sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Mensagem de Feliz Ano Novo.

Pensando numa mensagem de fim de ano, lembrei-me de uma aula de abertura de um ano letivo. Revirando minhas agendas a localizei. A agenda é de 1994. É a seguinte:

"Se pudesse viver novamente minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais... correria mais riscos, faria mais viagens, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios"

"Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem ter um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda chuva e um para quedas. Se voltasse a viver, viajaria mais leve. Começaria a andar descalço, no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono".

Tenho anotado na agenda que isso é de Jorge Luís Borges, citado por Clóvis Rossi. Por um ano novo mais moleque, era o título. Na mesma agenda encontrei anotado o seguinte:

"Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós
Então está tudo dito
E é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
De música - ternura e aventura".

Tá combinado - de Caetano Veloso. Vai mais um aperitivo. Esse é de Niemeyer, das Curvas do Tempo. É sabido que ele não gostava de andar de avião. Daí vem o seguinte:

"Fiz muitas viagens entre o Brasil, a Europa e os Estados Unidos. Não gostava de andar de avião. De navio, eram 10 dias de férias no mar imenso, sem telefone, inteiramente livre.
Gostava de olhar o mar, cada dia diferente. Mar imenso a lembrar a eternidade. Gostava daqueles dias de ócio, sem fazer nada, a ler, conversar, estirado nas cadeiras de bordo".

Vou viajar, vou contemplar entardeceres, vou ver o mar. Vou ver as cachaçarias de Paraty. Vou me entregar ao ócio, sem ter medo de que ele seja a oficina de satanás. A todos desejo um ano novo repleto de ócio, de tempo livre e, absolutamente sem culpa.

Esta foi a minha mensagem para o ano de 2013. A repito integralmente para 2014, com o acréscimo de um texto apropriado para refletir em viradas de ano, de autoria de Mário de Andrade:

"Contei meus anos e descobri", escreveu Mário de Andrade "que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas... As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, roi o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos, que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir dos seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta viver o essencial". Viver é uma questão de paladar. Aprende-se a viver saboreando a vida.

E eu cá comigo, vou saboreando a vida, usufruindo do bem mais precioso, que é o meu tempo livre e a cada dia que passa, me apaixonando cada vez mais pelo humano e odiando, com uma uma intensidade muito mais profunda, tudo aquilo que é desumano. Gostaria de compartilhar com todos esta minha mensagem.


8 comentários:

  1. Li seu post no final do ano mas tive problemas com a conexão de internet. Então tento agora recuperar a "aura" que nos rodeia nos períodos de Natal e Novo Ano e lembrando Drummond "(...) Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente... Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. "
    Muitas leituras, muitas viagens, muitos post, e muitas cervejinhas geladas em 2014. Abraços, Saionara

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  2. Saionara, o dobro para você, de tudo o que está me desejando. Muito obrigado e grande abraço.

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  3. Linda mensagem professor Eloi! Obrigada! Obrigada por nos dar oportunidade de partilhar de seu vasto conhecimento. Desejo a você e seus familiares: FELICIDADE, SAÚDE, PAZ, SUCESSO e que você continue sempre assim com essa essência maravilhosa. Feliz 2016

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  4. Muito obrigado Marlene e retribuo os votos em dobro. Eu gosto muito dessa mensagem. Que brote o humano.

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  5. Obrigada pela mensagem inspiradora, é tão bela que vou fazer uns recortes e postar, não havia sentido vontade ainda de dizer algo para esse início de 2016. Com a admiração e carinho de sempre, desejo-lhe muita paz e momentos como você tanto gosta, sempre com total saúde e muitos textos no facebook/blog, os quais gosto tanto de ler! Super abraço!

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  6. Meus agradecimentos pelo elogioso e estimulador comentário. É um incentivo para continuar o trabalho. E assim vamos levando a vida. Que brote o humano.

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  7. Pedro Eloi, mensagem sempre atual. Sua postagem é mais que inspiradora para fechar o balanço de 2017 e esperar de braços abertos o 2018. Sabemos, será de luta árdua, até pelo mais básico, mas enfrentaremos com mais conhecimento, boa parte proporcionado por você. Bom foi ver que a postagem original é de 2013 e alegrar com o fato de que nesses anos posteriores até aqui, você viveu muito do que se prometeu, isso foi genial. Agora você dedica parte do seu ócio com indicações que, se bem refletidas, ajudam a chegar na idade de curtir o ócio sem culpas e com mais consciência sobre a realidade do mundo. A consciência ajuda a regar, assim acredito numa reação e que ainda conseguiremos evitar mais desumanização e fazer brotar mais o humano. Um grande Ano Novo para você nesse 2018.

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  8. Poxa, que bacana. Fiquei emocionado. Agradeço demais o seu generoso comentário. A vida necessita de um mínimo de coerência.

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