sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Diário de uma Viagem. - Florença

Seguramente a cidade que mais expectativas me gerou nesta viagem foi a cidade de Florença. Andar por onde andou Dante Alighieri, Bocaccio, Maquiavel, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Rafael, isso seria demais. Só que ficamos em Florença apenas uma tarde. Isso é quase nada, perante a importância toda que a cidade tem. Fizemos as visitas, quase que correndo. Percebi que muitas das fotos foram mal tiradas. É porque a guia ia correndo e eu tinha muito medo de me perder.
Florença fica distante de Roma, uns 300 quilômetros. Por isso chegamos aí por volta do meio dia. Começamos bem. Subimos a um morro para uma vista panorâmica. É impressionante. Daí dá para ver o quanto o Duomo é realmente grande, ele realmente ocupa o centro de toda a paisagem.
A cidade de Florença vista do alto de um mirante.

A viagem também teve as suas peculiaridades. O guia, agora era um espanhol, um basco, de fino humor e ironia. Nos deu um verdadeiro show de cultura italiana. Pelo que percebi, tanto o sonho de Dante, quanto o de Maquiavel, em torno da unificação italiana, ainda não está totalmente realizado. Pode ser um fato real, mas em termos de unidade efetiva, pouco existe. Podem contratar outro Virgílio para sedimentar esta unidade por um espírito patriótico. Nos falou que no sul domina a máfia e no norte os políticos. Deve dar muita diferença! Eles só se unem quando é para ir contra Roma. Essa é a única unanimidade que existe. Os bairrismos são fortíssimos, com um destaque todo especial para Nápoles. Nem uma língua nacional eles tem. Nos disse um garçom em Roma: eu não falo o italiano, eu falo o romano. E, com muito orgulho.
No mirante você já encontra uma cópia da estátua de Davi. A presença de réplicas é uma constante em toda a cidade.

Mais uma vez tivemos uma guia local. Iniciamos um tour de umas duas horas, começando pelo Duomo. Ele é maravilhoso e a cúpula rivaliza com São Pedro, construída posteriormente. O Duomo compõe-se de três partes: a catedral, o batistério e o campanário. O batistério é dos mais luxuosos. Nele se concentrava toda a riqueza e era a expressão de alegria pelo fato de a Igreja estar recebendo um novo cristão. Antes de ser batizado, ninguém podia entrar na igreja.
Vista da porta do batistério e do campanário do Duomo de Florença.
Do Duomo saímos pelo bairro Dante. Emocionante andar pelos mesmos lugares em que ele perambulava e ver a casa em que ele morava, o seu museu e a igreja onde está enterrada a sua amada Beatriz e, especialmente, ver todos os locais em que ele viveu todas as suas angústias. Lamentavelmente foi tudo rápido demais.

Uma placa indicando a direção para a Chiesa di Dante e outra indicando o local de sepultamento de Beatriz.

Do bairro de Dante rumamos para a Piazza della Signoria, o verdadeiro centro da cidade. Uma espécie de Boca Maldita, usando o comparativo curitibano. Tudo acontecia nesse local. Falar de Florença é falar dos Médici, especialmente de Cosimo. Nesta praça encontrava-se a estátua de Davi, esculpida por \Miguel Ângelo. Até 1873, a original. Depois foi substituída por uma cópia. Também tem uma estátua em que Davi vence o gigante Golias, simbolizando a humildade da cidade.
Uma réplica da estátua de Davi, na Piazza della Signoria.

Da praça seguimos, agora já margeando o rio Arno, o rio da vida e da morte de Florença, vida pela água e morte por suas enchentes, até a mais famosa de suas pontes. A Ponte Vecchio, cuja construção data de 1345. A ponte era um importante local de encontro de mercadores e que já em 1593 se tornou um ponto elegante, com os seus ourives e joalheiros. Até hoje a ponte é ocupada por joalherias. Na época do Renascimento o rio Arno era aquilo que hoje se chamaria de lixo a céu aberto.
Um dos cenários mais famosos de Florença. A Ponte Vechio.

Da Ponte Vechio voltamos para a praça do Duomo e estava oficialmente encerrado o nosso tour pela cidade de Florença. Andamos ainda mais pela cidade, voltando inclusive até a Ponte Vechio. Tudo está relativamente perto. Também foi o momento da compra de souvenirs. É óbvio que comprei um busto de Dante, que hoje enfeita a minha biblioteca.
Como o nosso hotel não ficava muito longe do centro histórico, resolvemos voltar a noite, para mais uma caminhada, ao menos pelas principais praças, mas dessa vez, quem nos atrapalhou foi a chuva.
Davi, o vencedor do gigante Golias, na Piazza della Signoria.

Florença é história e história é trânsito. Velhas forças que insistem em permancer e novas forças, qual água, querendo brotar. O velho, em Florença e, em Florença apenas por ser uma cidade protagonista, acontecia um movimento ou um fenômenoque era mundial. A nobreza parasitária e decadente sendo superada pelas forças emergentes de artesãos e comerciantes. Tudo comandado pelo financeiro, com a afirmação, já desde então, do sistema bancário.
Tudo isso exigia uma nova ordem política, fato que foi tão bem percebido por Maquiavel. A prosperidade nos negócios exige ordem e segurança. Quem faz negócios, não quer guerras e nem gosta de pagar impostos. Quer um poder forte, um poder que se imponha, um poder que resolva. A VIR, não a virtude cristã, mas a VIR da virilidade e da força. Estava surgindo o Estado Nação. Um pouco mais tarde é verdade. Já na época havia conservadores poderosos, lutando pela preservação do "status quo".
A parte interior da famosa cúpula do Duomo de Florença.

Me preparei para a viagem lendo um livro maravilhoso sobre o renascimento. Trata-se do volume V da História da Civilização - A Renascença - de Will Durant. No subtítulo do livro se lê: a história da civilização na Itália do nascimento de Petrarca à morte de Ticiano - 1304 a 1576. Agora comprei o DVD O Renascimento - A era dos Médici. O DVD é pura e simplesmente um documentário de 255 minutos dirigido por Roberto Rossellini. Já vi o o primeiro episódio. Irei comentar. A visita aos museus fica para uma próxima oportunidade.
Uma palavrinha sobre a Toscana, da qual Florença é a capital. A sua paisagem é realmente linda. Pegamos tudo num tom amarelado, da palhada do milho e do trigo colhido. Uma presença constante são os ciprestes. É interessante dar uma olhada no mito de Ciprácios. Como hoje é dia de finados, lembrei disso. Os ciprestes são as árvores dos cemitérios.

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