terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Viagem a Paraty - RJ. - 4. Sim! Tem Cachaça no Paraíso.

Se Dante Alighieri não estivesse tão perturbado e se tivesse conhecido o sítio Santo Antônio, certamente o teria incluído na terceira parte de sua A Divina Comédia, em suas visões de paraíso. Ali, literalmente, existe um alambique na beira do mar, na praia e num cenário para lá de maravilhoso.
Vista do sítio Santo Antônio, onde é produzida a cachaça Maria Izabel. Cenário de Paraíso.

Maria Izabel é a proprietária do sítio e a produtora da famosa cachaça. Ela é famosa. Tem até vídeo produzido pela TV Folha. Em contato telefônico ela avisou que só atenderia depois das 11:00 horas e, lá fomos nós. O sítio fica na BR 101, na direção Rio de Janeiro, logo depois dos primeiros pardais. As indicações da internet não funcionam. Elas indicam os Km. da rodovia, mas esses indicadores simplesmente não existem. Tivemos que pedir informações por duas vezes. A estradinha que leva ao sítio é íngreme. Na rodovia não tem qualquer sinalização. "É uma forma de me preservar", diz  Maria Izabel.

Quando chegamos, ela estava tomando café com a família e gentilmente nos convidou para dele fazer parte. Agradecemos e aproveitamos para olhar o sítio. Tem uma piscina natural formada pelas águas que descem da serra e a vista para o mar é simplesmente encantadora, paradisíaca, como já afirmamos. Depois do café ela prontamente nos atendeu. Falei que já a conhecia pelo vídeo e ela me falou que ainda não o tinha visto. No alambique fiz a degustação. O meu filho, na condição de motorista, dela não pode participar. Passei vergonha, pois nada entendo de cachaça.
Vista do alambique onde é produzida a cachaça Maria Izabel.

A própria visita já tem um sabor todo especial. O lugar é histórico e a família tem tradição na cachaça. Ela conta que, já nos idos do 1700, tinha no local antepassados seus lidando com o produto. Ela exibe documentos históricos que remetem aos anos de 1860, envolvendo questões legais do engenho e acusando recebimentos de cargas do produto, cargas em lombo de burro.
Documentos históricos, datados nos anos da década de 1860, envolvendo o sítio, são ali exibidos.

Quanto a qualidade da cachaça, ela a atribui especialmente à questão geográfica, a proximidade do mar e o seu impacto na qualidade da cana, além, evidentemente, dos cuidados especiais na sua produção. O corte, a moagem no mesmo dia da colheita, para evitar acidez, e os outros cuidados com o aproveitamento da cana, a sua melhor parte e aqueles cuidados que os produtores bem conhecem. 
A degustação e as conversas com Maria Izabel sobre o sítio e sobre a cachaça.

A produção do alambique é relativamente pequena, segundo ela. Entre sete mil e sete mil e quinhentos litros por ano. A sua explicação para isso é muito bonita: "Se desse para fazer uma poupança para usar lá do outro lado, aí eu aumentaria a produção", conta ela. Mas os verdadeiros motivos estão ligados à qualidade do produto. "Se fosse para aumentar, eu teria que trabalhar muito. Eu acompanho tudo muito de perto. Eu prefiro a qualidade ao marketing e, eu fiz a escolha pela qualidade", confidencia ela Ela vende praticamente toda a produção no próprio sítio ou para os comerciantes de Paraty, por isso, não é uma cachaça fácil de ser encontrada no mercado.
Os tonéis em que a cachaça é envelhecida, de jequitibá ou de carvalho.

Toda a cachaça Maria Izabel é envelhecida, ou em tonéis de jequitibá, que produz a cachaça clara, a prata, ou em tonéis de carvalho, que dá a cor amarela, a ouro. Esta sempre é mais cara. O tempo de envelhecimento agrega bom valor ao produto. Também produz uma cachaça azulada, destilada com folhas de tangerina. A visita só poderia terminar em compras. Só para dar uma ideia sobre o valor da cachaça: a ouro, envelhecida por dois anos, tem um custo de R$ 60,00.

Foi uma das visitas mais agradáveis feitas em Paraty. Recomendo demais. Creio ser interessante agendar a visita antes, por telefone, mesmo por que assim ela te dá as explicações sobre o acesso a este pequeno paraíso. Seguramente, pela questão histórica e cultural e pela pessoa maravilhosamente simples que é Maria Izabel, o passeio merece a melhor qualificação, um passeio cinco estrelas.
 Como no post anterior, repetimos um coquetel com os produtos da marca Maria Izabel. Tem até uma charmosa canequinha para tomá-lo.

Gostei do tema da cachaça. Voltarei a ele com a publicação de, ao menos, dois dos rankings sobre as melhores marcas: o da revista Playboy e o da universidade da cachaça. Sobre Paraty ainda vou fazer um post, propondo uma reflexão para um dia de ócio.

Um comentário:

  1. Pai, o comentário "O meu filho, na condição de motorista, dela não pode participar. Passei vergonha, pois nada entendo de cachaça." me deixou na qualidade de entendedor de cachaças hein, mais um belo lugar, um paraíso realmente.

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