terça-feira, 5 de abril de 2016

III Simpósio sobre a Colônia Cecília, a grande experiência anarquista.

Realizou-se no dia 2 de abril de 2016 o III Simpósio sobre a Colônia Cecília. O local só poderia ser o Museu Sítio Minguinho, localizado a menos de 10 quilômetros da cidade de Palmeira, na estrada que liga com São João do Triunfo, a PR 151. O encontro foi promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira, pelo Museu Sítio Minguinho e pelo Núcleo de Pesquisa "Marques da Costa",
 Para quem tiver interesse em visitar o Museu Sítio Minguinho, está aí uma pequena orientação.

O idealizador deste encontro é o professor Arnoldo Monteiro Bach, pesquisador e escritor, que se ocupa especialmente dos temas relacionados à cidade de Palmeira. Entre os seus livros está o Colônia Cecília, um denso livro de mais de mil páginas sobre este experimento, que ocorreu entre os anos de 1890 e 1894, na cidade de Palmeira. O livro é uma narrativa que começa traçando o perfil de Giovanni Rossi, o idealizador e fundador da Colônia, pela narrativa do cotidiano da experiência, deixado pela memória escrita e por inúmeros depoimentos dados pelos descendentes, que tiveram contato com esta rica experiência.

Arnoldo é o proprietário do Museu Sítio Minguinho, que reúne riquíssimo acervo deixado pelos colonos e por seus descendentes. Os seminários ganharam muita densidade teórica quando Arnoldo consegui contato com o Núcleo de Pesquisa "Marques da Costa", um coletivo anarquista de luta de classes, presente em várias universidades brasileiras, especialmente, nas do Rio de Janeiro.
Arnoldo Monteiro Bach entrevista Arnaldo Gattai, 86, primo de Zélia Gattai.


As programações do dia começaram cedo. As falas programadas foram intercaladas com música e ricos depoimentos de pessoas ligadas aos colonos e seus descendentes. Um rico depoimento foi dado por Arnaldo Gattai, um primo de Zélia. Zélia é a grande memorialista brasileira, que entre as suas memórias escreveu o Anarquistas - Graças a Deus e o Città di Roma, o nome do navio que trouxe os colonos anarquistas, entre os quais o nono Gattai, o avô de Zélia. Livros interessantíssimos. O hino da Colônia foi cantado ao longo de todo o dia e com a presença de músicos.  Gaita e saxofone.
No exato local onde se situava a colônia, o seu hino foi cantado "Leco delle foreste".


A primeira fala coube a Robledo Mendes, pesquisador do Núcleo Marques da Costa e professor da UFRJ. Versou sobre a Colônia Cecília - uma experiência libertária camponesa. Uma bela contextualização do pensamento anarquista em sua versão camponesa. O final do século XIX e as lutas operárias e camponesas perfilaram ao longo da exposição. O segundo tema foi explanado por Rogério Geraldo Lima. Versou sobre o anarquista Pimpão, Andrea Giuseppe Agottani, um personagem simplesmente extraordinário. Rogério é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira e tem um livro sobre o anarquista praticamente pronto. Uma bela biografia nos aguarda.

Depois destas atividades começaram as tarefas práticas. Visita aos lugares históricos. O cemitério dos renegados, local onde foram enterrados os mortos anarquistas, já que o padre polonês não permitia o seu enterro no cemitério da comunidade, o local onde se situavam os 200 hectares da colônia, hoje uma propriedade privada, em que as visitas não são permitidas, a igreja de santa Bárbara, a igreja construída pelos pedreiros anarquistas e, em frente ao qual o anarquista Pimpão construiu um salão de baile, para desgosto do padre e alegria geral do povo. Depois fomos ao memorial da Colônia e só voltamos ao Sítio Museu Minguinho depois das 14h00 para o almoço.
A igreja de Santa Bárbara. Ela foi construída por anarquistas.


Os trabalhos da tarde começaram com uma fala sobre os trabalhadores, anarquismo e o sindicalismo revolucionário no Brasil, proferida pelo doutorando em história pela Universidade Rural do Rio de Janeiro, Rafael Viana da Silva. Uma brilhante contextualização. A próxima atividade foi presidida pelo palmeirense Celso Perota, hoje professor na Universidade Federal do Espírito Santo que falou sobre o projeto de obtenção de chancela como Paisagem Cultural para a área que envolveu a Colônia, junto ao IPHAN. Quanta riqueza, quantas possibilidades e quantos olhares diferentes.

Os trabalhos continuaram com uma visita ao museu. O foco maior foi dado para uma maquete construída a partir dos dados fornecidos pelo próprio Giovanni Rossi. Dá para ter uma ideia perfeita do que foi realmente a Colônia. Ainda nos deslocamos a um outro local onde se desenvolve o "Projeto Videira", um projeto de uma experiência alternativa, onde o sr. Cláudio Oliver nos falou sobre "As rachaduras do sistema como espaço libertário". Um espaço a ser visitado. Marquem isto na agenda. Foi muito interessante. O local está aberto para um dia de trabalho em conjunto com o pessoal do projeto.
Com uma pequena inclinação os construtores anarquistas deixaram a sua marca na igreja.


Uma última experiência nos reuniu num jantar. Este jantar não teve preço estipulado. Todos os participantes sabiam mais ou menos os preços do que foi consumido e contribuía com o pagamento das despesas. Ninguém tirou proveito ou se escondeu às sombras. Ao final conversamos com a promotora do evento, que nos confirmou que tudo ocorreu dentro da previsão. Com cálculo de um pequeno lucro e tudo mais, sobrou algum dinheiro. A organizadora da janta é proprietária do restaurante Girassol, um belo restaurante no trevo da cidade.
Participantes do seminário junto a área de 200 hectares onde se localizava a Colônia Cecília.


Mas a noite ainda não acabara. Junto com meus amigos Marco e Valdemar, ainda fomos ao baile do Pimpão. Ao menos nós o denominamos assim. Ver o povo em festa, sempre é muito bom. Um dia pleno e extremamente gratificante. Aos promotores do evento os efusivos parabéns. Não poderia ter sido melhor E lembrando, que a luta emancipatória  também se dá pelo cultivo da memória.

2 comentários:

  1. Amigo PEDRO bela explanação, sem dizer da satisfação de termos nos conhecido é muito bom encontrarmos pessoas como as que tivemos oportunidade de conhecer, não encontro palavras para demostrar o quanto fiquei feliz nesse encontro UM grande ABRAÇO.

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  2. Bom dia Arnaldo. Segundo Valter Hugo Mãe, a ausência de encontros é que provoca a desumanização. E quando você vê encontros como este nosso, você realmente crê nesta afirmação. Como este encontro foi maravilhoso. O encontro com o outro sempre nos enriquece. Foi o que todos nós experimentamos. Um grande abraço.

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