quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Viagem a Paraty. 5. - Reflexões para um Momento de Ócio

Enquanto a escuna parava na bela praia da Lula, o ócio me trouxe à tona algumas reflexões. Antes, na parada do aquário natural, observei os tripulantes do barco, amarrando-o na ponta de uma pedra. Mal o nosso saiu, já veio outro, aproveitando a mesma ponta da pedra. Como já falei em outro post, a praia da Lula, é uma praia litorânea, somente atingida de barco e é particular. É vigiada por um guardião, nada amistoso, mesmo trabalhando num pequeno paraíso.
Vista da praia da Lula, uma praia privada.

Olhando as diferentes placas procurei juntá-las, num exercício de reflexão. Como o tempo de espera  demorava, fui pensando. Era o meu tempo de culto ao ócio. A palavra escola, skholé em grego, remete para a palavra ócio. Escola significa, literalmente, o local onde se pratica o ócio. E o que se faz com o tempo de ócio? Talvez a gente nem esteja mais acostumado com isso, nos agitados tempos de hoje. Ócio é a palavra que se opõe a uma outra, o negócio, ou seja, o oposto do ócio. Negócio significa portanto, a negação do ócio, o tempo dedicado ao trabalho, o tempo necessário para ganhar a vida.

Assim, entre os gregos, o local do ócio era frequentado, isto é, a escola era frequentada por aqueles que dispunham de tempo livre, por aqueles que não precisavam empenhá-lo com o trabalho, com as coisas ligadas ao sustento material da vida. Tempo, portanto, de pessoas absolutamente privilegiadas. Esta situação provocou a formação da primeira grande doutrina pedagógica, a dos sofistas, que aproveitando-se do tempo livre, para a partir dele, estabelecer relações de poder, numa sociedade democrática. Argumentação e oratória passaram a ser a ocupação deste tempo livre, agora já transformado num tempo útil, um tempo de elaboração de poder. Por isso o tempo livre é tão temido. Na Idade média o sino... Na Revolução Industrial o relógio ponto...

Nos tempos modernos, nos anos quarenta do século XX, Adorno e Horkheimer escreveram um dos textos mais estudados nos cursos sérios de pós-graduação, que envolvem a formação humana e a comunicação. O texto se chama: - Indústria Cultural: O Esclarecimento como mistificação das massas -, contido no livro Dialética do Esclarecimento (Jorge Zahar). Nele aparece o conceito, já emitido no título, de indústria cultural. Numa interpretação mais ou menos livre, eu diria que o termo significa o sequestro do tempo livre, em tempos em que a comunicação virou sinônimo de entretenimento, usando os meios de comunicação de massa, que estavam surgindo. Adorno diz que esta indústria cultural veio substituir o papel que a religião exercia em tempos anteriores. Isso me lembra muito a minha mãe, a rezar o terço em qualquer minuto livre que ela tinha. A esta reza, existem hoje ocupações para o tempo livre bem mais interessantes, como as novelas e o futebol. Além de tomarem o tempo do momento do entretenimento, também ocupam  tempo de leituras (revistas) e de conversas. Por falar em indústria cultural, tivemos ontem, o reinício de um de seus maiores lixos.

Não posso deixar de citar o filme Fahrenheit, 451 de François Truffaut, baseado no livro homônimo de Ray Bradbury. Nele existe uma personagem, chamada Mildred, que é uma encarnação perfeita do que é a indústria cultura, pois é uma vítima dela. Tanto o livro, quanto o filme são ótimos.

 Não imaginei que eu fosse tão longe nessa elaboração. Mas vamos ao proposto. Não é dever de casa, não vale nota e nem haverá premiações. Apenas um exercício para o uso do tempo livre. Vejamos então as três fotografias com as suas placas:
Observem o escrito nesta placa: Propriedade Particular. 
Observem o escrito nesta placa: Deus abençoe este lar.
Vejam agora a terceira das placas: É proibido amarrar cabo na praia.

Junte as três placas e veja no que dá. Amanhã voltarei com um assunto mais ameno. O ranking das cachaças, onde entram cachaças de Paraty, mas predominantemente elas são mineiras.

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