sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Gonzaga - De pai para filho.

Antes de mais nada, um filme absolutamente imperdível. O filme é de Breno Silveira, o mesmo de 2 filhos de Francisco. Como esse país é fabuloso em número de grandes personagens. Fui ao cinema ontem a tarde, em cinema de rede, não aqueles de espaços culturais. A sessão começou no horário de 15:50 hs. Não é necessário dizer que não havia quase ninguém. O filme é tão bom, que mesmo assim duas pessoas saíram durante a apresentação. Em compensação também vi pai e filho, este com uns dez anos, assistindo ao mesmo do começo ao fim.
Do melhor do cinema brasileiro.

Tive a felicidade de conhecer pessoalmente o velho Lua. Foi em Umuarama, numa campanha política. José Hélio Mazorra era candidato a prefeito e o Dr. Cantarelli, era um médico pernambucano, amigo do rei do baião, que fez a mediação. O homem ficou uns três dias na cidade lotando comícios. A impressão que dava, era a vitória certa de Mazorra na eleição. Porém, na época, João Cioni, um rezador de ave marias na hora do ângelus, numa rádio local, era imbatível. O povo ia ver mesmo o Gonzagão. Pouco depois Cioni teria o seu mandato cassado.

Quanto ao Gonzaguinha, dele tenho quase todos os discos e, lembro do dia de tristeza que foi o de sua morte, num acidente numa estrada, na região de Pato Branco, aqui no Paraná. No imaginário, não cabia a ideia de que um deles não poderia ser feliz. Eram pessoas de sucesso absoluto e incontestável.
Agora, quando o Lua completaria cem anos vem o filme revelador. Gonzaguinha puxa a história. De gravador em punho, vai atrás do pai em busca de suas memórias.

Gonzagão é praticamente tocado de casa, após a tentativa de envolvimento com a filha de um coronel e uma surra corretiva da mãe. Passa pelo exército, tem um reecontro com o pai, (sanfoneiro e consertador de sanfonas) mas acaba no Rio de Janeiro, no morro de São Carlos. Encontrou mulher nos ambientes que frequentava. Nasce o Júnior. Luiz Gonzaga Júnior.

A consolidação do sucesso não é coisa fácil. É reprovado em concurso de calouros, num programa de Ari Barroso (Que beleza de recomposição cultural do país), e no mesmo programa é aprovado e começa a ser conhecido, quando canta a música de sua terra. A sua mulher, mãe de Gonzaguinha, morre de tuberculose, doença que também acometeu o Júnior. As letras exigem a presença de compositor. Nasce a parceria com Humberto Teixeira.

A fama o leva de volta ao nordeste e a uma recomposição com a família. Ali nasce, a partir do grito/ conselho de um velho, - Luiz, respeita Januário, - uma de suas músicas de maior sucesso. De volta ao Rio, Gonzaga se casa com Helena e a vida de andante faz com que Helena se queixasse constantemente do velho. Um dos pivôs da discórdia era o Gonzaguinha, sempre relegado ao abandono. Ele acaba num internato.

A dramaticidade ganha força numa visita que Helena faz a Gonzaguinha e lhe fala das dificuldades que o velho estava passando. Isso marca o reencontro dos dois e o início narrativo do filme. O reencontro não tem nada de romântico. Duas personalidades fortes insistem em não se encontrar. Mesmo nessa força do drama o lado bom dos personagens sempre domina. Tem uma cena que é muito forte. Gonzaguinha, sabendo que o pai não tem dinheiro, o pede a ele de uma forma humilhante. Me dá aquilo que você sempre me deu, em vez de carinho.

E Gonzaga abre o coração num rasgo de sinceridade e de generosidade. Eu sou o homem bruto do sertão. Não tive formação... Muito lindo e comovente.

Sobre a formação! ah se o espírito da paideia grega tivesse prevalecido e se desenvolvido em nossa cultura. O desenvolvimento da arethé era o objetivo supremo da educação grega. Numa tradução livre da palavra, diria que ela significa excelência e, assim a educação teria como objetivo desenvolver todas as qualidades que existem no indivíduo até levá-lo ao seu estado de excelência, ou ao desenvolvimento máximo de suas qualidades. Quantos erros não seriam evitados, se as pessoas efetivamente tivessem formação até no limite de suas qualidades.

Um filme forte e como li num comentário em que a revista Cult, busca uma afirmação que seu diretor Breno Silveira, faz: "O cinema vive do conflito, não dos fatos.

Outra cena linda que mostra as discordâncias é com relação a ditadura militar. O velho vê com ela a ordem restabelecida, enquanto o filho via a liberdade tolhida. Haja distância.

De volta abro um e-mail recebido da Livraria da Travessa, com propaganda do livro O fole roncou, comemorativo ao centenário do Gonzagão, editado pela Jorge Zahar.

Volto a afirmação inicial. Um filme absolutamente imperdível.


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