terça-feira, 3 de março de 2015

Boyhood. Da Infância à Juventude.

De todas as indicações ao Oscar - 2015 - de melhor filme, certamente Boyhood - da Infância à Juventude foi o mais pretensioso. Atrás dele havia um grande projeto e uma verdadeira obsessão. Atentem para o fato de ele ter, na pessoa de Richard Linkleter, o seu diretor, o seu roteirista e o seu produtor. Linkleter cuidou de tudo e, mais outro detalhe, o seu projeto levou doze anos para ser concretizado. As filmagens acompanharam os personagens ao longo de doze anos, centradas no menino Mason, dos seis aos dezoito anos. Uma vida em perspectiva para as crianças, ou uma vida em retrospectiva para os pais.

O tema do filme são as relações familiares em tempos cada vez mais pós-modernos, em tempos de relações humanas cada vez mais líquidas, usando essa expressão tão própria de Zigmunt Bauman. Nada mais tem consistência e durabilidade. Mas vamos ao roteiro. Um casal, Mason Sr. e Olívia são um casal que tem dois filhos, Mason e Samantha. O casal passa por dificuldades de toda ordem, especialmente as de relacionamento. Se separam e rearranjam as suas vidas. Os filhos crescem e passam a ter a sua visão de mundo, os seus relacionamentos e os seus questionamentos.

Nenhum grande fato, fora do normal ocorre. Os filhos ora ficam com o pai, ora com a mãe. A relação é mais complicada com a mãe, extremamente infeliz com os seus parceiros, que aos poucos se revelam e mostram a sua fragilidade com o mundo da bebida. A relação é melhor com o pai, com quem não vivem no cotidiano, apenas em fins de semana e tempos de férias. Vivem situações mais amenas. Mas o pai é mostrado como um bom parceiro das crianças.


A mãe é extremamente dedicada e vence profissionalmente, podendo assim oferecer a estabilidade financeiro para o Mason e para a Samantha. Estes crescem e se tornam adolescentes, com as marcas características desta fase da vida. O foco do filme está centrado em Mason. Samantha fica quase esquecida. As relações na escola são pouco abordadas. Mason faz muitos questionamentos sobre o sentido da disciplina e de um mundo de exigências e imposições. O tema é onipresente. Também a política tem breves referências, numa expressão de ódio ao que Bush representa.


A maior parte do filme se passa no Texas e os temas texanos também estão presentes. Vejam os presentes que Mason ganha. Uma bíblia e um rifle, mas isso já é mostrado de uma forma bem irônica. O filme termina quando Mason conclui o ensino médio e ingressa na universidade.  Mas antes ainda é feita toda uma retrospectiva de sua vida junto com o pai e junto com mãe. O filme é um tanto longo, tem 166 minutos de duração, o que foi bastante criticado por muitos.

O filme teve seis indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante  e melhor edição. Ganhou apenas um prêmio, que foi para Patrícia Arquette, a Olívia, a mãe de Mason. O pai, Mason Sr. foi representado por Ethan Hawke, a mãe, Olívia, por Patrícia Arquette, Mason por Ellar Coltrane e Samantha por Loreley Linklater.


Quanto ao significado da palavra inglesa Boyhood, encontrada no título do filme, ela designa exatamente a história narrada no filme. Na tradução, seria - meninice, juventude, grupo de meninos, garotada.  Digo isso porque ao longo do filme isso não aparece e, obviamente, isso não era necessário dizer. Apenas para os que, como eu, não tem o domínio da língua inglesa.

O grande mérito do filme é sem dúvida, a abordagem de tão complicado tema. Como educar filhos em tempos de dissolução de casamentos, de relações superficiais e, especialmente, em tempos em que as finalidades da própria vida são profundamente questionados. As tradicionais respostas, os seus valores e os seus agentes perderam muito de sua credibilidade e confiabilidade.

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