terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

No Rancho do Miro em Guaratuba.

Para quem não é de Curitiba ou do Paraná eu explico: Guaratuba é a maior praia do litoral paranaense. Os paranaenses tem um certo complexo de inferioridade, absolutamente injustificável, com relação ao seu litoral. Nele encontramos praias muito belas e uma baía de beleza inigualável, a baía de Paranaguá. Nela se encontram as famosas ilhas do Mel e a quase desértica Superagui. Na ilha de Superagui encontra-se um vegetal único no mundo, a cataia, da qual se aproveitam as folhas, que postas na cachaça, formam um dos melhores whiskys do mundo, o whisky caiçara. A baía de Guaratuba também é bonita, mas ainda é pouco explorada.

O complexo de inferioridade ao qual eu aludi, se dá em função da ampla preferência que os parananenses tem pelas praias catarinenses, especialmente Camboriú e Meia Praia. Devemos reconhecer que falta ainda muita infraestrutura para as praias do Paraná, especialmente no que se refere às rodovias. Em dias de movimento um pouco maior, os congestionamentos ocorrem com certeza absoluta. E eles são monumentais.
Vista da baía de Guaratuba.

Bem, quando o movimento maior do carnaval já tinha passado, fui com o meu filho para Guaratuba. Foi interessante.Tenho lá, junto com ele, um apartamento, o de número 14. Aproveito para convidar para uma passada por lá (Os curitibanos são famosos por convidarem as pessoas para que as visitem - mas nunca fornecem o endereço). E ... não esqueçam - o número do apartamento é 14. Eu ao menos dou o endereço. Aproveitamos para comer bastante camarão ao bafo, preparado de própria lavra. Este camarão é uma de nossas preferências.

Numa noite dessas fomos jantar no Rancho do Miro. Ele é conhecido como o seresteiro do litoral. Miro me lembra uma música gaúcha, da qual não me lembro o nome, que falava de um baile que só acabava, quando o gaiteiro repetisse música. Assim o baile durava a semana inteira e só terminava mesmo quando os estancieiros vinham buscar a peonada. Miro tem gravadas na memória mais de duas mil músicas. Miro está no litoral há muito tempo, tendo agora o seu próprio restaurante. A música dominante é a seresta. É uma fábula.

Numa das mesas estavam sentadas várias senhoras, que de imediato solicitaram músicas. É o costume da casa. O público pede e Miro canta as páginas musicais solicitadas. A primeira solicitação foi Altemar Dutra. Sentimental eu sou. Um largo sorriso se desenhou no rosto destas senhoras, o que comprova que o avançar dos anos não deforma rosto nenhum, quando este se reveste de um belo sorriso. As meninas se animaram e pediram mais música. Desta vez a solicitação foi para Cadeira Vazia. E lá veio este clássico do Lupicínio Rodrigues. Esta é a sua música que mais aprecio, obviamente que, depois do hino do Grêmio. Nada se iguala ao "Até a pé nós iremos".

Ouviram a música muito educadamente, mas ao seu final, mostrando um certo constrangimento, falaram que não era esta a cadeira vazia que queriam ouvir, que era outra. Aí foi um deus nos acuda e, não é que chegaram a um bom termo. A música que elas queriam ouvir era Naquela Mesa - a do Nelson Gonçalves. A lógica delas não estava errada. Se está faltando alguém naquela mesa..., poderia haver lá, uma cadeira vazia. Gostei. Fui beneficiado duas vezes.

E assim tivemos uma noite muito bonita, com a casa cheia e com boa música por um longo tempo. Locais assim são difíceis de se encontrar hoje em dia. Creio que não preciso dizer que os jovens lá não estavam. Estamos vivendo em outros tempos.
Busto em homenagem ao eterno seresteiro de Guaratuba, depois de ser chamado para cantar aos deuses.

Parece que Guaratuba gosta mesmo de seresta. Recebi do sr. Costa, da Bolão Imóveis, um convite para participar da inauguração de um busto, - na praça Cel. Alexandre Mafra, no domingo passado (17.02.2013) - de um eterno seresteiro Luizinho Cadedeia. No busto ele aparece com o seu violão e as inscrições são as seguintes: "Luiz Cunha Silveira "Luizinho" - Nascido nesta praça 17.02.1926 - Chamado a cantar aos deuses 01.07.1997. Homenagem do povo de Guaratuba ao nosso eterno "seresteiro". 17.02.2013". Bela homenagem. Isto é preservação da memória.


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