terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma crônica para o dia dos pais.

No livro de Ana Maria Bahiana - Almanaque 1964 - Fatos, histórias e curiosidades de um ano que mudou tudo (e nem sempre para melhor), encontramos uma bela crônica, escrita por José Carlos Oliveira, no Caderno B do Jornal do Brasil, referente ao dia dos pais, intitulada "De pai para filhos". Sempre é gostoso estabelecer paralelos de tempo.

Esta crônica é conjuntural ao ano de 1964 e, conforme o autor, a sua paternalidade abrange o Brasil e o mundo. As duas conjunturas mudaram bastante, especialmente a do Brasil, que, apesar de tudo, vive um de seus mais longos períodos de democracia e em que houve, embora sob os fortes impactos da lei da gravidade social, uma forte movimentação social, de caráter ascendente em sua estrutura, fenômeno sempre raro e duramente contestado.
Neste magnífico livro, no mês de agosto do almanaque, encontramos esta crônica para o dia dos pais.

Também houve alteração na conjuntura internacional. A bipolaridade e a guerra fria deram lugar a uma política global de unilateralidade, o que tornou o mundo ainda mais intolerante e o mercado global, especialmente o de armamentos, continua se movimentando com frenesi, tendo como suas principais vítimas, gente absolutamente inocente como crianças, por exemplo, como sempre. Mas vamos a esta bela crônica, lá dos idos dos anos de 1964.

(Dia dos pais) [...] Minha paternalidade abrange o Brasil, o mundo. Digo ao presidente dos Estados Unidos e ao primeiro ministro da União Soviética e ao primeiro-ministro da China vermelha: 'Meus filhinhos, hoje quero sossego. Não perturbem o meu silêncio com explosões muito estrondosas. [...] Sou um pai à moda antiga, de modo que não gosto de ver crianças brincando com fogo. Não brinquem. Fiquem lá na ONU discutindo enquanto a mamãe estiver fora. A vossa mãe chama-se paz e é uma senhora algo inconstante: muitas e muitas vezes trocou-me pela Guerra. Mas eu lhe sou fiel: acho que o pai deve ficar tomando conta dos filhos para que estes não cresçam neuróticos, transviados, sedentos de Paz.

 [...] Digo aos brasileiros: 'Meus filhinhos, vamos botar a casa em ordem, pois mamãe não demora. A vossa mãe se chama prosperidade, tem andado muito doente (doença de nascença), mas os seus novos médicos confiam em que serão capazes de curá-la. tenho minhas dúvidas, mas... [...] Muitos de vós me renegaram, ergueram a mão contra os familiares e depois foram levados para a prisão, ou então escolheram o exílio. Os outros estão por demais prepotentes, orgulhosos, querendo tomar conta da casa, perseguindo os mais fracos."

Da minha parte, não quero entrar nem em conjuntura nacional e nem internacional. Quero apenas dedicar este post, ao grande número de pais e filhos que tiveram e tem os seus encontros interrompidos pela mais estúpida das guerras, se é que este massacre dos palestinos pode ser chamado de guerra.  Então presto - muito mais a minha solidariedade do que a minha homenagem às crianças e aos pais palestinos, que vivem (ou pior, já não vivem) na mais plena das angústias, na Faixa de Gaza. E deixo uma frase, que vi recentemente como momento para a reflexão: "A dor e a miséria figuram entre aquelas poucas coisas que, quando repartidas, tornam-se sempre maiores".

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