O livro O Povo Brasileiro - A formação e o sentido de Brasil é um livro extraordinário. O título do livro é auto-explicativo. Dois são seus tópicos fundamentais que, no entanto, se permeiam ao longo de todo o livro: a formação do povo brasileiro, como um povo absolutamente singular e o sentido de Brasil, onde aponta uma visão de futuro para este povo singular e maravilhoso. Um destino, com certeza grandioso.O livro certamente é o livro da vida de Darcy. O escreveu ao longo de toda a sua vida, concluindo-o apenas em 1995, depois da espetacular fuga da UTI., que já narramos em outro post.Para esta síntese final, ele levou apenas 45 dias, pressionado pela morte.
O livro da vida de Darcy Ribeiro. O escreveu ao longo de toda a sua vida e o terminou, somente, já ao final dela.
O livro da vida de Darcy Ribeiro. O escreveu ao longo de toda a sua vida e o terminou, somente, já ao final dela.
Não resisto em transcrever a contracapa do livro, que é uma apresentação do mesmo, feita por Antônio Cândido, outro dos brasileiros, que doa a força do seu intelecto a este tema:
"Para os que chegavam, o mundo em que entravam era a arena dos seus ganhos, em ouro e glórias. Para os índios que ali estavam, nus na praia, o mundo era um luxo de se viver. Este foi o efeito do encontro fatal que ali se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os navegantes , barbudos, hirsutos, fedentos, escalavrados de feridas do escorbuto, olhavam o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os índios, esplêndidos de vigor e de beleza, viam ainda mais pasmos aqueles seres que saíam do mar".
A descrição de Darcy passa exatamente por aqueles que chegavam e aos que aqui foram encontrados. As simpatias de Darcy são por aqueles que aqui já estavam e não tanto pelos que aqui chegaram, como dá para perceber, já no pequeno texto de apresentação de Antônio Cândido. Também, ao contrário de outros, como Gilberto Freyre, não existe neste encontro nenhuma romantização, pelo contrário, entravam na arena dos ganhos e estes ganhos ditaram a ordem de tudo.
Darcy Ribeiro: uma vida dedicada a estudar a formação do povo brasileiro e a dar a ele, um sentido de identidade e grandeza.
Darcy mostra enorme simpatia pelo povo que foi se formando no cruzamento de brancos, índios e negros e do entrecruzamento do sangue dessas raças, foi se formando o verdadeiro povo brasileiro, não um europeu transportado, como em outras regiões, mas um povo que encontrou uma maneira toda particular de ser. Aqui estes povos foram perdendo muito de suas identidades e configurando uma nova maneira de ser, que não existe em lugar nenhum no mundo, o ser brasileiro.
Outra coisa que Darcy também observa é que o empreendimento de colonização do Brasil, embora todas as dificuldades desse processo, sempre deu certo. O grande problema sempre foi o de que este projeto não era para o povo brasileiro, mas era um projeto - de uma empresa - para os outros. É assim que vê se formar, primeiramente, um projeto colonialista e, logo depois, o imperialista. Mas o destaque sempre foi este: aqui se desenvolvia um projeto para os outros e que estes sempre deram resultados positivos. A economia açucareira da época era algo equivalente a economia do petróleo em nossos dias.
Outro aspecto bem demonstrado foi o da enorme crueldade que sempre foi exercida pelos dominadores com relação aos povos por eles escravizados. Contra eles todos os meios foram utilizados. Simplesmente os coisificaram, os foram gastando, eliminando neles qualquer possibilidade de continuidade de suas culturas e valores ancestrais, sonhos em se realizarem como seres humanos, de formarem famílias e venerarem seus antecessores, de legarem valores e brios. É também neste ambiente que se forja a elite brasileira, que até os dias de hoje, ainda persiste como uma das mais cruéis do mundo, negando aos trabalhadores até as mínimas condições de sobrevivência, quando não os culpam de todas as mazelas do país, pelo atraso em vivem. Também são destacados os confrontos de interesses entre os colonizadores, pelas diferentes vias que aqui representavam. Ou eram colonos que representavam os interesses do mercantilismo português ou, os interesses missionários das ordens religiosas. Estas inclusive deixaram piedosos textos de comiseração para com os povos nativos e para com os escravos negros.
A formação passa pelos diversos ciclos econômicos, em torno dos quais se dão os maiores movimentos das populações e conferindo às diferentes regiões brasileiras, diferentes perfis de Brasil. A manutenção da unidade territorial foi, inclusive, um fator muito complexo e que deve ser sumamente louvado.
A parte final do livro descreve cinco brasis bem distintos: o Brasil crioulo, o Brasil caboclo, o Brasil sertanejo, o Brasil caipira e o Brasil sulino. Cada um desses brasis é muito bem descrito, com riqueza e abundância de detalhes, terminando com a chegada , ou não da industrialização, a cada um desses brasis. O grande destaque é dado para a manutenção da unidade, não havendo grandes manifestações de ruptura, por não existirem condições culturais para a ocorrência desse fenômeno. O que é maravilhoso!
Esta unidade é aliás o grande fator em torno do qual inicia a última parte do livro, que é a de lhe dar um sentido. Além de dar ao povo brasileiro, uma dignidade nunca reconhecida ao longo do processo histórico, pelo acesso aos bens necessários a sua elevação material e cultural, deve ampliar esta luta por inclusão e cidadania para os povos da América do Sul, reafirmando os ideais bolivarianos. Com esta unidade se criaria um bloco econômico com o qual se poderia romper a fase de ser para os outros e construirmos um projeto de um país para si e para o seu povo. Aliás, foi essa a trajetória de vida e luta política seguida por Darcy ao longo de toda a sua vida, que no dizer, ainda de Antônio Cândido, a multiplicou tanto, que viveu tantas vidas em uma só.
Da obra de Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro. Muita gente e muitos esforços foram feitos para a produção deste vídeo. Um belo trabalho para se entender o Brasil.
Depois do livro vou me dedicar ao vídeo, em que o livro é destrinchado em dez capítulos, procurando resposta a permanente pergunta; quem são os brasileiros? O vídeo de 260 minutos permanece original ao descrito por Darcy, mas é acrescido de outras falas do próprio Darcy, além de outros intérpretes de Brasil. O destaque é dado às diferentes regiões brasileiras, mostrando a origem e o destino de cada uma delas. É uma produção grandiosa, com participações de peso e que deveria ser um material obrigatório nos trabalhos de formação inicial e continuada de todos os professores, em todos os níveis de atuação.
A descrição de Darcy passa exatamente por aqueles que chegavam e aos que aqui foram encontrados. As simpatias de Darcy são por aqueles que aqui já estavam e não tanto pelos que aqui chegaram, como dá para perceber, já no pequeno texto de apresentação de Antônio Cândido. Também, ao contrário de outros, como Gilberto Freyre, não existe neste encontro nenhuma romantização, pelo contrário, entravam na arena dos ganhos e estes ganhos ditaram a ordem de tudo.
Darcy Ribeiro: uma vida dedicada a estudar a formação do povo brasileiro e a dar a ele, um sentido de identidade e grandeza.
Darcy mostra enorme simpatia pelo povo que foi se formando no cruzamento de brancos, índios e negros e do entrecruzamento do sangue dessas raças, foi se formando o verdadeiro povo brasileiro, não um europeu transportado, como em outras regiões, mas um povo que encontrou uma maneira toda particular de ser. Aqui estes povos foram perdendo muito de suas identidades e configurando uma nova maneira de ser, que não existe em lugar nenhum no mundo, o ser brasileiro.
Outra coisa que Darcy também observa é que o empreendimento de colonização do Brasil, embora todas as dificuldades desse processo, sempre deu certo. O grande problema sempre foi o de que este projeto não era para o povo brasileiro, mas era um projeto - de uma empresa - para os outros. É assim que vê se formar, primeiramente, um projeto colonialista e, logo depois, o imperialista. Mas o destaque sempre foi este: aqui se desenvolvia um projeto para os outros e que estes sempre deram resultados positivos. A economia açucareira da época era algo equivalente a economia do petróleo em nossos dias.
Outro aspecto bem demonstrado foi o da enorme crueldade que sempre foi exercida pelos dominadores com relação aos povos por eles escravizados. Contra eles todos os meios foram utilizados. Simplesmente os coisificaram, os foram gastando, eliminando neles qualquer possibilidade de continuidade de suas culturas e valores ancestrais, sonhos em se realizarem como seres humanos, de formarem famílias e venerarem seus antecessores, de legarem valores e brios. É também neste ambiente que se forja a elite brasileira, que até os dias de hoje, ainda persiste como uma das mais cruéis do mundo, negando aos trabalhadores até as mínimas condições de sobrevivência, quando não os culpam de todas as mazelas do país, pelo atraso em vivem. Também são destacados os confrontos de interesses entre os colonizadores, pelas diferentes vias que aqui representavam. Ou eram colonos que representavam os interesses do mercantilismo português ou, os interesses missionários das ordens religiosas. Estas inclusive deixaram piedosos textos de comiseração para com os povos nativos e para com os escravos negros.
A formação passa pelos diversos ciclos econômicos, em torno dos quais se dão os maiores movimentos das populações e conferindo às diferentes regiões brasileiras, diferentes perfis de Brasil. A manutenção da unidade territorial foi, inclusive, um fator muito complexo e que deve ser sumamente louvado.
A parte final do livro descreve cinco brasis bem distintos: o Brasil crioulo, o Brasil caboclo, o Brasil sertanejo, o Brasil caipira e o Brasil sulino. Cada um desses brasis é muito bem descrito, com riqueza e abundância de detalhes, terminando com a chegada , ou não da industrialização, a cada um desses brasis. O grande destaque é dado para a manutenção da unidade, não havendo grandes manifestações de ruptura, por não existirem condições culturais para a ocorrência desse fenômeno. O que é maravilhoso!
Esta unidade é aliás o grande fator em torno do qual inicia a última parte do livro, que é a de lhe dar um sentido. Além de dar ao povo brasileiro, uma dignidade nunca reconhecida ao longo do processo histórico, pelo acesso aos bens necessários a sua elevação material e cultural, deve ampliar esta luta por inclusão e cidadania para os povos da América do Sul, reafirmando os ideais bolivarianos. Com esta unidade se criaria um bloco econômico com o qual se poderia romper a fase de ser para os outros e construirmos um projeto de um país para si e para o seu povo. Aliás, foi essa a trajetória de vida e luta política seguida por Darcy ao longo de toda a sua vida, que no dizer, ainda de Antônio Cândido, a multiplicou tanto, que viveu tantas vidas em uma só.
Da obra de Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro. Muita gente e muitos esforços foram feitos para a produção deste vídeo. Um belo trabalho para se entender o Brasil.
Depois do livro vou me dedicar ao vídeo, em que o livro é destrinchado em dez capítulos, procurando resposta a permanente pergunta; quem são os brasileiros? O vídeo de 260 minutos permanece original ao descrito por Darcy, mas é acrescido de outras falas do próprio Darcy, além de outros intérpretes de Brasil. O destaque é dado às diferentes regiões brasileiras, mostrando a origem e o destino de cada uma delas. É uma produção grandiosa, com participações de peso e que deveria ser um material obrigatório nos trabalhos de formação inicial e continuada de todos os professores, em todos os níveis de atuação.
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