sexta-feira, 13 de março de 2015

Relatos Selvagens

Antes de mais nada quero confessar a agradável surpresa que eu tive ao assistir este filme Relatos Selvagens, o representante argentino na indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Fui assisti-lo nesta condição de filme premiado. Não ganhou a estatueta mas, no mínimo, mereceria um empate com o polonês Ida, que foi o vencedor.  Certamente a preferência recaiu sobre o tema do filme polonês, denso e complexo. O filme argentino é uma comédia trágica. Trágica como é o ser humano e, especialmente, as instituições por ele criadas.
 Seis pequenas histórias que expõem o ser humano a situações limite. Ele é capaz de muita maldade.

Antes mesmo de o filme ser apresentado já é contada uma pequena história, em que todos os passageiros conhecem um determinado estudante de música. Por coincidência todos eram unânimes em contar sobre o seu fracasso. O susto vem quando ficam sabendo que ele está no avião como um de seus tripulantes e que tem poder sobre eles. Aí começa a narrativa de mais cinco pequenas histórias, que tem em comum, uma pessoa levada aos seus limites e a sua reação. Todas tem em comum um traço de humor refinado, porém cáustico.
A garçonete conta com a ajuda da cozinheira para realizar o seu plano de vingança.
 

Na sequência das pequenas histórias aparece uma garçonete de restaurante de beira de estrada, que recebe um conviva que arruinara a sua família e, se apresenta para ela a possibilidade de se vingar, envenenando a comida. A próxima história é mais carregada, apresentando dois motoristas distintos, também com carros distintos. Um é novo e blindado, o outro é feio e velho e atrapalha o trânsito. O motorista do carrão o insulta duplamente, por classe e por raça. A situação se complica quando o carrão tem um pneu estourado. No reencontro, a tragédia está anunciada. Está aí a presença da forte crítica social.
Talvez a mais densa das histórias. Será que precisava chegar a tanto? A vingança implacável.

A quarta história é um reflexo da vida cotidiana: o trânsito, a indústria das multas e dos guinchos e a absoluta impotência diante da burocracia de um Estado inoperante. Ninguém se importa com as pessoas e os seus problemas, nem mesmo diante do aniversário de uma filha. Ele poderá dar o troco. A quinta história é a minha preferida porque ela mostra a total podridão da sociedade e de suas instituições. Talvez seja pelo momento que estamos vivendo no Brasil em que as esperanças somem do horizonte. Os pais tentam proteger o filho que cometera mortes em suas diversões. Nada que a carteira do afortunado pai não resolva. Neste processo de corrupção, ninguém se salva. Não se discute a moral, apenas as cifras. Todo mundo é corrupto, de acordo com as suas possibilidades e todos se acusam mutuamente.

A última das histórias é disparadamente a mais cômica. A cena de um casamento. Seria a família a mais desacreditada de todas as instituições da sociedade, a tal ponto que ela já não dá certo nem no dia do casamento? Uma confissão de traição possibilita cenas inimagináveis, diante de familiares e convidados perplexos. Uma vingança mais do que perfeita, para um final mais surpreendente ainda.
A mais tragicômica das histórias. Uma festa de casamento, de constituição de uma família.


Este filme nos deixa uma grande interrogação. Onde estariam os limites do ser humano? Tanto para o bem quanto para o mal. No caso específico, para o mal. Do que o ser humano é capaz? O homem parece ser, como já constatara Maquiavel, o único ser que consegue infligir sofrimento e dor a outro ser. Para isso usa o instrumento da vingança. É capaz de praticar muita violência, tanto física, quanto simbólica, psíquica e moral. Verdadeiras torturas e tormentos. Conseguirá o ser humano aplacar a voz de sua consciência? O filme deixa impressão que sim, ao mostrar que não existem limites para a maldade humana, quando ele se depara com situações limite e, o pior, ele se defronta com estes limites, elas lhe são postas e o provocam a se expor por inteiro, nas mais banais e corriqueiras cenas de sua vida cotidiana.

Além da indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro ele é também é um sucesso de público, especialmente na Argentina. A direção e o roteiro é de Damián Szifron, possui um ótimo elenco de atores e leva uma assinatura de Pedro Almodóvar na produção. Com certeza esta é uma aposta que credencia, que referencia. Uma tragicomédia sobre o humano que provoca  contrações faciais e até risos irônicos, mas não gargalhadas em estardalhaço, como eu vi na sessão em que fui assisti-lo. Quase fui levado aos meus limites.




2 comentários:

  1. Era um filme com grande sucesso desde o seu lançamento. ator Leonardo Sbaraglia considero um ator muito bom. Faz um ótimo trabalho estrelando O Hipnotizador.

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  2. Itzel Aguilar, muito obrigado pelo seu comentário.

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