sexta-feira, 1 de março de 2013

A Sucessão Papal. 6 - Vista pelo Cinema.

Se eu fosse um programador de cinema, colocaria em cartaz imediatamente o filme do italiano Nanni Moretti, Habemus Papam. Como estamos em tempo de forte apelo para o cinema, em virtude das escolhas para o Oscar e como estamos também em tempos de sucessão papal, creio que isso despertaria um grande interesse. Colocaria em cartaz o Habemus papam por ser um filme extraordinário, que aborda a questão, simultaneamente com delicadeza e humor, sem escracho. Com muito humor e sensibilidade aborda o tema da responsabilidade da tarefa de dirigir mentes e almas. 

As questões papais, aliadas as questões políticas do Estado do Vaticano sempre estiveram presentes no cinema, especialmente nos tempos mais recentes. O primeiro destes filmes que lembro é As Sandálias do Pescador. O filme é uma adaptação do livro de Morris West, lançado em 1963 e levado ao cinema em 1968. O cenário do filme envolve a sucessão papal e os bastidores do Vaticano, em meio ao auge da guerra fria. Anthony Quinn interpreta um papa vindo do bloco soviético.É tempo de rever. O filme é facilmente encontrável, coisa de Lojas Americanas... Saraiva.

Certamente o filme que causou maior furor, não em nível popular, foi o Poderoso Chefão, em sua terceira parte. O filme envolve o Vaticano, suas concessões (a ordem de San Sebastian) e relações com o crime organizado. O ponto mais picante do filme é o assassinato do papa João Paulo I, numa trama que envolve a máfia siciliana, o banco Ambrosiano, pertencente ao Vaticano e uma loja maçônica, P2. Também é boa horar de rever. A morte de João Paulo I é tida como uma morte natural, nos meios oficiais. É tema com forte teor explosivo.
Cartaz do filme O Poderoso Chefão, parte III, em que ocorre o assassinato de João Paulo I. 

Outro filme, envolvendo mais a questão religiosa do que propriamente a sucessão papal é o best seller de Dan Brown levado ao cinema. Me interessei pelo livro e depois vi o filme, interessado na abordagem que ele fazia do Concílio de Niceia. Toda a trama do filme conduz ao seu final para a revelação de que Jesus fora casado com Madalena e que teve outros irmãos. O filme ganhou um forte apelo promocional com a recomendação da Igreja ao boicote do filme.

Sem dúvida nenhuma que o melhor filme sobre o tema é Habemus Papam. O filme é de 2012 e é dirigido por Nanni Moretti, um dos maiores nomes do cinema italiano atual. Ele também interpreta o psicanalista que irá tratar do papa e entreter os cardeais, na infinitamente longa dúvida do papa em aparecer para a multidão concentrada na praça de São Pedro.


Cena do filme Habemus papam. O papa e as suas dúvidas diante das responsabilidades de sua função.

A trama envolve diretamente a sucessão papal. Após vários escrutínios é escolhido um cardeal francês ((interpretado por Michel Picolli), que não pensara na possibilidade de ser eleito. Atordoado no seu primeiro momento, aceita a missão, para no momento seguinte entrar em profunda crise de dúvida. Fico imaginando o horto das oliveiras... Afasta de mim esta responsabilidade... E o eleito não aparece na janela do Vaticano para a solene aclamação papal.

O inusitado e o inesperado é concebido no imaginário de Nanni Moretti, que lança mão do tratamento psicanalítico para o papa em dúvida e para os cardeais atônitos e colocados a anos luz de distância do mundo. Aos cardeais  oferece o entretenimento, mas aos problemas do papa e aos seus próprios, ele não consegue dar uma solução plausível. Diante das tremendas responsabilidades diante da missão, de ser mestre, indutor e condutor de almas e mentes ele estremece e opta pela renúncia. As dúvidas prevalecem sobre a verdade.

O filme é de um ateu, mas não ausente dos problemas deste mundo. Muito se tem falado das diferentes possibilidades de condução dos destinos do catolicismo. Se manter rígido na doutrina, abrir-se para os problemas da atualidade, chamar um novo concílio... O tempo o dirá.

Sobre a sucessão real, aquela que irá se realizar agora em março, encontrei uma frase extremamente significativa, que passo a partilhar. É de autoria de Fernando Altemeyer Jr. publicada na Folha. Depois de pedir a urgente canonização da irmã Dorothy Stang ele pede: "Um papa maestro de orquestra e não um virtuose solitário de um único instrumento". Ao mesmo tempo, Leonardo Boff clama por um papa "mais pastor que professor - não um homem da instituição Igreja, mas um representante de Jesus que disse 'Se alguém vem a mim eu não mandarei embora' (João 6, 37) podia ser um homoafetivo, uma prostituta, um transexual".

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