segunda-feira, 11 de março de 2013

Darcy Ribeiro em Pequenos Tópicos.

Apresento neste post o pensamento de Darcy Ribeiro, em pequenos tópicos, numa seleção que fiz, a partir da leitura de suas Confissões. Apresento o tema e o tópico correspondente, com a indicação de página, para quem quiser contextualizar melhor.
As Confissões. Companhia de Bolso.2012. Desta edição é que retiramos as citações.

Sobre a morte prematura do pai e sobre o fato de não poder ter filhos, que segundo ele, lhe possibilitaram duas liberdades: "A primeira foi ter perdido meu pai, ou ganhando minha orfandade, que me livrou de ter tido um pai para me domesticar. A segunda foi a operação do doutor Schoer, que, me liberando de ter filhos, me abriu o segundo espaço de liberdade: o de não domesticar ninguém. Sou por isso um homem solto na vida para me exercer, pessoal e individualmente, com impávida coragem de mim mesmo" (página 120).

Sobre o forjar de um intelectual: " Intelectual se faz é com leitura.Os tijolos do espírito são os livros" (página 182).

Sobre as belezas do Rio de Janeiro: "Tenho certeza de que Deus estava de muito bom humor quando fez   o Rio de Janeiro. Suspeito, mesmo, que estivesse de pileque. Só assim explico o esbanjamento de beleza que ele pôs no Rio. Pegou uma montanha alta, granítica e fez correr ao longo do mar, entrando às vezes, mar adentro, e até saltando em ilhas. Tudo coberto por uma vegetação tropical esplêndida. Abriu espaços entre as montanhas, formando belas várzeas verdes. E sorriu contente com sua obra" (página 422).
RJ

Darcy tem ou não tem razão.Deus devia mesmo estar de pilequinho, para tanto esbanjamento.

Sobre Roberto Marinho e a rede Globo: "A situação chega a ser tão escandalosa que eu disse uma vez que o senhor Roberto Marinho é conivente com cada crime de estupro, dos que ocorrem no Brasil em número crescente, tal é a incitação ao erotismo de sua cadeia de televisão. Mais grave ainda, sobretudo para a juventude, é sua irresponsável incitação à violência e à criminalidade" (página 432).

Sobre novelas, avós e netos: "Aprendi então que a novela, um gênero inteiramente diferente do cinema e do teatro, é, de fato, uma forma de convivência. Mamãe sabia tudo de novelas. Conhecia intimamente cada personagem, acompanhando diariamente suas vidas românticas e dramáticas, inclusive seus amores, de que ela me dava notícias detalhadas. Tinha inegavelmente muito mais intimidade com eles do que com seus netos e toda a gente do entorno" (página 433).
Um belo trabalho feito a partir do livro de Darcy Ribeiro. São 260 minutos absolutamente indispensáveis para quem minimamente quer compreender o Brasil, lhe dar sentido.

Sobre o melhor tipo de ensino profissionalizante: "Uma pessoa só chega a alfabetizar-se quando alcança a quarta série primária, que é quando aprende a escrever uma carta e a fazer uma conta. Sabendo-se que nada há de mais profissionalizante que ler, escrever e contar, a maior tarefa que se põe aos brasileiros é superar o atraso em que estamos..." (página 442). O sublinhado ficou por minha conta.

Sobre os três requisitos de uma educação popular e civilizatória: "Primeiro, espaços necessários para que alunos e professores possam viver a maior parte dos seus dias, obtendo ali toda ajuda para crescer sadios e vigorosos. Segundo, o tempo indispensável de atenção às crianças, para que elas tenham suas aulas e suas horas de estudos dirigidos atendidas por professoras especializadas, bem como tempo para folgar, realizar esportes e recrear-se. Terceiro, um magistério novo, motivado para a educação popular, que não atribua às crianças pobres a culpa de seu fracasso escolar, mas que reconheça que esse fracasso se deve fundamentalmente à precaridade das escolas" (página 443).

Sobre a caridade bondosa: "Não sou bom no sentido cristão, de bondade caridosa. Essa de contentar-se em dar uma escolinha boa ou uma sopa para os famintos. Odeio essa postura dadivosa, que só serve para consolar os culpados da ignorância e da pobreza generalizadas" (página 479).

Sobre o amor: "O amor é a mais funda, mais sentida e mais gozosa e mais sofrida das vivências humanas, e suspeito muito que o seja também para todo ser vivente. Cada pessoa devia amar todos os amores de que fosse capaz. Sucessivamente, em amores apaixonados, cada um deles vivido e fruído como se fosse eterno. Podem-se amar até simultaneamente amores apaixonados. Mas é um perigo. Faça isso não, arrebenta o coração" (página 500).

Sobre o sexo: "O só desejo de confluir, ainda que irrealizado, porque inalcançável, é ainda amor. A ausência de desejo é, já, desamor. Às vezes, há um ser muito querido, mas que é tão só uma amor amado. Há, concordo, carnalidade sem amor. São prevaricações. Gratificantes por vezes, até demais. Tanto que alguma gente, homens sobretudo, se vicia nelas, só querendo fornicar e variar. São bichos-gente, incapazes de amar" (página 501).

Sobre a diáspora na Universidade de Brasília: "Recordei a seguir, sentidamente, os tantíssimos professores que levei para Brasília e que, indignados com o que os agentes da ditadura faziam, degradando a universidade, demitiram-se. Foi a maior diáspora de sábios de que tenho notícia, só comparável à da Espanha" (página 496).

Sobre a nova classe política formada pela ideologia do lucro: "Assim é que se criou a casta política vigente no Brasil, em que se distinguem uns raros homens bons, que sobreviveram a vinte anos de exílio e de exclusão, e muitos políticos novos, decentes, patriotas que surgiram. Mas em que predomina uma categoria nova de parlamentares e administradores filhos da ditadura, para os quais é legítimo lucrar na condução dos órgãos públicos. E até no Parlamento. Antigamente políticos inatacáveis, ainda que reacionários, porque eram homens honrados, eram ajudados em suas campanhas eleitorais por empresários que confiavam neles. Hoje, os empresários se elegem a si mesmos, nem precisam de um lobby, porque eles são seu próprio lobby de representação, de defesa do latifúndio e dos mais variados grupos de interesse corporativo" (página 283/4).

Belas reflexões!

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