quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Intérpretes do Brasil. Clássicos, rebeldes e renegados. 14. Edgar Carone.

Na continuidade da análise dos "Intérpretes do Brasil", a partir do livro Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados, vamos hoje trabalhar o historiador Edgar Carone, numa resenha de Marisa Midori Deaecto e Lincoln Secco. O livro é uma publicação da Boitempo Editorial do ano de 2014. Ao todo são trabalhados 25 autores, em resenhas escritas por especialistas. O foco do livro são os autores que resultaram das transformações brasileiras dos anos 1920 (tenentismo, semana da arte moderna, PCB), quando se inicia no Brasil a chamada modernização conservadora. São apresentados a primeira e a segunda geração desses intérpretes.

Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados. Boitempo Editorial. 2014.

A resenha começa apresentando Edgar Carone como possivelmente sendo o mais citado e, ao mesmo tempo, o menos conhecido dos historiadores brasileiros. Ele é descendente de libaneses. Nasceu em São Paulo no ano de 1923 e morreu, também em São Paulo, em 2003. Os seus anos de formação são da década de 1940, quando fez o curso de História e Geografia na USP., quando se aproximou de intelectuais marxistas, que muito o influenciaram. Ele se tornou notável pela sua biblioteca, especialmente após a compra da biblioteca de Astrojildo Pereira. Era um voraz comprador de livros.

O Brasil e o socialismo sempre foram os grandes temas de seus estudos. Ao editar o seu primeiro livro, Revoluções do Brasil contemporâneo (1965) já adquirira a sua visão fundamental do país. Vejamos: "Ao acabar a primeira pesquisa falei: o que caracteriza esse momento do seguinte? Bem, no marxismo é uma mudança de estrutura. No Brasil, não houve nenhuma mudança estrutural. As classes dominantes que existiram se renovaram não no sentido de classe, mas de grupo dentro do poder".

A sua vida como professor da Academia se inicia nos anos 1960, na FGV, na UNESP, campus Araraquara e finalmente na USP. Edgar Carone sempre esteve muito ligado a Astrojildo Pereira, mesmo sem tê-lo conhecido pessoalmente, especialmente a partir dos anos 1970, quando conhece e compra a sua biblioteca, possivelmente a melhor biblioteca de livros marxistas existente no Brasil. Essa história é muito singular e é assim contada pela dupla de resenhistas: "Os livros de Astrojildo Pereira encontravam-se em um sebo localizado na rua Celso Garcia, no centro de São Paulo. Por temer algum tipo de repressão policial, o livreiro pretendia se livrar rapidamente dos livros e os ofereceu ao cliente Edgar Carone. O momento, conforme ele o descreve, é de grande emoção. Estava ali, em perfeito estado de conservação, a obra de uma vida dedicada aos livros. Com efeito, era a descoberta de uma vasta história do pensamento socialista, das Internacionais, enfim de livros, coleções, entre algumas edições raríssimas que motivaram novas pesquisas - não somente sobre o Brasil, embora tenha sido esse o seu maior interesse - e abriram horizontes para os escritos sobre o anarquismo, o socialismo e as Internacionais". Da compra e estudo desses livros surgiu o seu livro O marxismo no Brasil: das origens a 1964, publicado em 1986.

A resenha continua com a apresentação desse livro para depois se dedicar a seus estudos brasileiros e a apresentar a sua ideia de Brasil, a partir de seus livros sobre a República, num total de treze volumes. Vejamos os resenhistas falando sobre eles: "Edgar Carone iniciou suas pesquisas para dar uma resposta intelectual ao golpe de 1964. Queria entender como havia começado o processo político que desaguaria na ditadura militar. Sua história republicana apresentava sempre um volume de análise estatística das classes sociais. Seguiam-se um volume sobre a evolução política dos acontecimentos e outro de documentos selecionados que ilustravam o período estudado. Embora sua cronologia fosse política e acusada de tradicional, até hoje ela se mantém nos estudos do período republicano".

Nesses volumes sobre a República, a industrialização brasileira ganha um grande destaque, bem como os governos de Getúlio Vargas. Outro ponto de destaque é o levante de 1935 e uma profunda mudança na mentalidade dos militares. Começa a se formar uma unidade na mentalidade anticomunista. O processo de industrialização deu toda a força política para o estado de São Paulo, que ao longo da República Velha "deu" ao Brasil sete presidentes.

Volto à frase de abertura desse texto, que aponta Edgar Carone como um dos menos conhecidos dos historiadores brasileiros. Confesso que é pela primeira vez que faço um pequeno estudo mais sistemático sobre este nosso intérprete, tão essencial para o estudo das ideias marxistas e o movimento operário brasileiro e para o estudo do período republicano de nossa história. Anotei uma série de títulos seus para vasculhar nos sebos: Revolução do Brasil ContemporâneoRepública Nova, O pensamento industrial no Brasil, A terceira República (1937-1945), República liberal (1945-1964. 

Como de hábito, o trabalho anterior.http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/01/interpretes-do-brasil-classicos_9.html

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