quarta-feira, 6 de abril de 2016

Viagem ao Recife. 4. Porto de Galinhas.

Oito horas em ponto. O receptivo chega ao hotel. O destino era a promessa do paraíso terrestre. Porto de Galinhas. Preferi, por pura comodidade, ir com o receptivo. Existe a opção mais barata do ônibus. Já tinha percebido isso no próprio aeroporto, onde passa uma linha de ônibus urbano para este destino. Os taxistas disputam estes clientes, organizando grupos. Mas na Boa Viagem, quem preferir esta opção, a linha é a de número 195. Porto de Galinhas é um pequeno lugarejo. Não tem como você se perder.
As muitas jangadas que te levam às piscinas naturais.

Gostei da opção do receptivo, especialmente pelas explicações do motorista guia. Imediatamente percebi que o exercício desta profissão está cheia de problemas. Além de todos aqueles mostrados na belíssima comédia Falando grego, existe hoje um novo problema. O celular em tempo de WhatsApp. Quanto mais o guia fala, mais a turma fica grudada no aparelhinho. Porto de Galinhas se situa ao sul do Recife. No roteiro passa-se por Jaboatão dos Guararapes, a segunda cidade pernambucana, com algo em torno de 700.000 habitantes, pelo Cabo de Santo Agostinho, por onde, antes mesmo do descobrimento, teria passado o espanhol Vicente Iáñez Pinzón, e Ipojuca, a sede do município que abriga o Porto de Galinhas.

Esta região é o novo grande polo de desenvolvimento de Pernambuco. Grandes investimentos do Estado foram para ali canalizados. A Refinaria Abreu e Lima, o Porto de Suape e todo o complexo portuário e industrial no seu entorno. O motorista guia não escondia o seu entusiasmo pelo ex governador, Eduardo Campos. Sabe-se que Eduardo Campos era grande amigo do ex presidente Lula, que para lá destinou muitos investimentos do governo federal. O motorista guia também não deixava de dar as suas alfinetadas irônicas, falando dos sócios anônimos da refinaria. E, apenas para lembrar, a refinaria que tem o nome Abreu e Lima, um general do exército de Simón Bolívar, não está localizada na cidade de Abreu e Lima, que se situa ao norte de Recife.
Esta piscina é meio patriótica ao formar um mapa do Brasil.

Porto de Galinhas tem o seu nome efetivamente ligado a atividades portuárias. Era o grande porto onde se contrabandeava o Pau Brasil. Mas a ferocidade dos índios Caetés impediu a continuidade desta atividade. Neste tempo era chamado de Porto Rico. As atividades portuárias voltaram no século XVIII, com o contrabando de escravos. Como estes chegavam ao porto escondidos sob engradados de galinhas d'angola e eram anunciados com o disfarce de "Tem galinha nova no porto", a designação pelo nome de Porto de Galinhas foi se fixando. Que pena. Um lugar tão bonito com uma memória tão horrorosa. Mas ela não deve ser apagada. Ainda mais, num país que ainda cultiva um saudosismo escravista.
O banho nas piscinas, enquanto as jangadas esperam para a volta.


Mas vamos às belezas do lugar. A grande atração são as piscinas naturais. Na maré baixa, elas são alcançadas pelas jangadas a um preço de vinte reais por algumas remadas e por uma permanência de algo em torno de uma hora. A cor das águas é uma atração a parte, assim como os milhares de peixes que te cercam. É recomendável o uso de chinelos de dedo, tipo havaianas, para evitar pisadas em bichos e também é preciso ter cuidado com os acidentes de terreno. Além das piscinas grandes existem inúmeras de tamanho menor, uma delas forma até um mapa do Brasil. Outra alternativa de passeio é o bug, que leva a outras praias da região. Também existem opções de mergulho. Nas barracas existe opção de deixar os pertences, tudo devidamente pago, é óbvio. Na maré alta, a opção pelas piscinas, simplesmente desaparece.

A vila é pequena e o comércio é feito de artesanatos e gastronomia. Nos arredores estão os modernos resorts, que fazem a delícia dos turistas. As opções noturnas também prometem agitos, como nos garantiram. Na gastronomia tem opções para todos. Pratos com frutos do mar, até as opções simples dos "por quilo". A disputa pelos fregueses é grande. Cada receptivo procura "fechar" os seus turistas, com restaurantes previamente acertados.
Muitos e muitos peixes. Eles disputam o espaço com os banhistas.

O caminho da volta foi bem interessante. O motorista guia fez a opção litorânea, passando por diversas praias, inclusive por um mirante, donde se avista Itapuama, a praia dos surfistas. Passamos pela reserva ecológica do Paiva e por inúmeros projetos de loteamentos tidos como ecológicos, mas como pude perceber, também muito criticados. Já em Jaboatão dos Guararapes, muitas obras viárias ligadas a Copa 2014. Lembrando que Porto de Galinhas não é sede de município. É um distrito de Ipojuca, uma das cidades da Grande Recife, com aproximadamente cem mil habitantes. O seu crescimento foi impulsionado pelo Porto de Suape, da refinaria Abreu e Lima, pelo turismo e por inúmeros empreendimentos imobiliários. 

Existem comparações entre Porto de Galinhas e a ilha de Fernando de Noronha. Não concordo muito com elas. A beleza da ilha é simplesmente ímpar. 



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