segunda-feira, 27 de maio de 2013

O poder da oração. Acreditar ou não acreditar? DEPENDE...

Esta história é muito boa. Já ouvi falar de muitos castigos divinos. Cidades inteiras foram destruídas pelo ódio  divino. Não gosto, em absoluto, desta imagem. Me lembro de Pompeia. Uma cidade em pecado. Era uma cidade muito rica. Luxo e luxúria andavam soltas. A ira divina não tardou. O Vesúvio a destruiu. A ira divina é terrível, nos falavam os padres, no seminário. No ano passado conheci os lupanários de Pompeia. As farras deviam ser grandes e, eles atendiam apenas a população mais pobre.
Aquiraz, de nome completo, São José do Ribamar de Aquiraz. Cidade litorânea do Ceará, fundada em 1699.

Agora deparei com esta história de Aquiraz, uma cidade do Ceará, da qual, ignorância minha, nunca tinha ouvido falar. Dizem que é muito bonita. Lá dona Tarcília Bezerra fez um puxadinho no seu cabaré e introduziu várias melhorias, pois, afinal de contas, as coisas estavam melhorando. Os pescadores ganham dinheiro, mesmo quando parados nos períodos da piracema. Outras bolsas são distribuídas. Esta pequena história, nas mãos de Jorge Amado, viraria um grande romance.
Dona Tarcília provocou o ódio de castos, pudicos e estoicos membros de uma igreja evangélica local. Redobraram suas orações, pela manhã, tarde e noite, pedindo a Deus para conter os avanços da dona Tarcília. A imoralidade precisaria ser contida. A castidade, virtude suprema, precisava ser cultivada.
Uma tempestade se anuncia. Nunca se viram tantos raios e ouvido tantos trovões. Valei-nos Santa Bárbara, a do trovão. E veio um raio fulminante, que acertou o cabaré em cheio.Pontaria, assim tão certeira, só mesmo a divina. Em poucos minutos só sobravam cinzas. Cinzas para a penitência de quarta feira santa. Pastores e fiéis passaram a se vangloriar do poder da oração, dos pedidos feitos para Deus. Pelos pedidos da oração, o tremendo Deus, restaurara a decência em Aquiraz. Os fiéis e os pastores só não imaginaram a ação de Dona Tarcília. Ela devia ter astuciado com o terrível demônio.
Ela processou a Igreja sob o argumento de que "foram os responsáveis pelo fim de seu prédio e de seu negócio, utilizando-se da intervenção divina, direta ou indireta e das ações ou meios". Enfim, com toda a simplicidade, o poder da oração.
A igreja, em sua defesa, contratara astuto causídico, que apresentou veemente contestação de fria e arguta racionalidade, negando toda e qualquer responsabilidade ou vínculo com a destruição do edifício. O juiz zeloso, não tardou em seu veredito e, assim se pronunciou:
"Eu não sei como decidir este caso, mas uma coisa está patente nos autos. Temos aqui uma proprietária de cabaré que firmemente acredita no poder das orações e uma igreja inteira declarando que as orações não valem nada". Digamos, uma inversão fabulosa.
Eu já tinha ouvido uma história semelhante. Num sermão o padre clamava contra a indecência de um circo. Trapezistas faziam acrobacias semi-nuas. O padre vociferava. Deu um incêndio no circo. Na semana seguinte o padre triunfante festejava o castigo divino. Na semana seguinte pegou fogo na igreja. Na semana seguinte o sermão versava sobre a misericórdia divina.


2 comentários:

  1. Grande texto!

    Me lembrou de um velho clichê: no fim do mundo, as pessoas que estão no bar vão pra igreja, e as que estão na igreja vão para o bar!

    Abraço!

    Lucas Lepca

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  2. Inverter posições. obrigado pelo comentário.

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