Hoje é o dia da revelação do Oscar. Muita expectativa acompanha o evento. Filmes muito bons e com bons esquemas promocionais fazem com que ninguém, que minimamente gosta de cinema, permaneça alheio ao evento. Já falei que todo o entorno aqui de casa espera pelo sucesso de Django Livre e já, antecipadamente, protestam pelo fato de que Tarantino não conste da lista dos indicados como melhor diretor.
Na sexta feira fui assistir a mais um filme, que achei interessante, entre os listados a ganhar Oscar. A Indomável Sonhadora, título brasileiro, não imune de críticas.(Beasts of the shoutern Wild, no original). Ele tem um apelo muito forte, que é a atuação de uma criança, uma menina de seis a oito anos, no papel principal e com indicação para melhor atriz, a Hushpuppy, ou simplesmente Puppy, interpretada por Quvenzhané Wallis.
Alguns pressupostos precisam ser colocados para melhor ver o filme. Ele mostra a visão de mundo de uma criança, o que não é uma tarefa fácil. O diretor, também um estreante, Benh Zeitlin, penetra no subjetivo da criança, povoada de mitos e imagens, para a partir dela mostrar o mundo em caos. O que trabalha é o imaginário da criança. O filme, por isso mesmo, não tem uma linearidade e vi algumas pessoas se retirarem do cinema durante a sua exibição.
O furacão Katrina sobre a cidade de Nova Orleans é outra referência necessária para a sua melhor compreensão. O filme trata da perda de pessoas e de lugares. Puppy sente constantemente a ausência de sua mãe e mostra uma convivência amorosamente complicada com o seu pai, Wink (Dwight Henry) um homem destinado a morrer, destinado a mais uma perda na vida da menina. Os programas de evacuação das áreas atingidas por uma grande tempestade (Katrina), põem os personagens diante da perda de seus espaços, em que teimam permanecer.
Duas grandes forças estão presentes ao longo de todo o filme: a força da natureza e a denúncia de sua deterioração, oferecendo assim, belas lições de ecologia e as dificuldades materiais daqueles que teimam em permanecer em seus espaços, a tal da Banheira. É neste momento que são mostradas as cenas mais humanas do filme, com muita ternura e carinho e acima de tudo muita solidariedade. Vivem entre restos de casa e de trailers, na mais absoluta miséria, porém irmanados.As filmagens foram feitas em uma loja de conveniência abandonada às margens de um rio, na Louisiana. Os personagens recorrem até à explosão de uma barragem para que as águas voltassem ao seu normal, e assim poderem permanecer no local.
Uma das cenas mais emocionantes é a da menina ganhando um colo e falando da necessidade deste colo, seja ele, de quem for. Queixa-se, na sua amargura infantil, de que nunca tivera colo ao longo de toda a sua vida de infância.A atuação da menina impressionou muito toda a crítica, que não lhe poupou elogios. Quanto ao diretor, o maior questionamento ao seu trabalho é feito, com relação ao imaginário da criança, a lançar o seu olhar sobre o mundo. Não seria, por acaso, uma visão já adulta?
Benh Zeitlin, o jovem diretor de A Indomável Sonhadora, seu primeiro longa.
O diretor, filho de folcloristas, tem formação em cinema e é visto como uma das grandes promessas dos novos tempos do cinema americano. Confere muito de literatura aos seus personagens. O filme tem quatro indicações a Oscar: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado e melhor atriz.
A concessão das estatuetas do Oscar tem em si muitas contradições. Uma delas, neste ano, está na escolha da melhor atriz. Que critérios tem os eleitores para estabelecer comparações ou diferenças entre os trabalhos de Quvenhzané Wallis e de Emmanuelle Riva? Quais seriam os parâmetros de comparação e de diferenciação? Tenho cá para mim que eles não existem. Tarefa difícil para decidir.
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