terça-feira, 6 de novembro de 2012

Diário de uma Viagem. Orta de San Giulio - Lago Maggiore - Bérgamo.

O dia prometia. Com certeza, que em termos de paisagens, foi o melhor dia. Andamos pela Lombardia e pelo Piemonte, na transição entre os montes Apeninos e os Alpes e entre a Itália e a Suíça. Lagos e suas ilhas e, montanhas nos arredores, formaram as belas paisagens. Passamos por regiões das quais não se fala praticamente.
Isola de San Giulio, no lago de Orta, na cidadezinha de Orta de san Giulio.

A nossa visita à região dos Lagos se iniciou na pequenina cidade de Orta de san Giulio, no Piemonte, com algo em torno de 1.100 habitantes. O seu encanto é o lago com o mesmo nome, que tem uma pequena ilha, onde se situa a basílica em homenagem a San Giulio, o padroeiro da cidade. San Giulio era um evangelizador grego do século IV, que tornou a região habitável, afastando dela, sapos, cobras, dragões e outros monstros. A basílica ocupa toda a ilha. Cinco minutos de barco a separam da cidadezinha. Nos arredores, encravados nas montanhas, existem mais de 20 monastérios.
Vista do lago e da ilha, a partir do ponto de partida dos barcos.

O lugar é muito tranquilo e foi visitado por Nietzsche e por Lou Salomé, possivelmente a única mulher pela qual o filósofo se apaixonou.
Ainda na região dos lagos fomos para a bela cidade de Stressa, onde fica o segundo lago da Itália, o lago Maggiore, 80% italiano e 20% suíço. A cidade tem em torno de 5.000 habitantes e é um dos balneáreos de lago mais badalados da Itália. Imagina os hotéis. A grande atração da cidade são as ilhas Borromeas, que são três: Isola Bella, que pertence à família dos Borromeus, a Isola dei Pescatori e a isola Madre. A ida a essas ilhas, nos custou um pacote extra, 35 euros, plenamente justificados. Incluiu uma visita com guia local ao Palácio dos Borromeus.
Vista do pátio interno e dos jardins do Palácio Borromeu, na isola Bella, no lago maggiore.

Almoçamos na isola dei Pescatori e visitamos o Palácio Borromeu. É inacreditável que exista uma propriedade particular com tanto luxo. Trata-se de uma família que tem papas e santos na família. Seguramente isso não é para todos. O Palácio teve a sua construção iniciada em 1632 e teve a sua inauguração, com os jardins e tudo em 1671.
O santo da família é São Carlos. Toda a sua história está ligada com a detenção ao avanço do protestantismo na região da Lombardia e pela aplicação prática da reformas introduzidas pelo Concílio de trento, o concílio da contra reforma (1545-1563). Os herdeiros exploram o Palácio com o turismo e ainda ocupam privadamente dois de seus andares, com 13 aposentos. Os seus salões são ainda usados, hoje em dia, em grandes eventos diplomáticos. Dizem que Napoleão e Josefina fizeram uma reconciliação nesse Palácio. A família dos Borromeus está hoje interligada, por casamentos, com a família Agnelli, os donos da Fiat.
Outra vista dos jardins do Palácio Borromeu.

Nada pode ser fotografado no interior do Palácio. Me lembro de presentes dados pelo papa para a família, sendo que num deles mais de cem pessoas trabalharam nele, por dez anos. Na biblioteca tem um exemplar da primeira edição da Enciclopédia, aquela do Diderot e D'Alembert. Foi um dos locias que mais valeu a pena de ser visitado.
Mas termináríamos o dia, ainda na Lombardia, na cidade de Bérgamo, onde pela primeira vimos na Itália, a tão famosa polenta.
Olha aí a Polenta! Mas foi a única vez que a vimos. Isso foi na cidade de Bérgamo.

Bérgamo tem em torno de 120.000 habitantes e é cheia de história. Por ali andaram os etruscos, os romanos, os longobardos, os francos e Napoleão. Ela também era muito disputada pelos reinos de Veneza e de Milão. Existem praticamente duas cidades. a cidade alta, histórica e a cidade baixa, moderna. As duas cidades estão interligadas por um funiculari.
O Duomo da cidade de Bérgamo.
 
Bérgamo também se notabiliza por ter sido a cidade natal do papa João XXIII. O chamado "papa da bondade", que está enterrado na catedral. Ele se notabilizou pela sua humildade e pela convocação do Concílio Vaticano II, responsável pela "agiornamento" da igreja católica. Duas grandes marcas lhe são atribuídas: avanços na liberdade religiosa e a abertura para o ecumenismo. Em contrapartida, foi acusado pelos conservadores como um papa esquerdista e herege modernista. Até de anti-papa chegou a ser chamado. Notabilizou-se ainda por suas encíclicas, em que são abordadas as questões sociais.
Homenagem a João XXIII, na catedral de Bérgamo.

João XXIII também se notabilizou por ser o único papa, nos tempos modernos, que é de origem popular. Outra coisa notável é a praça, a Piazza dei Duomo. Nela são cultivadas flores e uma horta. A horta é de um capricho extraordinário. Precisa ver o tamanho das alfaces, dos pepinos, dos tomates e das beringelas. É algo totalmente diferente e muito bonito.
A beleza de uma horta em plena Piazza dei Duomo, em Bérgamo.

A cidade deixou belíssimas recordações. Particularmente, João XXIII mexeu com a minha memória. Tempos de formação. O dia seguinte nos reservava Verona e Veneza.





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