quinta-feira, 7 de abril de 2016

Viagem ao Recife. 5. Igarassu e Ilha de Itamaracá.

Por duas vezes tive o passeio para as históricas Igarassu e para a Ilha de Itamaracá transferido. E por muito pouco, ele não se concretizou. Não fosse a chegada de um casal, vindo de Belém, certamente eu não teria ido. Nesta semana santa todas as opções se voltam para Nova Jerusalém, no distrito de Fazenda Nova, do município de Brejo da Madre de Deus, distante do Recife, mais de 200 quilômetros, passando por Caruaru.
A igrejinha de São Cosme e Damião, em Igarassu. 1535.

Ali foi construído o maior teatro a céu aberto do mundo, onde é encenada a Paixão de Cristo, com a presença de atores globais. Todo ano ela atrai milhares de turistas, que só de ingresso pagam de R$ 100,00 a R$ a 120,00 reais, fora as despesas de locomoção. Os passeios passam por Caruaru, que hoje é o grande polo têxtil do nordeste, e voltam para Recife pelas duas horas da madrugada, após o término do espetáculo, se é que assim pode ser chamada a representação da Paixão. Como tenho verdadeira fobia por multidões, não fiz esta opção.

Mas voltando às históricas Igarassu e Ilha de Itamaracá. Desta vez o destino segue para o litoral norte. Tudo é história. Passa-se pelas cidades de Olinda, Paulista, a famosa cidade das Casas Pernambucanas, que tem a sua origem, quando, em 1902, ali se estabeleceu a família sueca Lundgren, que se dedicou a indústria têxtil, por Abreu e Lima, Itapissuma e, finalmente, se chega a ilha de Itamaracá, ligada ao continente pela ponte Getúlio Vargas.
Na ilha de Itamaracá. O forte Orange.

A primeira parada foi em Igarassu. A cidade é toda história. Ali aportou Duarte Coelho, o donatário da capitania de Pernambuco. Ali travou combate com os índios Caetés e os venceu no dia de São Cosme e Damião, 27 de setembro de 1835. Ali foi edificada a igreja em homenagem aos dois santos. É a segunda mais antiga do Brasil, perdendo para a de São Vicente. Como esta está em ruínas, a de Igarassu é a mais antiga, ainda em pleno funcionamento. O nome Igarassu deriva de Igara (canoa) e assu (grande), dando assim o significado de Canoa Grande, que foi o navio avistado pelos Caetés, na chegado do donatário.

Os meninos dos projetos sociais são os guias, orientados por professores de história. Fico com as informações do nosso menino guia. Ele nos levou a igreja do Sagrado Coração de Jesus, uma igreja do século XVIII, onde numa placa está anunciada a visita de dois padres jesuítas, sendo um deles o famoso padre Gabriel Malagrida, que chegou a ser o confessor real, mas que não foi poupado pela inquisição, sendo queimado na fogueira santa, num auto de fé, no Rossio. Ao nos mostrar a igreja, o menino nos deu a informação sobre os lugares ocupados pelas classes sociais dentro da igreja. Os camarotes laterais, a frente, junto ao altar e a missa rezada de frente para Deus e de costas para o povo e, ainda, o fundo da igreja, o lugar reservado para os pobres.
Um passeio de barco te leva a este belo local. Um forno de cal.


Esta informação do menino guia me remeteu ao Brasil atual, que tanto tenta esconder a sua atroz desigualdade e luta de classes. Certamente, para não gerar convulsão social, o juiz ou justiceiro Sérgio Moro, teria mantido esta informação sob sigilo. Já na saída da igreja do Sagrado Coração, mais informações do menino: Os Caetés deveriam ser exterminados porque resistiram a qualquer forma de escravidão. Eram muito ferozes. Não conseguiriam pacificá-los. Lembrando que foram os caetés que fizeram o banquete antropofágico, do primeiro bispo brasileiro D. Pero Fernandes Sardinha. Uma bela história.
A beleza da paisagem na ilha de Itamaracá.


Depois da igreja de São Cosme e Damião rumamos para a ilha de Itamaracá. Paramos numa barraca de praia, junto ao Forte Orange, onde se contrata almoço e se ouve a opção de passeios, que são, ou um passeio ecológico, ou então, a ida a piscinas naturais. Tudo encaminhado devidamente pelo guia. A única alternativa é não passear nem comer. Optamos pelo passeio ecológico. Este nos levou a um antigo forno de cal e a ilha da Coroa do Avião. Mais uma vez, numa barraca de praia, conduzidos agora, pelo guia da embarcação.
Este robalo foi o nosso almoço. Muito bom.


Além da paisagem natural, a ilha é marcada pela presença do Forte Orange, construído pelos  holandeses, durante o período da ocupação. A ilha fora colonizada, possivelmente, por náufragos que progrediram com a cultura canavieira. O nosso almoço foi bom. Um robalo em "homenagem" a Jader Barbalho. A "homenagem" foi proposta pelo casal de Belém, com quem fiz esta viagem. Como não ouvira nada sobre ciranda, eu perguntei. A resposta foi simples. Ah, isso acontece lá no povoado. Nada sobre sobre Lia, a famosa cirandeira da cidade. Mas valeu. E assim os meus oito dias de Recife foram ricamente aproveitados. Ainda teria muito para contar.

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