Vamos iniciar com uma definição do que seja um paradoxo. Recorremos ao Aurélio para dizer que paradoxo é o "conceito que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo, disparate". Depois vamos ver algumas das declarações do pastor/deputado Marco Feliciano, relativas aos direitos humanos e, contrastá-las com as funções da Comissão para a qual foi eleito para ser seu presidente.
Vamos então primeiramente ver quem é o pastor/deputado em questão. Ele nasceu em Orlândia, no estado de São Paulo e é pastor da igreja Assembleia de Deus - Tempo de avivamento, que é presidida por ele. Ele se apresenta como um conferencista internacional, pastor, cantor e empresário. Nas últimas eleições se elegeu deputado federal por São Paulo, pelo Partido Social Cristão (Seu santo nome em vão...) e é integrante da bancada evangélica.
O deputado/pastor Marco Feliciano, eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos. Sobre ele pesam acusações de intolerância, homofobia e de racismo entre, outras. Ele é do Partido Social Cristão!
Mas quais são as suas declarações mais polêmicas? Selecionamos algumas. Sobre os africanos: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é a polêmica. Não sejam irresponsáveis. twitters rsss". Pela repercussão que a frase teve, ela foi retirada de seu Twitter. Sobre recebimento de ofertas. Esta está num vídeo, em que declara o que está recebendo... "desde cheques, motocicleta e até um cartão de crédito", mas do cartão, ele reclama que o fiel não passou a senha: "assim não vale, depois vai pedir milagre para Deus, Deus não vai dar e vai falar que Deus é ruim" diz o pastor /deputado.
A declaração sobre os africanos foi explicitada ou complementada com o seguinte: " A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas". Outras "preciosidades" do deputado são as afirmações de que "a podridão dos sentimentos dos homo-afetivos levam ao ódio e ao crime" e a defesa que fez em plenário de que aos gays deveria ser oferecido tratamento psicológico para a sua cura. Fez também a defesa da castração química dos estupradores.
Ainda numa audiência pública, em novembro de 2012 o deputado fez outra declaração bombástica: "Índio nasce índio, não tem como mudar. Negro nasce negro, não tem como mudar. Mas quem nasce homossexual, pode mudar. Até a palavra 'homossexual' deveria ser abolida do dicionário, já que se nasce homem ou mulher". Sobre o deputado/pastor ainda pesa uma ação judicial, uma representação por crime de estelionato, que tramita, pela sua condição de deputado, no STF. A questão envolve o seu não comparecimento a um show gospel na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, ocasião em que teria feito um show no Rio de Janeiro, com um cachê maior, segundo a acusação. Lembrem que ele se apresenta também como cantor. Deve ter deixado a irmã, lá em São Gabriel, num prejuízo danado!
Por estas e por outras, pesam sobre o deputado pastor as acusações de intolerância, discriminação e preconceito, além da de estelionato. A sua ficha, não é portanto, das melhores, especialmente, para integrar a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias e muito menos para ser o seu presidente. Creio que não é necessário aqui explicitar quais são as funções que esta Comissão exerce. O seu nome ou título a auto define: Direitos Humanos e Minorias. Será que o deputado sabe o que são direitos humanos?
A pergunta então seria esta: Como o deputado chegou a esta condição de ser indicado para a sua presidência? A Comissão tradicionalmente era presidida por um deputado do PT., com ligação com os movimentos sociais. A presidência das Comissões, normalmente é definida no conselho dos líderes partidários e a divisão é feita pela representatividade das bancadas, pelo critério numérico. Ao PT. cabe assim, a presidência de três Comissões e por uma decisão sua, escolheu comissões que lhe pareceram mais importantes, com maior visibilidade. Desta forma a Comissão de Direitos Humanos ficou, como que, sobrando. Este fato não passou despercebido pela bancada evangélica, que com apoio do PSDB, do DEM e do PP, conseguiu os votos necessários, até um de sobra, para colocar o deputado/pastor na função. Assim podemos verificar que a eleição do deputado foi uma ação que envolveu toda a Câmara dos deputados, sob os protestos de Domingos Dutra, seu presidente anterior, de Luíza Erundina e de Jean Willis.
A Folha de S. Paulo, na sua página de Tendências/Debates publicou artigos do deputado eleito como presidente e do deputado Jean Willis sobre a questão, no dia 7 de março. Marco Feliciano se considera um perseguido por todos aqueles que atentam contra a "família brasileira". É interessante dar uma olhada!
Bem vamos concluir. Alguém que é acusado de intolerância, de discriminação e de preconceito e sobre quem ainda pesa uma acusação de estelionato pode exercer a presidência de uma Comissão que tem por finalidade defender direitos humanos humanos e das minorias? Ou isto é "conceito que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo, disparate", um paradoxo, portanto. As redes sociais estão fazendo um belo movimento para eliminar este paradoxo da política brasileira, porque um paradoxo desses, já é demais, explícito demais. Já não se está partindo para provocações ou agressões.
Quem aproveitou a onda do paradoxo, já que o deputado/pastor está o tempo todo na mídia, para sorrateiramente e meio despercebidamente ocupar uma outra Comissão, a do Meio Ambiente. Estamos falando de Blairo Maggi, da bancada ruralista. Não seria também paradoxal?
Quem aproveitou a onda do paradoxo, já que o deputado/pastor está o tempo todo na mídia, para sorrateiramente e meio despercebidamente ocupar uma outra Comissão, a do Meio Ambiente. Estamos falando de Blairo Maggi, da bancada ruralista. Não seria também paradoxal?
A indicação do deputado Blairo Maggi, da bancada ruralista, para a presidência da Comissão do Meio Ambiente também não seria um paradoxo?
O grande líder do PSC, partido do deputado Marco Feliciano, aqui no Paraná é Ratinho Júnior. Seria interessante ouvir o que ele teria a dizer a respeito. Mas parece que este se livrou das agruras da função de deputado federal, para usufruir a sua atual condição de Secretário de estado, como neo Betista.
Termino, como o fez o Sakamato no seu blog. Desejo boa sorte, - não ao deputado/pastor, - mas para todos aqueles que precisam da Comissão para verem os seus direitos respeitados..
Termino, como o fez o Sakamato no seu blog. Desejo boa sorte, - não ao deputado/pastor, - mas para todos aqueles que precisam da Comissão para verem os seus direitos respeitados..
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