Mais uma vez a violência com morte se instaura no campo. Mais uma vez num "confronto" existem vítimas, apenas de um lado. Quem luta pela vida ou pelos meios de se manter vivo, tem a sua vida ceifada. Triste realidade de um Brasil, ainda herdeiro de capitanias hereditárias.
Com estas duas mortes, o governador Beto Richa assume a sua filiação ideológica com Jaime Lerner, agora iguais na criminalização e vitimização daqueles que buscam cumprir a função social da terra, prevista em todos os códigos humanitários e na Constituição brasileira. Só não temos mais o Niemeyer para construir um monumento. Mas este será edificado no santuário de nossos corações.
Vamos à frase de Brecht: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem".
O canto missioneiro é acima de tudo um lamento. Mas nunca de submissão.
E o belo canto missioneiro de Cenair Maicá, herdeiro do "santo experimento" da Missões, destruídas para expulsar das terras missioneiras coletivas, os índios guaranis, para nelas impor a ganância e a violência permanente do latifúndio. "Só não entendo é tanta terra - E pouco dono"!
Mataram meus infinitos
e me expulsaram dos campos;
Da terra nasceram gritos,
Dos gritos brotaram cantos!
E me fiz canto
De tropeiros e ervateiros
Rasgando sulcos,
Com arado e saraquá;
Nas alpargatas dos “quileiros”
e “chibeiros”,
Andei as léguas
De Corrientes e Aceguá!
Meu canto é rio,
Meu canto é sol,
Meu canto é vento,
Eu tenho berço, Eu tenho pátria,
Eu tenho glória,
Eu só não tenho terra própria
Porque a história
Que eu escrevi,
Me deserdou no testamento!
Entretanto - bem ou mal,
Não me emociono,
Com os que combatem
As verdades do meu canto;
Sem ter direito de comer nem o que planto,
Só não entendo é tanta terra
E pouco dono!
Mas mesmo assim,
Tenho pra dar um outro tanto,
Se precisarem do meu sangue
Noutra guerra;
Mesmo sem terra,
Hei de voltar grito de terra,
Pelo milagre
Das espigas do meu canto!!!
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