. Roger Bastide.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

O décimo terceiro trabalho do presente projeto fala de Roger Bastide, o pensador francês que veio com a turma de professores franceses para a Universidade de São Paulo (USP). Ele nos é apresentado por Fernanda Arêas Peixoto, professora de antropologia (USP), numa resenha intitulada - Os Brasis de Roger Bastide. Bastide representa o grande olhar estrangeiro sobre a formação da cultura brasileira. Vejamos alguns dados biográficos seus:

"Nasce em Nimes, França, em 1898. Diploma-se em filosofia pela Universidade de Bordeaux (1920). Leciona nos Liceus de Clamecy (1923), Cahors (1924-6), Lorient (1926-8), Valence (1928-37) e Versalhes (1937-8). Em 1938, vem para o Brasil para ensinar sociologia na Universidade de São Paulo. Nesta universidade, em 1957, defende suas teses de doutorado em sociologia: As religiões africanas no Brasil (tese principal) e O candomblé da Bahia (tese complementar). Retorna a sua terra natal, em 1954 [...]. Publica, entre outros: Poetas do Brasil (1946) e Brasil, terra de contrastes (1957). Falece em Maisons-Laffitte, França, em 1974". Na sua volta a França continuou sendo professor.

A finalidade de sua vinda para o Brasil aparece logo no início da resenha da professora Fernanda Peixoto, com argumento do próprio Bastide: "Minha partida para o Brasil, onde eu esperava estudar as crises de possessão afro-americanas, não teve outra finalidade". Mas, uma vez aqui, o professor formado em filosofia, logo enveredou por um vasto campo de temas: as obras literárias, o ensaismo histórico sociológico, a crítica, os estudos sociológicos e antropológicos e depois, em plena maturidade estuda as relações entre experiência e reflexão, as relações indivíduo e sociedade, os nexos entre simbolismo e estrutura social.

Dedicou-se ainda ao folclore e a cultura popular; o barroco, as artes visuais e a arquitetura; a possessão e o candomblé; os contatos entre negros e brancos na sociedade brasileira. Estudou a chamada "interpenetração de civilizações". Foi por esses temas que ele se tornou mais conhecido. Os seus referenciais de estudo eram a sociologia dos Estados Unidos e da França. No Brasil recebeu fortes influências do movimento modernista da década de 1920 e com os intérpretes do Brasil, da década de 1930. Nesse sentido manteve contatos marcantes com Mário de Andrade e com Gilberto Freyre.

Com eles manteve aproximações e distanciamentos, que são analisados pela resenhista. Se torna conhecido como estudioso da formação da cultura brasileira, que ele observou num permanente contato, corpo a corpo, com o povo. Exerceu fortes influências sobre a formação de pensadores como Florestan Fernandes e Antônio Cândido, entre outros. Como já afirmamos, ele foi o grande intérprete estrangeiro da cultura brasileira, com a predominância de seu olhar europeu. No caso da religião, das religiões africanas de modo particular, ele as vê como a resistência africana no Brasil.

Em sua primeira viagem a Bahia, em 1944, ele faz uma viva afirmação sobre a presença africana: Ela "penetra pelos ouvidos, pelo nariz e pela boca, bate no estômago, impõe seu ritmo ao corpo e ao espírito" e se encanta com os mistérios do candomblé, a marca mais viva da presença africana no Brasil. Sobre a questão das influências africanas na cultura brasileira, estabelece uma viva interação com Gilberto Freyre, com quem também teve dissonâncias e aproximações.

A resenhista assim define a visão de Bastide sobre a origem da civilização brasileira: "A civilização africana no Brasil, nos termos de Bastide, é recriada no Brasil a partir -e apesar- do encontro entre as três civilizações mencionadas. Portanto, a África brasileira, longe de cópia de um modelo original, é reelaboração, produto também híbrido". A resenhista também apresenta um traçado geral das obras de Bastide:

"A produção dos anos 1950 é emblemática desse sistemático ir e vir de um polo a outro: no início da década, ele coordena a pesquisa sobre relações entre negros e brancos em São Paulo, patrocinada pela Unesco, com Florestan Fernandes, em que pensa as dificuldades de integração do negro na sociedade brasileira, os impasses da modernização e o preconceito (Relações entre negros e brancos em São Paulo, 1955). Em 1957, projeta Brasil, terra de contrastes, retrato de forte inspiração freyriana. Nesse mesmo momento, volta-se para nossa face africana em obras como O candomblé na Bahia, e para o acompanhamento do processo de recriação das religiões africanas no Brasil, em As religiões africanas no Brasil. O par África/Brasil - e as relações entre eles - comanda as preocupações do autor, sobretudo quando ele envereda pela seara religiosa".

Peixoto assim termina a sua análise: "As interpretações de Bastide sobre estética, arte e poesia são inseparáveis das análises que realiza sobre o candomblé. Cada um dos 'Brasis' revelados nessas análises - dos mais mestiços' aos mais 'africanos' - se completam e se esclarecem". Efetivamente, Bastide veio ao Brasil para conhecer a Bahia, mas conheceu muito, muito mais.

Também a resenha do trabalho anterior, sobre Câmara Cascudo.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/04/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_28.html