Como a simbologia é coisa interessante! Como os símbolos podem mudar e adquirir significados opostos em diferentes culturas! Creio que a serpente é um desses casos. É o animal mais sagrado que se possa imaginar na cultura grega, na cultura inca, bem como na filosofia de Nietzsche, por reperesentar o sentido da terra, na transmutação de valores em sua filosofia. Por outro lado é o animal mais abjeto que se possa imaginar na cultura cristã. Rastejar como a cobra rasteja, é uma das coisas mais abomináveis que pode acontecer ao ser humano.
Quando falamos de Delfos falamos de Pítias, a serpente. De Pítias vem a palavra pitonisa, aquela que prevê o futuro. Por que ela prevê o futuro? Porque ausculta a terra. Junta com águas sulfurosas e vapores vindos da terra e o sussurar de alguns ventos e, ... está criado o mito. Esculápio ou Asclépio é o pai da medicina grega. Ela é essencialmente natural, é terra, é chão. E, quem melhor conhece a terra é a serpente. Daí para a simbologia é um passo só. A serpente, por ser a que melhor se relaciona com a terra, passa a ser símbolo da farmácia e da medicina. Em outras palavras: a cura depende do auscultar a terra, a natureza.
Já no cristianismo, não é preciso nenhum esforço para lembrar a sua satanização. É ela a culpada de todos os males. É ela o Epimeteu que abriu a caixa de Pandora, espalhando todos os males pelo mundo.
O que me leva a escrever esse texto, no entanto, é um diálogo de mercadores que envolve a serpente. Esse diálogo está no livro Os últimos dias de Pompéia de Edward Bulwer Lytton. Deixo os comentários para a imaginação do leitor. Vejamos:
"Os pompeianos não se preocupavam em observar as pessoas, ocupados apenas em satisfazer seus próprios desejos e ambições. Entretanto, nos olhos e na boca daquele homem havia uma expressão tão amarga e desdenhosa, contemplando os que subiam os degraus do templo, que um mercador perguntou ao joalheiro que o acompanhava:
- Quem é esse indivíduo com aparência de filósofo?
- Chama-se Olinto - replicou o joalheiro. - Faz-se passar por Nazareno.
- Quer dizer, cristão, não é.
- Exatamente.
- Seita temível! - murmurou o mercador, estremecendo levemente. - Ouvi dizer que quando se reunem à noite, dão início às cerimônias sacrificando um ser humano. Que me diz? Soube também que praticam a igualdade de bens... Miseráveis! Igualdade de bens! Que seria de nós, mercadores e joalheiros, se todos praticassem a igualdade de bens?
- Tem razão, querido amigo - afirmou o joalheiro. - Seria terrível. Além disso eles nunca usam jóias. Eles detestam a serpente e, como não deve ignorar, em Pompéia todos os nossos adornos mais caros tem essa forma".
A presença da serpente, o animal mais sagrado da mitologia greco-romana, numa pintura em Pompéia.
Como um olhar para o mundo está contaminado pela cultura e por interesses próprios!
a SERPENTE ACABOU SENDO SENDO A CULPADA DE TODOS OS MALES OQUE É BOM FICOU PARA DEUS E OQUE NÃO PRESTA PARA A POBRE DA SERPENTE MAS NÂO DISEM QUE ELE FOI QUEM CRIOU TUDO ? PORQUE CRIOU A SERPENTE ?
ResponderExcluirIdeologia sem inimigo não funciona. Catecismos católicos falam mais do demônio do que de Deus. Obrigado pelo comentário, seu Arnaldo.
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