domingo, 15 de janeiro de 2023

Intérpretes do Brasil. Clássicos, rebeldes e renegados. 16. Rui Mauro Marini.

Na continuidade da análise dos "Intérpretes do Brasil" a partir do livro Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados, livro organizado por Luiz Bernardo Pericás e Lincol Secco, vamos hoje trabalhar o economista Rui Mauro Marini, numa resenha de Guillermo Almeyra. O livro é uma publicação da Boitempo Editorial do ano de 2014. Ao todo são trabalhados 25 intérpretes, em resenhas escritas por especialistas. O foco do livro são os autores que resultaram das transformações brasileiras dos anos 1920 (tenentismo, semana da arte moderna, PCB), quando se inicia no Brasil a denominada modernização conservadora. São apresentados a primeira e a segunda geração desses intérpretes.

Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados. Boitempo editorial. 2014.

Rui Mauro Marini é mineiro, nascido em Barbacena, no ano de 1932. Morreu no Rio de Janeiro, em 1997, com apenas 65 anos. Ele é autor de vasta obra teórica e de intensa militância revolucionária. Sua vida é marcada por constantes exílios e atividades em diferentes universidades, de acordo com os exílios. Assim, no Brasil trabalhou na UERJ e na Universidade de Brasília, bem como em universidades chilenas e mexicanas. 

Rui Mauro Marini se tornou bastante conhecido com a Teoria da Dependência, na qual mostrava o capitalismo como um sistema global. Por essa sua teoria se contrapunha à Teoria da Dependência dos economistas da CEPAL, que, segundo ele, tinham uma visão pró capitalista, desenvolvimentista, das burguesias nacionais. Marini foi fortemente influenciado pelas teorias de Trotski e de Rosa Luxemburgo e, discordando, por óbvio, do stalinismo e da teoria da consolidação socialista apenas na URSS e seus satélites. Em consequência, e de acordo com as influências teóricas, defendia a revolução permanente. No Brasil militou na POLOP (Organização Revolucionária Marxista Política Operária) e no Chile no MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária).

O resenhista conta que conheceu pessoalmente Marini, no México, nos anos de 1979 a 1982. Mostra as convergências e divergências que marcaram a relação. Aponta que Marini também recebeu influências de Florestan Fernandes. A sua crítica à Teoria da Dependência dos economistas da CEPAL se deve a uma divergência de raiz com os seus autores, adeptos da social democracia, enquanto ele sempre permaneceu no campo marxista em suas análises. A principal crítica que lhes fazia consistia em acusá-los como defensores do que ele considerava como sub imperialismo, fundado numa exploração da mais valia tal, que impedia a própria reprodução da força de trabalho.

Essa super exploração do trabalho conduz as suas reflexões sobre o processo da industrialização brasileira, dissociada do consumo e integrada ao mercado internacional. Vejamos uma parte de uma citação sua: "desenvolvendo sua economia, em função do mercado mundial, a América Latina é levada a reproduzir em seu seio as relações de produção que se encontravam na origem da formação desse mercado e que determinavam seu caráter e sua expansão. Mas esse processo estava marcado por uma profunda contradição. Chamada a coadjuvar a acumulação de capital com base na capacidade produtiva do trabalho, nos países centrais, a América Latina teve que fazê-lo mediante uma acumulação fundada na superexploração do trabalhador. Nesta contradição radica-se a essência da dependência latino-americana". O destaque em itálico é do resenhista.

Os seus trabalhos continuam com uma análise da evolução da industrialização no mundo, com foco no que estava acontecendo na China e sob a influência das novas teorias a partir da globalização e do neoliberalismo, constatando uma aumento sempre maior da super exploração. Por isso sempre se firmou em seus princípios em favor de uma revolução democrática radical. O resenhista assim conclui o seu trabalho:

"Sem dúvida, por último, Marini sempre atentou para o desenvolvimento da realidade, discutindo em função da reorganização política dos trabalhadores. Seguramente também não diria hoje que a China 'não tem desatado sua base econômica socialista' e muito provavelmente se preocuparia, em compensação, para ver qual curso levaria a uma organização e politização anticapitalista aos milhões de seres humanos que, desde os anos 1980, na China, Vietnã e Europa Oriental, com a derrubada do 'socialismo real' e a desmoralização da política dos habitantes dos países que se diziam 'socialistas', deram a base ao capital financeiro mundial para lograr um novo ânimo e desenvolver a superexploração em meio planeta".

É. Certamente o autor teve uma morte muito precoce para se posicionar diante das transformações mundiais advindas com o fim do 'socialismo real' e com a supremacia das doutrinas do neoliberalismo e da globalização. Com certeza, Rui Mauro Marini se firmou na sua crítica à Teoria da Dependência, defendida pelos economistas ligados à CEPAL e pela fidelidade a seus princípios a partir de Trotski e de Rosa Luxemburgo. Deixo ainda, como de hábito, o trabalho anterior.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/01/interpretes-do-brasil-classicos_13.html

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