quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Diário de uma Viagem. Pádua - San Marino e Gubbio.

O dia nos reservava um perigo enorme. Visitaríamos a cidade de Pádua, a terra onde viveu grande parte de sua vida e morreu Santo Antônio, o santo casamenteiro. Segundo Samuel, o guia, o santo mais perigoso que existe, exatamente, por ser o santo casamenteiro. Ele também nos comentava a máxima filosófica do motorista do ônibus: "Por que eu vou desgraçar a vida de uma só, se a tantas posso tornar felizes". Brincadeiras a parte, Pádua é uma importante cidade, ainda na região do Vêneto, de mais de 210.000 habitantes e sede de uma das mais antigas e mais famosas universidades do mundo. Ela foi fundada em 1222.
Pádua é dos mais imporantes centros de turismo religioso. Santo Antônio lhe dá essa condição.

Como Pádua não fica longe de Veneza, ali chegamos bem cedo. Entramos na cidade, com os pontos turísticos a serem visitados bem anotados. Entramos pela porta, junto a qual o ônibus nos deixara. Havia uma feira em que já deu vontade de ficar. Mas a primeira visita seria a da Basílica de Santo Antônio. Santo Antônio de Pádua é o mesmo que o Santo Antônio de Lisboa, que é a cidade de seu nascimento. Ele viveu entre 1195 e 1231.
A fama de casamenteiro não deriva de seus sermões a respeito de casamento, mas da fama de sua ajuda para moças pobres arranjarem dotes ou enxoval para a sua realização. Duas histórias estão relacionadas com essa sua fama: A primeira, uma moça pobre de Nápoles, que após muitas orações, recebe do santo um papel para ser entregue a um comerciante para trocá-lo por moedas de prata. Pensando no peso insignificante do papel resolveu atender o pedido. Para surpresa sua, o pagamento corresponderia a 400 escudos de prata. lembrou-se então que ele os havia prometido ao santo e, deu-os à moça, que assim pode se casar.
Vista de frente da Basílica de Santo Antônio.

A outra história está relacionada a uma moça belíssima que, no entanto, não arrumava pretendentes. Cansada de rezar para o santo, joga fora a sua imagem e atinge um belo jovem. Este vai lhe devolver a imagem e, imediatamente, diante de tanta beleza, se apaixona por ela. Na Basílica estão os restos mortais do santo. A sua construção é feita em diferentes momentos, entre 1232 e 1310 e uma reconstrução em 1522. É essa que lhe dá a fisionomia de hoje. O seu estilo retrata essas diferentes etapas. Ali está presente o românico, o gótico e o bizantino. Giotto e Danatello estão presentes em seu interior.
Na praça da Basílica também se encontra um dos monumentos mais famosos da cidade, presente em quase todos os livros didáticos sobre o Renascimento. A famosa estátua equestre de Donatello, esculpida em bronze. 
Creio que você se lembra de ter visto esta estátua em seu livro de história.

A estátua é uma homanagem de Donatello, a um líder militar regional, chamado Gattalamata. Depois de Pádua andamos bastante, para chegarmos a outro lugar muito curioso. A Sereníssima República de San Marino, a mais antiga República do mundo. Ela foi fundada em 301, por Marinus de Rab, que dali expulsou inimigos, se tornou santo e, padroeiro do lugar. A Constituição desta república data de 1600 e ela possui um regime parlamentar. É governada de forma semelhante a Roma, na sua era republicana: um conselho e dois regentes, com mandato de seis meses.
Uma vista da Sereníssima República de San Marino.
San Marino situa-se no alto de uma montanha dos Apeninos, próxima a região da Emília Romagna e da Marche. A cidade mais próxima é a de Rimini. Sua principal atividade econômica é o turismo. Lá são cobrados impostos apenas sobre o consumo. É o paraíso de compras dos russos, que chegam aos milhares, pelo aeroporto de Rimini.
Alguns dados interessantes sobre esse país: Possui, segundo consegui apurar, uns 30.000 habitantes. O guia nos havia falado em 60.000. Possui uma das mais elevadas rendas per capita do mundo, um dos menores exércitos e em compensação, uma das piores seleções de futebol. E pasmem: Não possui nenhum tipo de dívida e possui orçamento superavitário. É de fazer muita inveja.
Vista do Museu della Tortura, na República de San Marino.

A extensão territorial do país é de 62 Km². Ocupa ainda uma data no calendário da fórmula um, o Grande prêmio de San Marino, mas não tem autódromo. A corrida é realizada em Ìmola, cidade de 65.000 habitantes, na Emília Romagna. À corrida se realiza no autódromo Enzo e Dino Ferrari. Foi nesse autódromo que Airton Senna teve o seu acidente fatal. 
Flores numa pracinha, no alto da cidade de San Marino, capital de San Marino.

Falando em San Marino um pergunta se torna óbvia. Por que este país mantem a sua autonomia? Por que é um país independente? Não existe uma explicação plausível. Conta-se que Garibaldi esteve aí refugiado em 1849, em briga pela expulsão dos austríacos da região e que talvez, em função disso, não a incorporou ao território italiano, por ocasião de sua unificação. Já em 1862, após ter recusado a adesão, firma um pacto de amizade com a Itália, que já foi renovado inúmeras vezes.
O próximo destino nosso seria Gubbio, mas antes passamos por um lugar muito famoso, o túnel de Furlo, na via Flamínia, construído no ano de 76, pelo imperador Vespasiano. O túnel, construído num ano só, tem as seguintes dimensões: 38 metros de comprimento, 5,5 de largura e 6 de altura. Ligava Roma (distante a 250 quilômetros) ao mar Adriático.
Gubbio já se situa na Umbria. Tem 30.000 habitantes. Seu padroeiro é Santo Ubaldo. É uma das cidades medievais mais bem conservadas. Antes da unificação italiana, pertencia aos Estados Pontifícios.
Uma vista da cidade de Gubbio.

Esta cidade não traz boas lembranças, ao menos para o futebol brasileiro. Foi nessa cidade que a seleção brasileira fez os treinos preparatórios para a copa de 1990, na Itália. Foi o período em que o futebol arte do Brasil chegou ao seu apogeu. Lazaroni era o técnico. Este período, em que Collor ainda era o presidente, ficou conhecido como "a era Dunga".
Só para melhorar um pouco: pernoitaríamos em Perugia, a cidade do chocolate, do jazz e do vinho.

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