O livro de Alexandre Dumas sobre
a história da culinária inicia contando sobre as suas origens, coincidindo com
os períodos e povos que conhecemos pela história, pela religião e pelos mitos. Assim mostra Eva e Perséfane
como os primeiros exemplos da gula e lamentando as consequências, especialmente da de
Eva, já que a da outra, só ela mesma se prejudicou. “Sua punição foi mais grave, tendo se estendido a nós, que não a
suportamos mais”. Azar nosso e coitada da Perséfane, teve que pagar sozinha.
Dois livros em um só. Memórias Gastronômicas e Pequena História da Culinária.
Dois livros em um só. Memórias Gastronômicas e Pequena História da Culinária.
Também os personagens bíblicos
Esaú e Jacó estão arrolados, passando-se depois a contar sobre as primeiras
maneiras de comer e sobre as iguarias das cozinhas dos diferentes povos, como a dos
egípcios, gregos e romanos. Com os povos bárbaros tudo parecia perdido. Veja a
respeito: “As incursões das hordas bárbaras, que duraram cerca de três séculos,
lançaram uma noite profunda sobre a civilização antiga”. Tudo parecia perdido
pois, “quando não houve mais cozinha no mundo, não houve mais literatura, não
houve mais inteligência cultivada e perspicaz, não houve mais inspiração, não
houve mais ideia social”.
Dumas observa que em Roma houve
duas brilhantes civilizações: “A sua civilização guerreira e sua civilização
cristã. Depois do luxo de seus generais e imperadores, teve o de seus cardeais
e papas”. Volta ao tema dos bárbaros,
constatando que felizmente eles não acabaram com tudo, pois “os mosteiros haviam
permanecido como locais de refúgio para as ciências, artes e tradições da
cozinha”.
Segunda parte do livro. O humor continua entranhado com a história. Uma leitura muito agradável.
Segunda parte do livro. O humor continua entranhado com a história. Uma leitura muito agradável.
As suas pesquisas continuam sobre
o surgimento de toalhas e guardanapos, talheres e vidro, constatando que as
facas são anteriores aos garfos, devido a sua maior utilidade. No capítulo
sobre as especiarias, raras e preciosas, é relatado um fato extremamente
relevante. Conta-se que um abade tinha um favor imenso a pedir ao rei Luís, o
jovem, e fez com que o seu pedido fosse acompanhado com cartuchos de especiarias. Dumas ainda observa que o
termo se preservou, passando a significar os presentes que se davam aos juízes. Especiarias - em espécie, sempre sobra alguma semelhança..
Sob Luís XIV o café ganhou importância e passou a ser “o diamante da
sobremesa”.
O livro vem acompanhado de belas ilustrações. Boa comida sempre esteve ligada a poder.
O livro vem acompanhado de belas ilustrações. Boa comida sempre esteve ligada a poder.
Dumas conta também a história dos
cabarés, das tabernas e dos restaurantes. Nas tabernas se vendia comida e nos
cabarés era vendido o vinho. O cabaré chegou a ter uma definição muito
peculiar: “É um lugar onde se vende loucura engarrafada”. Aliás, a forma de se
vender o vinho também passa pelas anotações do grande escritor. As garrafas só
apareceram na França ao longo do século XIV, sendo antes usadas as ânforas. O
primeiro restaurante apareceu em Paris, em 1765 com os seguintes dizeres à sua
porta: “Venites omnes, qui stomacho
laboratis, et ego restaurabo vos”, que traduzido significa o seguinte:
“Venham todos que trabalham com o estômago, e o restaurarei”.
Antes dos restaurantes a comida
era servida nos albergues e era difícil conseguir porções individuais, até que
“surgiu um homem de talento”, observa espirituosamente, que empreendeu uma nova
criação, a partir de uma observação simples: “compreendeu que, se um freguês
havia se apresentado para comer uma asa de galinha, outro não podia deixar de
se apresentar para comer a coxa”.
Nas obras de gastronomia de Alexandre Dumas o humor merece grande destaque.
Nas obras de gastronomia de Alexandre Dumas o humor merece grande destaque.
Fornece ainda uma receita de
sucesso para os restaurantes: “a variedade dos pratos, a estabilidade dos
preços e o cuidado dedicado ao serviço”, estando a qualidade em primeiro lugar.
Aponta ainda que os restaurantes existiam em maior número em Paris e em São
Francisco e se espanta com um cardápio de um restaurante chinês nesta cidade,
que tinha em seu cardápio sopa de cachorro, costeletas de gato, assado de
cachorro e ratos na brasa. É, cozinha também é uma questão cultural.
O livro termina com uma série de
novas receitas, incluindo entre elas a de D’Artagnan. Estas receitas foram
retiradas do Grande dicionário de culinária. Também existem receitas para fazer
molhos. Quem se habilita?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.