sexta-feira, 10 de maio de 2013

Treze de maio. Uma contextualização dos acontecimentos.

A monarquia brasileira pouco ligava para a questão da abolição, apesar de todas as pressões internacionais para que uma atitude fosse tomada. A questão até dificultou arrumar namorado para as princesas, mas resolvida este problema, as medidas protelatórias vinham se sucedendo. A monarquia não gostava de governar. Quando os conflitos se avolumaram o casal Gastão e Isabel estavam na Europa, sem pretensões para voltar tão cedo e o Imperador precisaria urgentemente repousar e cuidar de sua saúde, também na Europa. Sofria horrivelmente as consequências da diabetes. A volta do casal foi apressada. Em 30 de junho, finalmente D. Pedro II pode viajar.
O Castelo de papel, livro do qual tiramos as referências básicas para este texto.

Aqui governava o ministério conservador, presidido pelo Barão de Cotegipe, ultra conservador e o mais ferrenho escravagista que havia. Impunha até dificuldades para a aplicação da Lei dos sexagenários. Todos comiam pelas suas mãos. A primeira questão a ser enfrentada, já na ausência do Imperador foi a questão militar, que enfraqueceu o ministério Cotegipe. Isso acelerou a campanha em favor da abolição. Vozes se multiplicavam e outras falavam ainda mais fortemente. Destaques especiais para Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Rui Barbosa. Estes incitavam o casal para que tomasse a dianteira.

Como não estavam afeitos a governar, o casal não se ausentava completamente da questão. Nutridos por sentimentos ultra católicos, transmontanos, Isabel  além dos cuidados com os filhos se empenhava em campanhas de caridade, arrecadação de óbulos e organização de desfiles para arrecadar fundos para comprar a liberdade de escravos. Tomou até consciência que estes atos tinham pouco valor, pois, em breve todos seriam libertos. Mas jamais imaginava que tudo estaria já tão próximo. Isabel chegou até a acoitar, em sua casa em Petrópolis, três negras que haviam fugido. Isabel era uma católica fanática, uma beata. Não sabia que podia libertar os escravos pela lei. Acreditava mais na caridade.
Em virtude do tratamento de saúde do Imperador, na Europa, a princesa Isabel se tornou a personagem central da abolição.

Cotegipe ficava impassível em seu posto. Quando Isabel lhe cobrava sobre a abolição, invocava a doença do Imperador, que poderia se agravar, lhe levando essas preocupações. Isabel não tinha vontade própria. Estava até disposta a trabalhar, mas sem se cansar. Quanto mais aumentavam as pressões, mais ela acreditava e se dedicava aos atos de caridade. As pessoas caridosas que colaboravam com as campanhas eram agraciadas com camélias, flor que se tornou símbolo das campanhas abolicionistas. Mas uma ideia ela tinha clara. Se a abolição fosse decretada, não poderia vir acompanhada de qualquer tipo de indenização. As finanças do Império não o comportavam. A guerra do Paraguai arruinara as suas finanças.

As ruas estavam para lá de agitadas. Falava-se em avalanches e vulcões negros, referindo-se a fugas e organizações quilombolas que aconteciam e se intensificavam diariamente. Muitos abolicionistas apelaram para o lado católico de Isabel, aumentando assim as pressões. Joaquim  Nabuco chegou a ir a Roma, pedir ao papa Leão XIII, para que excomungasse os proprietários de escravos. O papa não se encabulou em lavar as mãos, dizendo ser este um problema que caberia aos brasileiros resolver.
Camélia, a flor símbolo da abolição.

Os acontecimentos se precipitaram com uma agitação policial, em que a polícia se excedeu em suas funções de reprimir manifestações. Isabel acusada, foi tirar satisfações de Cotegipe, que não a ouviu, dando guarida aos policiais. A questão terminou em renúncia coletiva do ministério. Um novo ministério foi formado, ainda no âmbito dos conservadores. João Alfredo era o novo presidente, contando com o apoio de Cotegipe.

Isabel em sua Fala do Trono em três de maio de 1888, fala abertamente em "extinção do elemento servil pelo influxo do sentimento nacional". João Alfredo mal assumira e recebe uma comissão de deputados paulistas que queriam a abolição imediata, incondicional e sem cláusula de serviço. E na sessão de abertura da nova sessão legislativa, o ministro da agricultura, o paulista Rodrigo Antônio da Silva, apresentou  o projeto da abolição incondicional. Uniram-se conservadores e liberais numa aliança em torno da abolição. 83 votos foram dados contra a escravidão e apenas 9 votos foram dados em contrário. Em sete dias estava liquidada a questão.

De Petrópolis, num domingo, treze de maio, desce a princesa Isabel rumo ao Paço Imperial, para apor sua assinatura no documento, dizendo que apesar da doença do pai este era um dos dias mais felizes de sua vida. No ato ela estava vestida de branco-pérola e rendas valencianas e para a assinatura da lei usou uma caneta cravejada de brilhantes. Em troca ganhou um buquê de camélias e violetas e de Cotegipe uma frase preocupantemente profética. "Redimiste, sim, Alteza, uma raça; mas perdeste vosso trono". De José do Patrocínio ganhou o título de "Redentora". Um pouco mais de 700.000 escravos foram libertos com a lei. Desses, em torno de 300.000 trabalhavam na lavoura.

Enquanto os escravocratas espumavam de raiva e clamavam por indenização, Rui Barbosa fazia as perguntas mais pertinentes: "Essa multidão que anteontem saiu do regime servil e rompeu com ele, de que modo viverá, a que ramo de trabalho consagrará sua atividade? Virão para os centros - a Corte e grandes cidades - figurarem como novos e avultados elementos de perturbação? A cargo de quem ficarão os velhos e as crianças? Creio ter sido Joaquim Nabuco quem teve a melhor visão sobre o problema. Em  O Abolicionismo trata da questão, procurando estabelecer políticas de Estado para integrar os negros libertos na sociedade produtiva. Os principais instrumentos seriam a reforma agrária e escola de qualidade. Outro que dedicou grande parte de sua inteligência ao problema foi Florestan Fernandes.

Políticas afirmativas, também chamadas de medidas reparadoras, só a partir de 2002 com a política de cotas, instituídas no Governo Lula. Quanto ao título de Isabel - de Redentora, - este caiu praticamente no esquecimento. Dois anos após o 13 de maio de 1888, as lojas do Rio de Janeiro ofereciam 13% de desconto nas compras, sem referência à data ou à princesa. Eu só lembro de uma rua em São José dos Pinhais, que na placa de nome de rua em homenagem a princesa, o seu nome vem acompanhado com o título de "A Redentora". Isabel teve méritos na abolição ou ela foi mais fruto do acaso, ou das pressões inerentes ao próprio processo histórico?  Como perguntar é mais importante do que responder, paro por aí.


2 comentários:

  1. no meu entender foi mais preção mas nisso tudo o amigo falou um nome que refuto com um dos tres POLITICOS que conheci e que merésse o titulo de honestos PRESTES MAIA, CID FRANCO e FLORESTAN FERNANDES tirou esses o resto é LIXO

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  2. Destes eu conheci Florestan Fernandes, que por sinal, muito escreveu sobre a integração dos negros numa sociedade competitiva. Estão aí as raízes para a compreensão da realidade brasileira. Agradeço o seu comentário, seu Arnaldo.

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