segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Breve romance de sonho. Arthur Scnitzler.

Um livro muito louco. Um sonho e uma realidade ou uma realidade e um sonho. Ou tudo sonho. Continuando a temporada de leitura de livros comprados em 2003 e ainda não lidos, da coleção de 30 volumes da Biblioteca Folha, chegou a vez de ler, pela primeira vez, um livro do escritor austríaco Arthur Schnitzler, um médico vienense, a cidade onde nasceu a psicanálise. Trata-se do emblemático livro Breve romance de sonho. O tema é a sexualidade de um casal pequeno burguês.

Edição da Biblioteca Folha. 2003. Tradução de Sérgio Tellaroli.

Ah! a sexualidade! Ah! Viena. Ah! Freud. Ah! Schnitzler. Eu ainda organizo o meu curso de literatura erótica. Philip Roth será o meu guia seguro. A infinitude dos desejos humanos. Pulsões de vida ou dos perigos da morte. Desejos inconfessáveis, só de pensar todos já ficam corados. Haja moral e religião para abafar. São atingidos até os mais discretos e bem sucedidos casais pequeno burgueses. Scnitzler escreveu também, entre vários outros, "Anatol (1893) e Ronda, (1897), peças de teatro que descrevem a atmosfera de erotismo e melancolia da Viena do fim-de século. - e causaram escândalo quando encenadas. Como escritor e também como psicólogo, Schnitzler antecipou ideias do criador da psicanálise, Sigmund Freud".

Vamos contextualizar. Schnitzler nasceu em Viena em 1862 e, na mesma Viena, veio a morrer em 1931. Também o tema do anti-semitismo está presente em sua obra. Nessa época, o ambiente em Viena estava longe de ser dos melhores. E já que falamos do seu conterrâneo Freud, este nasceu na Tchéquia, em 1856, vindo a morrer em Londres em 1939. Viena, a essas alturas já era uma cidade proibida para os judeus. Ambos exerceram a profissão de médicos na cidade de Viena. Schnitzler por pouco tempo, vindo a dedicar-se à literatura em tempo integral.

Quanto ao Breve romance do sonho apresento os três parágrafos da orelha da capa: "Tudo vai bem na vida do dr. Fridolin e de sua mulher Albertine. Ambos são jovens, belos, prósperos e têm uma filhinha adorável. Pode-se dizer que, na Viena dos anos 1920, eles formam uma família burguesa exemplar. Até que, numa noite, depois de um baile de máscaras e vários goles de champanhe, Albertine decide confessar ao marido uma antiga fantasia erótica (na verdade, revela um sonho terrível e bem apimentado). Perturbado pela história secreta de sua mulher, o dr. Fridolin sai no meio da noite para atender um paciente em estado grave (na verdade, sai tranquilamente após o café da manhã, tomado em família).

A partir desse momento, tudo o que parecia dar sustentação ao mundo das personagens começa a entrar numa espécie de vertigem. Rapidamente o dr. Fridolin se vê enredado numa estranha aventura sexual, em que o desejo e o perigo de morte se auto-alimentam. Ao final da narrativa, o leitor fica com a impressão de que a volta à 'realidade de todos os dias' não será mais possível - não para os personagens que a vivenciaram.

Nesta pequena obra-prima de Arthur Schnitzler, as estruturas da vida psíquica e familiar são abaladas e expostas até os alicerces. Baseado nela, o cineasta norte-americano Stanley Kubrick fez, em 1999, seu filme de despedida: De olhos bem fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidman nos papeis principais".

Sobre o livro, Mário César Carvalho, na contra-capa do livro, nos dá um pequeno roteiro: "Em Breve romance do sonho, um médico a quem a mulher relatara uma fantasia sexual fica dilacerado de ciúmes e vai visitar um paciente. Encontra-o morto, flerta com sua filha e, sem planejar, acaba a noite numa orgia de mascarados. Ali, o ideal de frenesi e sexo sem limites dos bacanais é substituído por melancolia e morte. Há um clima de delírio e terror íntimo, a invasão de um mundo fantástico e mutante, do qual nunca se sabe se é a narração de um sonho, pesadelo ou encenação, que parece aproximar Schnitzler do expressionismo alemão. Ou de um Kafka que tivesse olhos para o sexo".

O mesmo comentarista ainda traça um paralelo para diferenciá-lo de Freud. "Esqueça Freud e sua declaração de que evitava ler as obras de Arthur Schnitzler por temer que influenciassem o seu pensamento. Tratar o escritor austríaco como um duplo de Freud em registro ficcional, como virou clichê, é uma traição - ao escritor e ao criador da psicanálise. Scnitzler e Freud interessam-se por sexo e morte, mas acabam aí as confluências.

Enquanto Freud privilegiava as perversões, Schnitzler explora o nó que liga sexo e morte para jogar uma luz (bruxuleante que seja)  sobre a mediocridade da vida conjugal burguesa e as razões da infidelidade. Schnitzler não precisou de muito espaço para concretizar esse seu objetivo. O pequeno livro tem sete capítulos, delineados ao longo de noventa e cinco páginas.


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